Elmar Bones
Um instrumento primitivo dos gaúchos, que estava quase extinto, vai abrir as portas da feira que mostra os avanços da pecuária e da agricultura. Um concerto de gaita de oito baixos vai inaugurar a Expointer, em Esteio, no final de agosto. Essa ponte entre o passado e o futuro, entre a economia e a cultura, é obra do músico Renato Borghetti, o Borghettinho.
A “orquestra” que vai abrir a Expointer será formada por 40 gaiteiros mirins formados na Fábrica de Gaiteiros, projeto concebido e dirigido por ele. O projeto está completando cinco anos. Foi urdido nas andanças do músico.
Com uma carreira artística internacional alicerçada na gaita, que aprendeu a tocar aos 13 anos, Borghetti se deu conta de que o instrumento estava desaparecendo. O Rio Grande do Sul, que já tivera vinte fábricas de gaita, via as últimas fecharem as portas. Em consequência disso, quem se interessava pelo instrumento tinha que pagar bem caro.

Desapareceriam a gaita e os gaiteiros e, com ambos, todo um conhecimento e uma referência cultural que a sonoridade da velha gaita – de botão, de oito baixos ou diatônica – contém. Esse quadro inspirou o projeto.
Quando ele começou com sua Fábrica de Gaiteiros já não havia nenhuma gaita sendo produzida no país. Foi bem difícil encontrar não só mestres e artesãos para iniciar a produção dos instrumentos. Também eram escassos os professores capazes de ministrar um curso para dar formação básica a um instrumentista.
O projeto de Borghetti não teria passado de uma boa ideia se ele não tivesse encontrado o executivo Walter Lídio, presidente da CMPC. A indústria de celulose instalada em Guaiba é vizinha da Barra do Ribeiro, onde a família Borghetti tem um empreendimento turístico. Não foi difícil apresentar o projeto. Um dos orgulhos de Lídio é o bom relacionamento que a empresa mantém com as comunidades de seu entorno.
Ele percebeu o alcance cultural do projeto de Borghetti e fez uma exigência apenas: que se usasse madeira de eucalipto para a fabricação das gaitas.
Foi preciso pesquisar para achar, no Sul da Bahia, um tipo de eucalipto cuja madeira não empena quando cortada em lâminas. Com o apoio da empresa, que banca o custo de produção das gaitas e paga os professores, as aulas puderam começar, quando a escola estadual Augusto Meyer, em Guaíba cedeu um espaço.
Hoje são oito escolas em sete cidades, com mais de 200 alunos de 7 a 15 anos de idade, e tem fila para entrar nos cursos. Mais de 500 alunos passaram pelos cursos nestes cinco anos e, segundo Borghetti, dá para tirar uma centena que “só com a gaita garante um baile”. Os 40 que vão tocar na Expointer saem desse time.
A fábrica, na Barra do Ribeiro, trabalha em função da demanda das escolas. As escolas abrem inscrições e fazem uma seleção. A prefeitura dá o local, o Instituto Renato Borghetti fornece os instrumentos e o professor.
Um novo apoiador acaba de se engajar no projeto. A Thyssen, empresa alemã de elevadores instalada em Guaíba, vai patrocinar o projeto. O apoio vai permitir a instalação do primeiro curso em Santa Catarina, em Lajes, em parceria com o SESC.
A velha gaita de oito baixos sobe ao palco na Expointer
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