Carolina Freitas, especial para o JÁ
O economista e pesquisador da Universidade de Campinas, Ricardo Amorim, mapeou o Brasil no Atlas da Exclusão Social. O estudo mostra a desigualdade das grandes – e mais ricas – cidades brasileiras. Os indicadores utilizados para a medição do índice de exclusão são pobreza, violência, escolaridade, alfabetização, desigualdade social, emprego formal e concentração de jovens. São Paulo é um dos locais que apresenta o maior abismo social entre ricos e pobres. “Nas periferias das grandes cidades, a violência é proporcional à pobreza”, observa Amorim.
O processo de desigualdade social como motor da violência se repete no Rio de Janeiro, confirma a antropóloga Alba Zaluar, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e uma das mais experientes estudiosas da violência urbana no país. Ela entende que a concentração populacional e a falta de infra-estrutura urbana são fatores que aumentam a tensão na Região Sudeste.
“As duas maiores metrópoles brasileiras partilharam, nas últimas décadas, os efeitos acumulados de uma urbanização desordenada, fruto de ondas desenvolvimentistas intermitentes, aliadas a uma política urbana inexistente ou insuficiente”, observa Alba, em seu artigo ‘Violência: pobreza ou fraqueza institucional?’.
O economista Ricardo Amorim acrescenta que o choque entre as classes sociais gera indignação, cobiça e, em última instância, a violência, traduzida em roubos, assaltos, homicídios e no crime organizado. “A sociedade nasce de direitos econômicos, então, quem tem dinheiro, tem cidadania”, explica.
O estudante universitário Robson Melo, 23, morador da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro, sente na pele essa lógica. “Sinto-me excluído diariamente. Mesmo fazendo uma faculdade e circulando em outras camadas sociais, sei que só circulo”, desabafa Robson. “Não consigo comprar os livros pedidos pelos professores, não tive a educação dos meus colegas, não sei outro idioma além do meu fraco português. Tudo faz parte de um mesmo jogo. Para que possa existir o rico, tem que existir o pobre. Sem um deles, não é mais possível tal distinção”, conclui.
Robson participa do conselho gestor da Associação Cultura, Arte e Comunicação Comunitária. A instituição oferece cursos ligados à mídia e cultura e abriga um cyber café. A equipe acredita na auto-gestão e na auto-sustentação como formas de promover o desenvolvimento local na maior favela da América Latina.
Ouvir a voz da comunidade é um bom começo para começar a diminuir a exclusão social. Mas, com o abismo social e cultural, não é tão simples reverter o quadro. O pesquisador Ricardo Amorim participou de projetos comunitários da prefeitura de São Paulo em locais violentos, como o Jardim Ângela, na Zona Sul da cidade. O programa esbarrou na desconfiança dos moradores. “Precisamos terminar com essa falsa integração social, impondo às comunidades a nossa visão de como os problemas devem ser enfrentados. Eles têm outros valores, que precisamos respeitar”, adverte Amorim.
A desigualdade como motor da violência
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