Autor: Elmar Bones

  • Médicos residentes paralisam por melhores condições de trabalho

    Hospitais de todo o Brasil terão nesta quinta-feira (15) seu atendimento prejudicado: trata-se da paralisação nacional dos médicos residentes que lutam pela valorização da categoria. “Existe uma cultura de que o residente ainda é um estudante de medicina, apesar de já estar formado”, explica Guilherme Pesce, um dos líderes do movimento no Hospital de Pronto Socorro.
    Eles cumprem uma exaustiva carga horária de até 80 horas semanais, enquanto o previsto por lei é de 60 horas por semana. O valor da bolsa-auxílio também está sendo questionado: ao invés dos atuais quatro reais por hora, os residentes estão pleiteando um aumento para seis reais a hora trabalhada.
    Segundo os manifestantes, cerca de 80% dos atendimentos de emergência, da UTI e pronto-atendimento são realizados pela residência e, em alguns setores, essa participação chega a ser de quase 100%. “Na verdade os médicos contratados dão apenas a supervisão”, explica Pesce.
    No HPS os manifestantes ainda chamam a atenção para o fato de ser o único hospital brasileiro que possui residência em medicina de emergência. “Queremos que a emergência seja uma especialidade médica”, diz Pesce, citando o exemplo dos Estados Unidos que, desde 1970, percebeu que a falta de preparo dos médicos para o atendimento emergencial custava a vida de muitas pessoas.
    Para marcar a paralisação nacional em Porto Alegre, estão programadas para esta quinta-feira (15), uma assembléia com todos os residentes de Porto Alegre, no Hospital de Clínicas e um mutirão de atendimento à população, a partir das 15h, no Parque da Redenção. Além de esclarecimentos sobre medicina preventiva, os residentes irão medir a pressão e as taxas de glicose.

  • O valor da Semana Farroupilha

    Roque Jacoby – Secretário da Cultura do Rio Grande do Sul
    A Semana Farroupilha,  no ano em que comemoramos os 170 anos da eclosão da epopéia dos farrapos,  evoca-nos sentimentos muito profundos ligados ao amor que devotamos ao Rio Grande do Sul. Mesmo os gaúchos que migraram para outras querências, na busca  de sobrevivência em outras terras, e são muitos os rio-grandenses que procuraram diferentes destinos, não esquecem seu pago, e o  amam profundamente.
    O amor ao Rio Grande do Sul não abandona  os rio-grandenses, mesmo quando eles estão longe dos pampas. No município de Relvado, na região do Alto Taquari, por exemplo, a cada janeiro, em torno da realização de um rodeio, os exilados voluntários do Rio Grande do Sul que montaram churrascarias pelo mundo afora se reúnem para matar as saudades de suas famílias e dos costumes dos pampas, herdados por atavismo.
    E é na Semana Farroupilha que  o amor pelo Estado em que nascemos ou que nos acolheu com tanto carinho é expressado pelos desfiles em que cavalarianos, garbosos, traduzem, numa estética impecável, o orgulho de serem filhos do Rio Grande. E com que orgulho estufam o peito para proclamar que aqui nasceram…
    Esse é o momento em que vamos às ruas para mostrar um sentimento arraigado ao nosso inconsciente coletivo:  de gratidão, admiração e reconhecimento a todos os homens e mulheres que lutaram pelos ideais farroupilhas,  de que fosse respeitada nossa terra e de que não houvesse, por parte do Império, um centralismo político e econômico, que aparecia, por exemplo, na cobrança escorchante de impostos, retirados da produção do charque. E o Governo do Estado, por inspiração do governador Germano Rigotto, busca ressaltar muito essa data histórica, tão importante no calendário histórico, estimulando e realizando eventos que a valorizem.
    A bandeira do nosso Estado a que assistimos hasteada e desfraldada em todos nossos rincões  é  uma demonstração de que o pendão empunhado em 11 de setembro de 1836, quase um ano depois de iniciada a Revolução Farroupilha,  pelo general Antônio de Souza Neto para marcá-la como símbolo da República Rio-grandense, continua vivo em nosso coração.
    Pode ser vista como  um sonho  de liberdade e um anseio de que as decisões democráticas que os comandados do general Bento Gonçalves da Silva  procuravam defender em suas batalhas sejam hoje ampliadas, promovendo-se a inclusão social de milhões de brasileiros aos benefícios da realidade econômica.
    Que os ideais farroupilhas nos inspirem a  lutarmos para que essa intenção construa, de fato, uma sociedade brasileira mais fraterna e solidária para todos.

  • Acusados de atacar judeus obtém outra vitória na Justiça

    Expectativa no Fórum: processo de 2003 por agressão a punk deve ser suspenso (Fotos Helen Lopes)
    Guilherme Kolling
    Um dos indícios que levou a polícia a acusar Laureano Vieira Toscani, Valmir Machado Jr., Israel Andreotti da Silva e Leandro Braun de terem agredido três judeus no dia 8 de maio na Cidade Baixa foi o fato de todos serem reincidentes. Eles teriam participado de uma ação de um grupo skinhead, que se envolveu em uma briga com punks, em 2003.
    Os quatro passaram mais de 100 dias no Prédio Central não pela confusão com punks, mas por tentativa de homicídio na agressão aos judeus. Eles provaram ser inocentes e ganharam liberdade provisória em 25 de agosto.
    Neste terça-feira, 13 de setembro, conquistaram mais uma vitória no Fórum Central, desta vez relativa ao episódio de 2003. A juíza Vanderlei Teresinha Tremeia Kubiak e o promotor de justiça do Ministério Público, José Quintana, informaram que o processo deve ser suspenso assim que a Vara do Júri concluir a apuração e confirmar a inocência dos quatro no ataque aos judeus.
    Explica-se a relação entre os dois casos. “O processo de 2003 havia sido suspenso porque eles não tinham antecedentes. Como o grupo skinhead não se reunia mais, e todos voltaram a ter uma ocupação (trabalho, faculdade), considerou-se que eles estavam em recuperação. O processo seria extinto após dois anos. Mas antes disso eles foram acusados de tentativa de homicídio”, esclarece o promotor Quintana.
    Assim, o processo de 2003 foi reativado depois do caso da Cidade Baixa, levando o assunto para a 11a Vara Criminal. O inquérito aponta que a agressão ocorreu no dia 11 de julho de 2003, às 22h, quando oito skinheads se envolveram numa briga com punks, na avenida Independência. Todos foram indiciados por lesões corporais. Entre eles, Laureano, Valmir, Israel e Leandro.
    A retomada do caso previa para esta terça-feira, 13 de setembro, o depoimento das vítimas e dos acusados. Quatro punks chegaram a comparecer ao Fórum Central nesta tarde, mas foram liberados já que a audiência foi suspensa. Houve apenas uma breve sessão com os advogados, os quatro acusados, a juíza e o representante do Ministério Público.
    A magistrada concluiu o breve encontro justificando que, a partir das informações veiculadas na imprensa e com os novos fatos entregues à Justiça (no caso do ataque aos judeus na Cidade Baixa), “o melhor é suspender a sessão e aguardar a solução do outro processo”.
    Juíza aguarda decisão do outro processo para suspender o de 2003
    “Não faz mais sentido retomar o caso de 2003. O processo será suspenso automaticamente com a decisão da Vara do Júri, que exclui a culpa dos quatro”, afirmou o promotor Quintana. Nesse meio tempo, o grupo segue se apresentando a cada três meses à Justiça. Eles já cumpriram outra determinação – doar cestas básicas e agasalhos para instituições beneficentes.

  • Lançada Feira Internacional de Meio Ambiente 2006

    Carlos Matsubara
    Promovida pela Associação Bento-Gonçalvense de Proteção ao Ambiente Natural (Abepan), a Feira Internacional de Ecologia e Meio Ambiente (Fiema) vai reunir em Bento Gonçalves, fabricantes de máquinas, equipamentos, acessórios e produtos utilizados para fins ecológicos, além de instituições de pesquisa, fomento e desenvolvimento de projetos na área ambiental. Lançada ontem (13/09) no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre, a segunda edição da Fiema acontece de 3 a 6 de maio de 2006 no Parque de Eventos do município serrano.
    Conforme o presidente do evento, César Rubechini, a feira representa não apenas um incremento na economia, mas sobretudo uma prova de que o setor empresarial está consciente de que precisa adotar tecnologias limpas para garantir o futuro do planeta e a qualidade de vida.
    A expectativa é de reunir 300 expositores e atrair 16 mil visitantes. Para tanto foi firmado o convênio Al Invest, uma parceria com a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) e a Comunidade Européia. Com isso a Fiema espera pelo menos 25 empresas da Europa em estandes individuais e outras 10 em estande comunitário. “A estimativa de negócios gira em torno de 10 milhões”, destaca Rubechini.
    Edição 2006 da Fiema pode gerar R$ 10 milhões em negócios
    Economia de recursos chega a R$ 18 milhões/ano
    A preocupação da indústria brasileira em adotar procedimentos que auxiliam na preservação do meio ambiente tem crescido nos últimos anos. Os conceitos de ecoeficiência, desenvolvimento sustentável e produção mais limpa estão na agenda de grandes, médias e pequenas empresas do país.
    O relatório da Rede Brasileira de Produção + Limpa (P+L), coordenado pelo Centro Nacional de Tecnologias Limpas do Senai RS (CNTL), mostra que as 153 empresas que participam do programa conseguiram, juntas, reduzir em R$ 18 milhões os gastos anuais com matérias-primas, águas, energia e gás, entre 1999 e 2002. Além das empresas diretamente envolvidas no Programa do CNTL, inúmeras outras têm buscado assessorias e entidades ambientais para implementar processos que resultem em economia de recursos naturais, tratamento de efluente líquidos, redução de resíduos sólidos e diminuição de emissões atmosféricas.
    “Hoje existe uma ação proativa. Ao invés de cumprirem as normas ambientais, os empresários têm procurado tomar a iniciativa na questão da preservação”, ressalta a engenheira química e especialista em projetos de tratamento de resíduos industriais, Mariente de Carli.
    Segundo ela, hoje existiria uma nova mentalidade da indústria com relação ao ambiente, que exigiria uma conscientização e alteração de procedimentos habituais. “São variadas as iniciativas que podem ser adotadas por empresas para economizar os recursos naturais”, salienta. “Eliminar ou reduzir a geração de resíduos, fazer a coleta seletiva, reciclar materiais, tratar efluentes e transformar lixo orgânico para adubação do solo são algumas delas”, enumera

  • Entre Namíbia e Noruega

    Vilson Antonio Romero
    No sudoeste da África, em cerca de 825 mil km2, vivem mais de 1,9 milhões de pessoas, compartilhando seu espaço com dois grandes desertos, o da Namíbia e o de Kahlahari. Fronteiriça com Angola, Botswana, África do Sul, Zimbabwe e Zâmbia, e banhada pelo Oceano Atlântico, a República da Namíbia, com um PIB de US$ 9 bilhões, é o segundo maior produtor mundial de chumbo e possui expressivas reservas de urânio e diamantes.
    Mesmo tendo a menor densidade demográfica do planeta, é o país mais desigual do mundo, aliado à constatação de que aproximadamente 15% de sua população é soropositiva do HIV, chaga que assola o continente africano.
    Com muitas montanhas e um terço de seu território situado ao norte do Círculo Polar Ártico, mais precisamente na península escandinava, localizamos os mais de 4,5 milhões de habitantes, que ocupam os 386 mil Km2 da monarquia constitucional da Noruega. Costeados pela Rússia, Finlândia e Suécia e banhados pelo Mar do Norte e Oceano Atlântico, vivem 4,5 milhões de noruegueses, produzindo um PIB de US$ 152 bilhões. O país dos fiordes, do bacalhau, do sol da meia-noite e da aurora boreal destaca-se como uma das indústrias pesqueiras mais importantes do mundo, bem como grande exportador de gás natural, petróleo e carvão.
    Por que tudo isto? Porque a Namíbia foi apontada como a nação ocupante da 125ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano, divulgado pela ONU e a Noruega continua, pela quinta vez consecutiva, liderando a classificação, que considera dados de 2003.
    No meio destes dois países, encontramos o Brasil, na 63ª posição entre 177 nações analisadas. Em 8,5 milhões de Km2, mais de 184 milhões de pessoas produzem um PIB de mais de R$ 1,5 trilhão. Apesar disto, e sabedores que os números de 2004 e 2005, mais alvissareiros, com crescimento da economia, podem resultar em um novo e melhor enquadramento, há dados alarmantes: o Brasil “miserável” – 10% mais pobres – é o 6º mais pobre do mundo e a desigualdade nacional é a 8ª maior do planeta, somente superada, segundo a ONU, por Namíbia, Lesoto, Botswana, Serra Leoa, República Centro-Africana, Suazilândia e Guatemala.
    Por mais que o primeiro mandatário da Nação, impassível aos escândalos que pululam à sua volta, tenha dito, no dia da Pátria, que a economia, a indústria, o comércio, as exportações, o emprego, o salário, a transferência de renda para os mais pobres, tudo cresce em seu governo, paralelamente às quedas da inflação e do custo da cesta, muito ainda há a nos preocupar no desfraldar diário de nossa bandeira.
    Embora estejamos longe da Namíbia, com seus safáris, 300 dias de sol anuais e sua desigualdade, falta muito para chegarmos próximos ao reino da Noruega, suas 75 mil ilhas e o vento cortante das ruas de Oslo, a capital. O abismo entre ricos e pobres perdura como uma das maiores pragas a serem enfrentadas pelos governos e muito há a ser construído na direção de uma melhor qualidade de vida dos cidadãos brasileiros, como demonstram a ONU e suas estatísticas.
    …………………………………………
    (*) jornalista, administrador público, auditor fiscal da Receita Federal do Brasil, diretor de Direitos Sociais e Imprensa Livre da Associação Riograndense de Imprensa e consultor da Fundação Anfip de Estudos da Seguridade Social – E-mail: Vilson.romero@terra.com.br

  • Deputado quer reduzir exigências para estações rádio-base em Santa Catarina

    Por Francis França
    Tramita na Assembléia de Santa Catarina projeto de autoria do deputado Julio Garcia (PFL), reduzindo as exigências ambientais para a implantação de estações rádio-base no Estado.O projeto sugere que os artigos 3º, 4 º, e 8º da lei 12.864/2004 – que institui o licenciamento ambiental para as ERBs – sejam revogados.
    O artigo 3º estabelece que a ERB deve estar a, no mínimo, 30
    metros de distância do imóvel com quem fizer divisa. O artigo 4º exige
    licenciamento corretivo para as antenas instaladas anteriormente à lei, e
    o artigo 8º trata do formato da antena. Além disso, o projeto de lei
    altera o texto de outros três artigos.
    Pelo novo texto, as ERBs não precisariam mais apresentar Relatório de
    Impacto Ambiental para obter o licenciamento, bastaria um Relatório Ambiental Simplificado. Além disso, o órgão ambiental teria prazo máximo de 30 dias para dar a licença e, caso o órgão não se manifeste, a empresa poderia instalar a antena até a emissão do licenciamento ambiental, sem responsabilidade de observar os limites de exposição humana à radiação não-ionizante estabelecidos pela Anatel. O
    projeto de lei sugere, ainda, que a torre ou poste que servir de suporte à
    antena não esteja sujeito ao licenciamento ambiental.
    Para o Ministério Público Estadual, que lançou no dia 2 de setembro o 9º Programa de Prevenção e Repressão à Poluição Atmosférica, as ERBs são consideradas potencialmente poluentes e por isso sujeitas ao licenciamento ambiental. Mais, entende que se imóveis vizinhos a ERBs sofrerem desvalorização, a perda do proprietário deve ser indenizada.
    De acordo com o promotor Luciano Naschenweng, o MPE vai estabelecer diagnósticos e firmar Termos de Compromisso de Ajustamento de Conduta com quem estiver fora da lei. Segundo a Secretaria Municipal de Urbanismo e Serviços Públicos de Florianópolis (SUSP), na capital catarinense existe mais de uma centena de estações rádio-base.
    O número total de ERBs em todo o estado é incerto, porque, segundo o MPE, há falhas na fiscalização das antenas. “Não temos a menor idéia de quantas ERBs existem em Santa Catarina, nem
    onde estão instaladas”, diz Naschenweng.
    Divergências científicas
    De acordo com o professor Walter Carpes, do departamento de pós-graduação em Energia Elétrica da Universidade Federal de Santa Catarina, não há como comprovar que as ERBs causem males à saúde. “O Institute of Cancer Research divulgou uma pesquisa recentemente
    e comprovou que, em 10 anos de uso de celulares não foi registrado um
    único caso de câncer ou outra doença relacionada ao DNA por causa das
    ERBs. Além do mais, aos aparelhos celulares são muito mais nocivos do que as antenas, e as ondas de rádio muito mais intensas ainda”, diz Carpes.
    Para o engenheiro Gilberto Aguiar, chefe de gabinete da presidência das
    Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), a radiação não-ionizante
    emitida pelas ERBs não atua na parte intracelular. “Esse tipo de radiação tem freqüência alta, mas pequeno comprimento de onda, justamente o contrário da radiação de energia nuclear, por exemplo, que é ionizante. A radiação das ERBs não causa nenhum dano à célula”, diz
    Aguiar.
    Já o doutor Álvaro Salles, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que estuda as radiações emitidas por celulares desde 1993, diz que um dos efeitos já provado repetidas vezes é o que se chama de quebra simples e dupla da molécula de DNA, que poderia gerar um tumor.
    Diante das controvérsias, o Ministério Público de Santa Catarina baseia-se na teoria do risco para exigir a regulamentação ambiental das ERBs. “Esse projeto apresentado agora significa um retrocesso para uma regulamentação que finalmente chegou em 2004. É um lobby das empresas de telefonia celular para derrubar esta conquista”, diz o promotor Luciano Naschenweng.
    O deputado Julio Garcia estava viajando e não foi encontrado para falar
    sobre o assunto. Com intenção de frear o andamento do projeto de lei, que estava tramitando em regime de urgência, o deputado Paulo Accel (PT) pediu vistas do projeto e está com ele desde o dia 16 de agosto, Accel também não foi encontrado para falar sobre o projeto.

  • Carta de Barcelona

    Escrevi umas cartas de minha viajem a Itália, mas parece que o correio andou arisco e só uma delas chegou ao seu destino. De todas formas, o desocupado leitor não perdeu grande coisa.
    De volta a casa, retornam também as aventuras do cotidiano e o mês de setembro traz um pouco de tudo. É o começo do ano por aqui. A agenda política, por exemplo, está lotada. A luta contra o terrorismo (estamos no país de ETA) e a reforma dos estatutos das comunidades autônomas (sobretudo a catalana) são os dois assuntos predominantes nos debates e que não encontram nenhum tipo de consenso entre o governo socialista de Zapatero e a oposição conservadora-liberal liderada por Rajoy.
    A primeira reunião do ano entre os dois líderes acabou em rodas de imprensa em que cada qual reclamava das posturas alheias, sem espaço para a tão saludar autocrítica. O governo apoia que as comunidades autônomas, como Catalunha e País Vasco, aumentem a sua autonomia em relação ao governo de Madri (que a bem da verdade não é pequena) e mantém uma postura de ouvir ao governo vasco la luta para exterminar ao ETA. A oposição discorda disso por medo de que se rompa a unidade do estado espanhol e de tudo o mais que o governo tente colocar na agenda.
    Debates espanholes a parte, importantes países europeus estão as portas de suas eleições presidenciais. Alemanha escolhe, no próximo fim-de-semana, entre a manutenção da coalizão de centro-esquerda de verdes e os sociais-democratas de Schröder, e os democratas cristianos capitaneados pela favorita nas pesquisa de opinião Angela Merkel.
    Enquando Itália vai às urnas em outubro para optar entre o conservador Beslusconi e o ex-presidente da Comissão Européia, Romano Prodi que reúne um “frentão” de centro-esquerda. No outro lado da Europa, Ucrania está envolvida em uma crise de governo provocada pela corrupção galopante em todos os seus níveis. O presidente Yúshenko demitiu toda a equipe de assessores que haviam sido os protagonistas da recente Revolução Laranja. Lembram de um caso semelhante em algum outro país aí pela América?
    Rivadavia Severo, Jornalista

  • A reforma do goela-abaixo

    José Antonio Severo
    O modelo goela-abaixo de reforma política está sendo gestado no ventre da sociedade civil organizada, podendo ser editada antes do fim de mês, em tempo de validar um novo sistema eleitoral sem necessidade de uma mexida na Constituição. Assim como estão pensando os pais da pátria, ela poderá vir por decreto do Executivo, ou seja, uma Medida Provisória que depois vá para o Congresso. Assim simplifica-se o rito, que terá um papel meramente ratificador, votará de porteira fechada só para dar valor legal ao diploma.
    Para isto está se formando uma grande frente, liderada pelos bispos da Igreja Católica de Goias. Eles estiveram reunidos em Goiânia, longe dos holofotes, preparando o projeto e articulando um leque de apoio à proposta. Quando estiver concluída, uma massa de entidades de grande peso na sociedade, integrada pelos chefes católicos, protestantes, judeus e, a mais recente aquisição, muçulmanos; além desses, OAB , Fiesp, sindicatos etc etc..
    Na Praça dos Três Poderes, haverá um grupo de parlamentares, também engrossando o bloco. Esse grupo vai a palácio e oferece ao presidente Lula uma solução. O presidente, então, participará, teoricamente, apenas com sua assinatura para cumprir o rito legal, aceitando a pressão dessa força extra-constitucional. Aos poderes na Nação, caberá ratificar o projeto, que entra em vigor a tempo de reger as eleições de 2006.
    Resumo da ópera: As entidades respeitáveis da sociedade civil desenvolvem um projeto radical que jamais seria produzido dentro do Gongresso. O princípio é que o parlamento não pode criar nada nessa área. Tudo o que fizesse, não valeria, pois o legislativo estaria tão elameado que qualquer mudança, por mais profunda que fosse, seria posta sob suspeita pela opinião-pública, ou seja estaria contaminado pelo germe da ilegitimidade.
    Esta suspeita agravou-se com a recente aprovação, pelo Senado, de um texto que apresenta apenas mudanças cosméticas, sem abater os interesses eleitorais do baixo-clero, das corporações e seitas que se valem dos sistema proporcional para enfiar parlamentares nos congressos e assim tumultuar e descaraterizar a pureza da democracia representativa.
    Dizem os bispos que é preciso restabelecer a plenitude dos partidos porque eles são a essência da representativade. Não esqueçamos que nas ditaduras iluministas que foram tão populares no mundo durante a a primeira metade do Século XX ( como o Comunismo, o Nazismo, o Fascismo e, porque não dizer, o Castilhismo gaúcho), foram exercidas por partidos. Mesmo único, o partido governante era um partido, constituindo-se na única porta de entrada para militantes que quizessem participar da vida do estado. É isto que se pensa: restabelecer-se esse acesso único para representantes com mandato do povo junto ao aparelho de estado.
    Na nova lei as candidaturas seriam apresentadas em listas. Isto daria plenos poderes aos comandos partidários e diminuiria dramaticamente os parlamentares papa-votos, estranhos à vida partidária, que descaracterizaram o processo político brtasileiro, trazendo o parlamento à situação absurda em que se encontra. Enfim, reduzir-se o baixo-clero às suas reais proporções, mantendo-se acesso somente a líderes locais, nunca a religiosos, jogadores de futebol ou astros da mídia. O movimento dos bispos católicos articula-se com o grupo interpartidário que está trabalhando pela deposição do presidente da Câmara, Severino Cavalcantti. Uma nova mesa diretora, imune às pressões rasteiras, será necessária, pois vai cortar justamente no baixo-clero, a área de respiração para Severino.
    É provável que na semana que vem esse movimento chegue à grande mídia. Sua articulação vem tendo sucesso e os passos dados com segurança, pois a imprensa está preocupada com outros temas. Também por isto trabalhar-se longe dos caminhos trilhados pelos repórteres, que é um curto corredor de uns 50 metros, entre o Salão Verde da Câmara e o Túnel do Tempo, do Senado, onde jornalistas e políticos geram o noticiário que chega à opinião pública. Se ocorrer, será mais uma revolução à brasileira: em vez dos canhões, usa-se o telefone.
    A assessoria de imprensa da regional Sul 3 da CNBB informou que os bispos gaúchos desconhecem o tema. A reunião de Goiânia teve um caráter regional. Uma posição da CNBB só ocorre através do Conselho Permanente. Além disso, a assembléia geral da CNBB aconteceu em agosto, sem aprovar uma posição mais radical sobre a crise política do governo Lula.

  • Artistas apresentam lista de reinvindicações à Sedac

    Uma comissão de 10 pessoas representando 150 artistas do Movimento de Grupos de Investigação Cênica da cidade apresentou na manhã desta sexta-feira (09) uma lista de reivindicações ao secretário estadual da Cultura, Roque Jacoby.
    No começo da reunião o clima não foi dos melhores. O secretário Roque Jacoby chamou o grupo de “deselegante”. “Quando meus amigos vêm me visitar, eles avisam antes”, disse, referindo-se ao manifesto de terça-feira (06), quando mais de 50 artistas “dormiram” na recepção da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac).
    “Nossa intenção não é ser elegante”, rebateu Roberto Oliveira, do Depósito de Teatro, que falou em nome do grupo na reunião. O encontro havia sido agendado pelo secretário adjunto Victor Hugo no dia do manifesto.
    Jacoby ainda tentou desestabilizar a comissão, perguntando a Oliveira quem ele era. O diretor do Depósito de Teatro foi contundente:  “Faço teatro há 30 anos em Porto Alegre. Se o senhor não me conhece, é sinal de que sua Secretaria é mesmo inoperante”.
    Após a troca de farpas, o diálogo finalmente se estabeleceu. Roberto Oliveira apresentou uma lista extensa de solicitações e sugeriu prazos para que estas fossem cumpridas. Apontou a Coordenação de Artes Cênicas e o Iacen como inoperantes. “Se estes órgãos não podem se voltar para a cultura e não se preocupam com isso, então que fechem as portas e assumam que não tiveram competência para tanto”.
    As reclamações dos artistas giram em torno da inexistência de projetos por parte destas instituições. “Sabe-se da crise que afeta o Estado, mas sabemos também que quando há vontade política as coisas acontecem e o dinheiro aparece”, ressaltou Oliveira. Após a explanação do grupo, Jacoby disse que não iria “responder nada”. “Vou avaliar, e voltamos a nos encontrar”.
    Já estava encerrando a reunião quando Oliveira pediu para explicar a manifestação ocorrida no início da semana. “Estas solicitações estão ocorrendo porque nosso trabalho está sendo desconsiderado”. E acrescentou: “Estamos dispostos a continuar estas ações até que estas questões sejam atendidas”.
    O secretário Jacoby respondeu que vai estudar com atenção o pedido apresentado. “Vamos procurar saídas, mas têm exigências que talvez não tenhamos condições de atender”, adiantou. Disse ainda que apesar de não ter verbas, a Secretaria tem trabalhado muito.
    “A Sedac tem destinado bons recursos para o Iacen. No ano passado, esta foi a instituição que mais recebeu verba”. E antes de encerrar definitivamente o encontro se redimiu com o grupo: “Agradeço a maneira gentil e profissional que vocês fizeram suas reivindicações”.  E de forma amigável, agendou uma próxima reunião com a comissão, para o dia 26 de setembro, às 17h.
    Além de Jacoby, estavam presentes o músico Victor Hugo, diretor geral da Sedac, Eva Schull, diretora do Instituto Estadual de Artes Cênicas (Iacen) e Manoel Cláudio Borges, diretor administrativo da Secretaria, todos representando o Governo do Estado.
    Reivindicações do Movimento de Grupos de Investigação Cênica:
    1. Prestação de contas do que está sendo investido na Cultura. Prazo: 15 dias;
    2. Assinatura do convênio entre as secretarias de Cultura e de Saúde e o Hospital São Pedro. O documento asseguraria a presença dos grupos naquele espaço. A promessa foi feita pelo Governo há um ano e oito meses. Prazo: 15 dias;
    3. Localização e liberação de Espaços Públicos para serem ocupados e gerenciados por grupos de teatro e dança. Prazo: 15 dias;
    4. Programa de auxílio e fomento aos grupos que ocupam espaços de forma independente. Prazo: 15 dias;
    5. Lançamento de edital para nova edição do Prêmio de Incentivo ao Teatro. Prazo: 1º de novembro;
    6. Lançamento de edital para nova edição do Prêmio de Incentivo a Dança. Prazo: 1º de novembro;
    7. Lançamento de edital do Prêmio de Auxílio para ocupação do Teatro de Arena. Prazo: 1º de novembro;
    8. Revisão dos valores destes prêmios, cujo último ano (ainda não pago) foi 2002. Prazo: 1º de novembro;
    9. Lançamento de editais para ocupação dos Teatros da Casa de Cultura Mário Quintana e Teatro de Arena. Prazo: 15 de junho de 2006;
    10. Regulamentação, dotação orçamentária e aplicação do Fundo de Amparo à Cultura. Prazo: 15 de junho de 2006;
    11. “Moralização” da Lei de Incentivo à Cultura (LIC) (excluindo a captação e uso dos recursos advindos da LIC em projetos do Estado, e uso de recursos da LIC para projetos que trazem grupos de fora do estado, e cobram ingressos a preços inacessíveis);
    12. Fixação de uma parcela (1/3) do valor total de renúncia fiscal do Estado para o uso exclusivo em projetos de produção de espetáculos de teatro e dança;
    13. Criação de projetos e programas de circulação de espetáculos de teatro e dança para todo o estado do RS, através do Iacen. Prazo: 1º de novembro;
    14. Criação de programas de oficinas de teatro e dança para todo o estado do RS, através do Iacen. Prazo: 1º de novembro;
    15. Criação de projetos que visem ampliar o mercado de trabalho para artistas gaúchos, através do Iacen. Prazo: 1º de novembro;
    16. Criação de projetos de formação de platéia e incentivo a grupos teatrais do interior do estado, através do Iacen. Prazo: 1º de novembro.

  • Reunião pode decidir assentamentos em Campos Novos

    Carlos Matsubara

    Uma reunião entre o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e o consórcio Enercan, responsável pela Usina Hidrelétrica de Campos Novos, em Santa Catarina, pode resolver de vez o impasse com relação as famílias que foram deixadas de lados no projeto de assentamento do empreendimento.

    A informação foi dada nesta sexta-feira (9/9) pelo representante do MAB, Otacílio Mário Rosa, um dos convidados da mesa -redonda Hidrelétricas: As Lições Aprendidas, dentro da programação do II Fórum sobre o Impacto das Hidrelétricas na Bacia do Rio Uruguai, promovido pelo Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGa), Núcleo Amigos da Terra Brasil (NAT Brasil) e pelo Movimento SOS Rio Uruguai, na Faculdade de Direito da UFRGS, em Porto Alegre.

    Rosa e seus companheiros tentarão junto ao consórcio a indenização de pelo menos mais 260 famílias. A data e o local do embate ainda não estão definidos, mas o MAB pretende que seja realizado na próxima quarta-feira (14/9) na sede do Ministério Público Federal na cidade de Lages.

    A Enercan, consórcio formado pelas empresas Votorantim, Camargo Corrêa, Companhia Brasileira de Alumínio, CPFL e as estatais Celesc e Ceee, alega que cumpriu todas as exigências do estudo que indicou 680 famílias a serem assentadas. A versão do MAB é bem outra. Segundo Rosa, a Enercan teria indenizado apenas 250 delas.

    O conflito em Campos Novos rendeu páginas policiais. Em março deste ano, dez ativistas do movimento foram presos por formação de quadrilha e outras acusações promovidas pela empresa. Para o MAB, isso foi “um legítimo ataque aos direitos civis”.

    Na ocasião foram levados de suas casas, quando a polícia militar invadiu as residências durante a madrugada ameaçando prender as mulheres, caso a lideranças não se entregassem. “As prisões foram uma forma de perseguição aos líderes do Movimento”, afirma Rosa.

    Em Campos Novos, a floresta de araucária que existia já foi praticamente derrubada. O EIA-Rima da usina feito há 15 anos pela Magna Engenharia, de Porto Alegre, revelou a existência de apenas 162 km² de floresta ombrófila mista na vegetação original – dentro dela estão as araucárias.

    O EIA ainda constatou a existência de apenas uma espécie de cobra ameaçada de extinção, cujo habitat se foi junto com as araucárias. Também foram identificadas 178 espécies de aves na área, sendo 7% raras, 3% vulneráveis e 2% ameaçadas de extinção.