O segundo governo Dilma começou dias antes da posse, quando o ministro da Casa Civil, Aloisio Mercadante, saiu do remanso pós-eleitoral para anunciar o fim da farra do seguro-desemprego. Foi o primeiro apito do trem pilotado por Joaquim Levy, o novo ministro da Fazenda.
Ao acabar com a liberalização do mecanismo social que permitia aos trabalhadores malandros forçar a demissão após três meses de trabalho e assim ganhar dobrado nos três meses seguintes com a acumulação do salário-desemprego + um serviço sem carteira assinada, os novos maquinistas do trem Brasil já sinalizaram como será a viagem nos próximos tempos.
Se estávamos crescendo menos de 1% ao ano, agora provavelmente vamos para uma estagnação ou, quem sabe, uma recessão que pode durar um ano e meio, pelo menos. Boa viagem a todos.
É significativo o que aconteceu com o novo salário mínimo. Até alguns meses, admitia-se que ele seria arredondado para R$ 800. Semanas depois, o arredondamento caiu para R$ 790. Por fim, na hora H, ficou valendo R$ 788.
Segundo o Correio do Povo, apenas com esse enxugamento de 2 mirréis, o governo vai fazer uma economia anual de R$ R$ 800 milhões. O recado não podia ser mais claro: trabalhadores, aposentados, protejam suas bolsas.
Resta saber se um ano e meio é prazo suficiente para arrumar a casa nos seguintes aspectos principais: controle da inflação abaixo de 4,5% ao ano; ajustes nos gastos orçamentários; e aumento dos investimentos privados em capacidade produtiva e inovação tecnológica, o que sinaliza reciclagem de pessoal e provável redução de salários na base da economia.
Luz amarela no cruzamento
Onde quer que vá trabalhar ou descansar ao deixar o governo, o ex-ministro Guido Mantega carrega consigo a memória da mais longa e criativa gestão da economia brasileira.
De economista para economista, deve ter sido difícil para ele explicar ao novo maquinista, o ortodoxo Levy, como e por que fez tal ou qual manobra enquanto o trem precisava atravessar um trecho de neblina sem direito a apitar ou puxar o freio. Seus 100 meses de viagem podem render um comboio de livros. Dificil adivinhar se vão compor um relato coerente.
Ainda que o ministro da Fazenda não seja o senhor absoluto da economia, é ele que detém uma das chaves do Tesouro. O problema do ministro das Finanças é que ele tem interlocutores muito poderosos.
O primeiro e mais imediato é um senhor chamado Orçamento. Pode-se enrolá-lo aqui e ali, mas é melhor não brigar com ele. O segundo é a Moeda, que tem vida própria e gosta de circular no mundo das finanças internacionais, embora não tenha cacife para ir à mesma boate frequentada pelo Dólar, o Euro, a Libra.
Como controlar os ricos brasileiros e até as classes médias que adoram Miami e outros centros de compras, lazer e negócios?
Por fim, convenhamos, o principal interlocutor do ministro-todo-poderoso é a Presidente, que não é de fritar bolinho em pouca banha. Nesse primeiro momento de governo, é ponto pacífico que Levy e Dilma precisam botar ordem na casa, promover os ajustes e melhorar os indicadores.
Podemos acreditar que Levy tem carta branca para promover o chamado choque de gestão (prometido pelo candidato que perdeu o trem na última estação – em Minas). Pode ser que lá por julho de 2016 as coisas já estejam melhores, mas não é certo que tudo aconteça conforme a previsão dos maquinistas – por bons malabaristas que pareçam, não são magos.
Nem quando o poderoso da Fazenda era Delfim Netto (e todos eram obrigados a lhe dizer amém, pois a ditadura era militar) a economia se comportou de acordo com o planejado. O que é mais ou menos certo é que a coisa tende a ficar mais difícil para quem vive de salário na base da pirâmide das rendas.
É consenso que, se a inflação é ruim, pior é a queda do crescimento econômico abaixo de zero. Preparemo-nos, pois, para os solavancos. Que se percam os colares, mas se salvem os pescoços.
Pela necessidade do ajuste econômico-financeiro, o próprio governo está obrigado a reduzir seus investimentos em obras públicas.
O que devia fazer em dois anos, talvez demore cinco. Teremos uma boa medida da redução do novo ritmo governamental em obras como a transposição das águas do rio São Francisco, que já anda devagar, mesmo constando como prioridade no Programa de Aceleração do Crescimento, o famoso PAC; ou a conclusão da ponte de Laguna (SC) na BR-101 Sul, cujo prazo de 36 meses acaba em maio de 2015.
Outro indicador do andamento da economia deve ser dado pela Petrobras, que vai reduzir seus investimentos, não apenas por causa da queda do preço do petróleo de US$ 100 para US$ 70 o barril de 159 litros, mas em consequência do abalo produzido em projetos alcançados pela Operação Lava Jato, que descobriu o mar de lama das empreiteiras responsáveis pelas principais obras públicas do país (sem esquecer que nove entre dez estrelas da construção pesada brasileira operam em outros países).
Além disso, pela força do mesmo jato, é provável que venha a cair temporariamente o volume de financiamentos do BNDES, que vem girando cerca de R$ 150 bilhões por ano. E também parece inevitável que se reduza o volume de operações da Caixa Econômica Federal no âmbito do programa Minha Casa, Minha Vida.
Por enquanto, apenas o Banco do Brasil não parece ter sido afetado pelas investigações em curso. Ou, seja, pelo menos o Agro e as Exportações estão a salvo da tempestade.
Abrindo o leque das dúvidas e indagações, pode-se perguntar como ficarão os investimentos da Eletrobrás, da Infraero, das Forças Armadas e de ministérios tradicionalmente detentores de grandes orçamentos, como os de Cidades, Integração Nacional e Transportes.
No mínimo, todos serão colocados sob rédea curta, pelo menos até que a Polícia Federal e o Ministério Público terminem de encaminhar ao Judiciário suas denúncias e descobertas, nos primeiros meses de 2015.
Será o momento de começar a saber quem lavou mais branco, quem levou mais propina e quem delatou mais e melhor. Por mais jato que se ponha na máquina judicial, um ano e meio será pouco tempo para lavar tanto roupa suja.
Há quem diga que “o país vai parar” com a prisão e condenação dos empreiteiros e seus cúmplices na administração pública. Quem diz isso duvida que o Brasil possa ser outra coisa além do país do futuro, cujo potencial se esvai pelo ralo da descrença e da desesperança a cada novo mandato presidencial.
Arrocho na economia começou antes da posse
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