GERALDO HASSE
Com um atraso de quase um mês devido ao excesso de chuvas e outros distúrbios do clima, começou na segunda quinzena de janeiro a colheita de mel nos Campos de Cima da Serra.

Este ecossistema formado por pastagens e matas nativas propicia a produção, em pleno verão, do chamado “mel branco”, resultante das floradas de três árvores típicas da mata atlântica de altitude: carne-de-vaca, guaraperê e gramimunha.
Com abundantes flores brancas, as três são companheiras dos pinheirais de Cambará do Sul, São José dos Ausentes, Bom Jesus, Jaquirana e São Francisco de Paula.
Apesar das incertezas quanto ao volume de produção no final da safra, prevista para meados de fevereiro, a Associação dos Apicultores dos Campos de Cima da Serra está tão animada com o recente sucesso comercial do mel da região que entrou na Secretaria da Agricultura com um pedido de registro do “mel branco” como especialidade alimentar da zona mais fria do Rio Grande do Sul, onde se produz o queijo serrano (feito há 200 anos com leite cru de vacas mestiças).
O passo seguinte, que poderá levar anos para ser reconhecido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), será o selo de origem geográfica desse mel translúcido, muito doce e que cristaliza no inverno.
Este ano, por causa dos distúrbios climáticos, que obrigaram as abelhas a procurar as flores de outras plantas como a aroeira, o cambará, o cipó unha-de-gato, as vassouras do mato e, especialmente, a seiva da bracatinga, “o mel branco está saindo meio mesclado”, como disse em sua loja, em Cambará do Sul, a esposa do veterano apicultor Irineu Castilhos, dono do Apiário Cambará, que fora ao campo-mato “buscar mel” em suas colmeias.
A valorização do mel branco dos CCS incrementou a apicultura entre os agricultores da região e atraiu dezenas de praticantes da apicultura migratória do Rio Grande e de Santa Catarina.

Enquanto os gaúchos seguem liderando a produção brasileira de mel, os catarinenses vêm se destacando como os principais exportadores do produto. Todos eles, nativos ou egressos de fora, acostumaram-se a pagar aos proprietários pela colocação das caixas de abelhas em suas terras.
Paga-se em mel ou em dinheiro. Pagamentos adiantados não são incomuns. A base dos arrendamentos é 3 quilos de mel por colmeia por ano. Há casos em que os fazendeiros recebem até 30% da produção de mel.
Embora a apicultura tenha progredido como um bom negócio, ainda há proprietários rurais que, por não querer estranhos em seus domínios, não aceitam sequer conversar com apicultores.
Entre os diversos méis resultantes da extraordinária diversidade da flora do Rio Grande, o mel branco tem sido bem cotado nos últimos anos, graças à exportação e à presença de ecoturistas nos CCS, mas os maiores volumes de produção de mel ainda têm outras origens.

As principais variedades são os méis de eucalipto, de laranjeira e o silvestre, fruto de uma variada combinação de fontes de néctar encontradas pela abelhas em banhados, campos, matas e lavouras do território gaúcho.
“O primeiro mel exportado pelo Rio Grande foi o de angico, originários dos campos sujos do Alto Camaquã”, diz Anselmo Kuhh, presidente da Federação dos Apicultores do Rio Grande do Sul, que cita ainda outras variedades como o mel de quitoco, erva dos campos do litoral norte do Estado.
Ele lembra que no passado, na região das Missões, antes da proliferação da soja, era apreciado o mel de timbó, originário de uma árvore da mata atlântica. Ultimamente, começou a destacar-se no mercado um tipo de mel claro oriundo da flor da uva-do-Japão, uma árvore asiática invasora do mata atlântica das encostas da Serra Gaúcha.

“Eu acho que a uva japonesa já merece um rótulo de destaque”, diz Kuhn, que possui duas centenas de colmeias em Cambará do Sul e Jaquirana, onde comprou duas pequenas áreas de terra. Quando terminar a colheita do mel branco, ele vai levar suas caixas para os eucaliptais de Butiá, onde é um dos 160 apicultores parceiros da Celulose Riograndense.
Associação quer certificado de origem para o mel branco de Cima da Serra
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