Ato lembra estudante que subiu em árvore

Militantes da causa ambiental se reuniram nesta quarta-feira (25) em frente à Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para relembrar a ousada atitude do então estudante Carlos Dayrell que, 40 anos atrás, no mesmo local, subiu em uma tipuana para evitar sua derrubada – programada para dar lugar ao atual viaduto Dona Leopoldina.

“Foi um ato heroico”, elogiou o presidente da Agapan, entidade ambientalista que convocou o ato, Alfredo Gui Ferreira.

Um dos presentes na ação foiMarcos Saraçol, que secundou o protesto de Dayrell e fez companhia ao estudante no topo da tipuana. “Precisamos preservar as árvores para garantir nosso futuro”, declarou.

fev26-Tipuana40anos-AdrianeBertoglio

Além de marcar a passagem de quatro décadas do ato, que foi uma ação inédita e ganhou repercussão internacional, a intenção dos ambientalistas é questionar as políticas de expansão viária na cidade que determinam a extração de espécies vegetais.

“Decorridas quatro décadas deste gesto as árvores ainda estão lá. O viaduto também, evidenciando que a derrubada era desnecessária e que sempre existem alternativas inteligentes para os problemas sociais e ecológicos. Basta o poder público ter sensibilidade e vontade política”, justifica um manifesto publicado na página da entidade.
Lutz instigou Dayrell em reunião da Agapan
A mesma Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) que convocou o ato neste 2015 foi a entidade que provocou o universitário a tomar a atitude naquele 25 de fevereiro de 1971, em plena ditadura militar.
Em 1975, Dayrell havia sido instigado por José Lutzenberger a tomar de assalto a tipuana. Foi durante uma reunião da entidade, a primeira que frequentava, dias depois de ter conhecido alguns de seus integrantes.
No encontro, o debate se centrava em como sensibilizar a prefeitura de Porto Alegre, na época comandada por Telmo Thompson Flores, sobre as podas e derrubadas de árvores para a construção de grandes obras viárias. O corte das tipuanas estava agendado para a manhã seguinte, época de férias da Universidade, para não chamar atenção.
A Agapan havia distribuído um manifesto em todos os jornais da Capital, mas nenhum fez eco das ideias dos ambientalistas. “Olha, só tem uma saída. Vocês, os jovens amanhã vão para lá e subam nas árvores”, sugeriu Lutz ao novato, sem levar muito a sério a si mesmo – conforme o depoimento de Augusto Carneiro no livro Pioneiros da Ecologia (JÁ Editores, 2007).
Dayrell não apenas seguiu a sugestão de Lutz como ganhou a companhia de outros universitários – Marcos Saraçol e Teresa Jardim, que também escalaram a árvore. Outros ficaram em solo, apoiando com cartazes escritos à mão. Muitos foram espancados pela polícia, que ainda levou quatro pessoas presas, incluindo jornalistas que cobriam o ato.
Entidade denuncia “política arboricida” em Porto Alegre
Para a Agapan, Porto Alegre leva a cabo em seus dias atuais uma “política arboricida”. A entidade cita inúmeros eventos recentes em que exemplares de árvores foram suprimidos das ruas da Capital para dar lugar a obras viárias.
É o caso da duplicação da Av. Edvaldo Pereira Paiva, cuja defesa do conjunto de vegetais na Orla do Guaíba gerou um acampamento ao lado da Câmara Municipal desfeito em uma madrugada em ação da Brigada Militar; do corte de 30 árvores para a construção da trincheira da Anita, no bairro Bela Vista; e do desmatamento do terreno do Hospital de Clínicas para a construção de um estacionamento e de um novo prédio.
“Esses fatos exemplificam o retrocesso político da questão ecológica, o que conspira contra a sobrevivência da civilização e a verdadeira sustentabilidade planetária”, concluem os ambientalistas na carta.
Fotos: Agapan (arquivo e Adriane Bertoglio)

Adquira nossas publicações

texto asjjsa akskalsa

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *