Artista ou mago?

Naira Hofmeister

Tudo indicava que a chuvarada de domingo em Porto Alegre ia continuar noite adentro. Mas, como num passe de mágica, pouco antes do início da intervenção anunciada por Antoni Muntadas, às 19h, no Torreão da Santa Teresinha, as nuvens se dissiparam e o que ainda restava de raios de sol pôde entrar pelas “Janelas Abertas”, a criação conceitual do artista.

Quem foi ao local esperando ver a “performance” anunciada por um jornal da capital ou a mais nova criação de um vanguardista da arte contemporânea saiu decepcionado. Na sala do Torreão, nada além das 12 janelas, arqueadas e finas, escancaradas: a vista e os sons da rua, o vento soprando.

“Olhar pela janela, eu posso da minha casa”, esbravejou um espectador. E possivelmente essa era a proposta de Antoni Muntadas, que, pelo menos na última década, têm desenvolvido projetos a partir da frase “Atenção, percepção requer envolvimento”.

“Esse gesto de abrir as janelas é muito simples, mas compreende uma metáfora de sentir coisas que não estamos esperando. A mudança da luz, da temperatura, do cheiro, do espaço alteram a percepção”, esclareceu.

Simples ou não, a intervenção de Muntadas foi fruto de um longo processo de gestação. “A primeira vez que estive aqui foi em 2002 e saí já com essa idéia”, recordou. Muntadas só colocaria em prática a proposta se fosse mantida em segredo absoluto pelos curadores do Torreão.

“Foi um desafio e me lembrou muito uma obra de Marcel Duchamp, chamada Barulho Secreto”, comparou Elida Tessler, que organiza e escolhe as exposições que serão sediadas pelo espaço. Duchamp morreu em 1968, sem saber qual objeto seu marchand havia escondido dentro do cubo negro que ele chamou de Barulho Secreto.

Muntadas estava mais interessado em ouvir o que as pessoas tinham para falar do que, ele mesmo, explicar seu objetivo. “Seria um gesto contraditório porque a idéia é exatamente provocar uma reação, não induzi-la”.

Ainda assim, o artista fez questão de sublinhar que nesse caso especifico, atitude do espectador frente à obra de arte deve ser de uma certa passividade. “A pessoa não deve esperar que aconteça alguma coisa, possivelmente não vai acontecer. Ou vai… basta que dedique um tempo a ficar aqui, observando o que é natural mas, às vezes, imperceptível”.

Apesar das poucas dissidências, o público soube interpretar – e aproveitar – a proposta de Muntadas. “A obra de arte não tem que ser necessariamente material. Gostei muito da surpresa de não a encontrar aqui. Em compensação, há esse brilho especial da luz depois da chuva”, observou a também artista plástica Maria Luiza Sarmento.

O artista leva tão a sério a necessidade da observação do mundo exterior que recentemente, durante uma viagem que fez até Paris, recebeu um telefonema de um vizinho. “Deixei as janelas da casa de Veneza abertas durante esses dias que estive fora e, com as chuvas, diversos cômodos foram inundados”, ilustrou.

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