
Naira Hofmeister
Depois de dez anos afastada do centro, a Tribo de Atuadores Oi Nóis Aqui Traveiz conseguiu liberação de um terreno e vai voltar à Cidade Baixa, local onde criou a Terreira da Tribo, em 1984 e de onde foi expulsa, apesar das manifestações populares favoráveis a sua permanência. Atualmente, a sede do grupo fica no bairro Navegantes. “Solidariedade e ética não se agradece, se reconhece. É um grande gesto da Prefeitura para com a Tribo”, celebra Tânia Farias, uma das integrantes da trupe.
Parte das comemorações do trigésimo aniversário do grupo, no dia 31 de março, já vão acontecer no terreno doado, na esquina da Aureliano de Figueiredo Pinto com João Alfredo. O início das obras do teatro, no entanto, não está previsto pois depende de parcerias com empresas privadas para sair do papel.
Sandra Steil não viveu o cotidiano da Tribo na Cidade Baixa, mas está ansiosa por levar as malas para o bairro. “Para a gente é muito importante o contato físico, o ambiente. Fazemos Teatro de Rua, mesmo se for num lugar fechado”, acredita.
A expectativa é que a experiências com o novo público, da Cidade Baixa, onde, esperam, haja a mesma receptividade que em Navegantes.
“Estamos com pena de sair de lá, pois a comunidade promoveu uma forte interação com a Tribo nesses anos”, observa Pedro D’Camillis. A região é periférica, ocupada por fábricas, indústrias e moradores geralmente excluídos dos circuitos culturais da cidade. “Freqüentaram as oficinas, assistiram aos espetáculos e cresceram como comunidade”, relata.
Público alvo: o vizinho
Comemorando 20 anos de existência da Cia Stravaganza – que há dez anos mantém o Studio Stravaganza na Olinto de Oliveira, no Santana –, a diretora Adriane Mótola não hesita em afirmar que o público alvo do grupo é a comunidade.“Fazemos espetáculos para os moradores do bairro, são aqueles que precisam conhecer e freqüentar”, acredita.
Ela não faz propaganda na TV. Sua divulgação está em cada esquina do bairro Santana, na conversa do butiquim, nos olhos das crianças da Vila Planetário. “O teatro é uma atividade transformadora, um processo que começa na sala de espetáculos e se espalha sem parar”.
A relação com a Vila Planetário é, de fato, de boa vizinhança. Ao contrário do que diria o senso comum, a atividade constante da Vila protege os freqüentadores do teatro. Mas isso é fruto da integração que a companhia promoveu com os moradores do local. “Depois que os pagantes entram, abrimos as portas do Studio para eles, de graça”.
O resultado é ilustrado por histórias como a do grupo de meninos que entregou à uma senhora que saía do teatro, as calotas do seu carro. “Disseram que acharam na esquina”, ri Adriane. “No teatro eles são iguais aos outros, por isso a violência é desnecessária”, conclui.
Duas mostras de repertório, ainda sem data, vão marcar as comemorações do aniversário. E em abril, estréia o novo espetáculo da companhia, A Comédia dos Erros.
Clube de Cultura quer nova chance
Há cerca de quarenta anos, 600 pessoas se aglomeravam no Clube de Cultura para ouvir Vinícius de Morais tocar violão. O compositor estava em Porto Alegre fugindo das ameaças do governo militar. “Ele não queria aparecer de jeito nenhum, mas o convencemos”, lembra o guardião-mor do espaço cultural, Hans Baumann, que administra o Clube desde 1964. O único pagamento exigido por Vinícius foi uma garrafa de uísque.
Assim como ele, Elis Regina, Bixo da Seda e Jorge Furtado estiveram no palco que deve passar por uma reforma em breve. Baumann planeja arrecadar R$ 800 mil para trocar as estruturas do telhado, iluminação, som, palco e cadeiras. “Só a cultura é capaz de promover uma revolução pacífica”, acredita.
O primeiro passo foi firmar parceira com o diretor Reissoli Moreira, que está montando um espetáculo com estréia prevista para abril com atores formados no Clube. A primeira seleção de atores aconteceu em novembro e outro curso está em andamento.
O diretor busca empresas interessadas em vincular suas marcas à cultura. Já tem a promessa do Arroz Namorado para patrocinar a montagem de João e o Pé de Feijão, mas precisa de mais apoiadores, que vai buscar entre os vizinhos.
“Como o espaço é do bairro, nada melhor do que o comércio local para dar força”, aposta. Em março, inicia a oficina de montagem, com duração de seis meses.


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