Na tarde de 18 de junho, justo dia em que a seleção brasileira enfrentava o México, na Copa do Mundo, foi divulgado o relatório das Forças Armadas negando a ocorrência de torturas em dependências militares durante a ditadura.
A manobra sorrateira deu certo: favorecida pela desatenção geral, a imprensa passou burocraticamente pelo assunto e, assim, passou praticamente em branco um gravíssimo precedente, um dos maiores atentados já praticados contra a memória nacional.
Esse foi o resgate que o repórter Luiz Cláudio Cunha fez e que o jornal JÁ está publicando. Além de esquadrinhar a papelada que os militares produziram – um insosso calhamaço de 445 páginas – Luiz Cláudio confrontou as suas conclusões com a farta documentação e testemunhos existentes sobre as prisões, torturas, mortes e desaparecimentos em instalações militares.
Havia um agravante na história: a atual presidente da Repúbica é uma ex-guerrilheira, presa e torturada justamente numa das sete instalações repressivas apontadas pela Comissão Nacional da Verdade.
Os generais, aparentemente, esqueceram desse detalhe comprometedor. Como dizer que não houve tortura no DOI-CODI de São Paulo se uma de suas sobreviventes é, hoje, a própria presidente da República e, portanto, comandante suprema das Forças Armadas?
Educada, a CNV nem listou o caso de Dilma Rousseff como evidência histórica da tortura. Mas a pergunta, se impõe: quem está mentindo? Dilma, que disse em depoimentos na Justiça que foi torturada ali mesmo, ou os generais, que negam ‘desvio de finalidade’ e torturas na Tutoia?
No momento em que o JÁ apresenta o seu novo site, o artigo de LCC expõe nossa preocupação editorial, que busca o conteúdo mais do que a forma, a reflexão mais do que a ligeireza, a profundidade mais do que a pressa, a informação mais do que a diversão, resgatando valores que o bom jornalismo de outrora acabou relegando na volúpia da tecnologia cada vez mais rápida, mais acelerada, mais superficial, mais dispersiva.
O JÁ estará sempre aberto a textos de qualidade — curtos ou longos — capazes de reviver o gosto da leitura e destacar a necessidade da informação.
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Precisam estar sempre a serviço do leitor, sempre respeitando sua inteligência e os valores da democracia. Nós, do JÁ, achamos que este longo artigo de reflexão de LCC é um roteiro para este novo caminho. Um caminho que queremos trilhar com você, leitor. (E.B.)
Editorial: A PATRIA ESTAVA DE CHUTEIRAS
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