Autor: Higino Barros

  • Nova direção da Agapan quer vencer guerra de informação nas redes sociais

    Higino Barros
    “A Agapan é um milagre constante!”. Assim, em tom entusiasmado, que o novo presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, Francisco Milanez, eleito no final de junho, define a entidade. Novo? é a pergunta que se faz no caso, já que é a quinta vez que Milanez, arquiteto, biólogo e doutorando em Química da Vida e Saúde (UFRGS), assume o cargo. Pois é sua experiência de 45 anos de militância na Agapan que o autoriza a ser conduzido mais uma vez à função, pelo triênio 2017-2020.  Sua prioridade de gestão vai ser ganhar a guerra de informação que, na atualidade, é travada nas redes sociais contra os inimigos da causa ambiental. Vencida por enquanto, segundo ele, pelos agressores ao meio ambiente.
    “A Agapan está sempre se renovando, através de seus colaboradores, associados e simpatizantes. É essa massa crítica que nos dá sustentação. Compramos brigas sérias e vencemos contra grupos muito poderosos internacionais. Mas nos últimos dez anos fomos ficando para trás, já que demoramos um pouco a entrar no mundo digital, onde houve uma grande disseminação de sites falsos e organizações criadas para distorcer os fatos. Exemplo é que em Tupacirentã tem um grupo denominado Clube Amigos da Terra de Tupanciretã, aliado e defensor de práticas mais danosas ao meio ambiente. Um dos seus financiadores é a Monsanto. Esse pessoal é ativo nas redes sociais. Costumam espalhar notícias falsas, divulgar pesquisas mentirosas e atacar ambientalistas”, explica o presidente da Agapan.
    Bancada BBB
    Com o surgimento e a atuação agressiva da bancada BBB (Bala, Boi e Bíblia) no Congresso Nacional, formada por defensores do porte de arma, do agronegócio e dos parlamentares evangélicos, os danos ao meio ambiente se ampliaram muito. “A combinação de interesses de grupos conservadores vem destruindo conquistas populares que demoraram anos para ser obtidas. Em todos os setores da sociedade. Estamos sendo pautados pela destruição. Precisamos voltar a pautar as questões ambientais. Passar da postura de resistência para sermos mais protagonistas”, assegura Milanez.
    Para o presidente da Agapan uma forma de assegurar uma atuação mais pro ativa da entidade é ampliar as parcerias e contatos com as instituições de ensino, principalmente as Universidades. “Tanto o corpo docente como o discente são nossos interlocutores prioritários. E não é só na área ambiental, mas em setores como a Filosofia, as Artes, havendo campos transdisciplinares de atuação. Todas as experiências feitas nesse sentido deram ótimos resultados. Ampliamos muito o alcance e a interlocução com a sociedade”. Como resultado dessa prática, até o final do ano deverá ser feito um leilão de Artes Plásticas, com o tema da natureza, com obras que foram doadas para a Agapan. “Temos um acervo expressivo”, diz Milanez.
    Segundo ele, há dois movimentos paralelos na sociedade atual. Um de maior consciência com a necessidade de preservação ao meio ambiente e o outro de ataque à essa posição. A eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, financiado pela indústria bélica e pela de petróleo, é um sinal que a luta para os defensores da natureza enfrenta adversários poderosos.
    “Lógica dos governantes”
    De qualquer maneira, a causa ambiental sempre foi assim. De grande interesse e grandes grupos financeiros contra um punhado de idealistas e sonhadores, com os pés no chão.  Em nível mundial, nacional e regional. Aqui no nosso Estado, por exemplo, o governador Sartori foi recentemente ao Japão oferecer vantagens para atuação de multinacionais da indústria carbonífera. Desprezando a exploração da energia eólica, onde já temos experiência e um dos parques mais bem sucedidos do Brasil e a solar, que se tornou novamente competiva. São coisas assim, inexplicáveis, que move a lógica dos governantes. Mas vamos continuar atentos, críticos e ativos contra essa lógica de gestão que beneficia os interesses econômicos em detrimento do meio ambiente ”, conclui Francisco Milanez.
    Com 46 anos de atividades, a Agapan é a mais antiga organização de defesa ambiental do País. Foi fundada em Porto Alegre por um grupo de pioneiros aglutinados por José Lutzenberger e se tornou uma referência para o movimento ambientalista internacional.
     
     

  • Chapa 2 vence eleições do Cpers/ Sindicato

    A chapa 2, liderada pela professora Helenir Schürer, venceu as eleições do Cpers/Sindicato, com 18. 588  votos (55.42%). A vitória representou a reeleição da atual presidente da entidade, professora Helenir, que cumprirá mandato no período de 2017-2020.  Até o final da tarde da sexta-feira haviam sido computados 92.83% dos votos.
    Em segundo lugar ficou a chapa 1, liderada pela professora Rejane de Oliveira, com 12. 899 votos (38.46 %).  A chapa 4, liderada pelo professor Lucas Berton, atingiu 853 votod (2.54%) e a chapa 5, liderada pela professora Tania Mara Freitas, obteve 1.203 votos (3. 59% ).
    Houve ainda 853 votos nulos e 703 em branco. Além da eleição para a diretoria central foram eleitos as direções de 42 Núcleos do sindicato. A posse da chapa vencedora para a direção central ainda não está definida.

  • CPERS: quatro chapas disputam comando do maior sindicato gaúcho

    Higino Barros
    O símbolo do Cpers/ Sindicato, usado nas eleições para a entidade e realizadas nessa terça e quarta feira, 27 e 28 de junho, é um sino empunhado por mãos unidas, representando a unidade da categoria. Essa união, no entanto, tem sido apenas simbólica. Na prática, os professores gaúchos chegam ao pleito com seus representantes divididos, fragmentados e enfraquecidos diante do inimigo comum, o governo estadual.
    Será vencedor a chapa que fizer acima de 35% dos votos do primeiro turno. Caso nenhuma chapa alcance esse número será realizado segundo turno, em data a ser definida. Quem ganhar as eleições para o triênio 2017-2020 terá uma tarefa hercúlea. Apaziguar as disputas internas políticas entre as correntes que administram a entidade, continuar o enfrentamento ao governo Sartori e sinalizar mudanças há muito aguardadas pelo corpo docente da rede estadual de ensino.
    A entidade classista dos professores é o maior sindicato gaúcho. Estão aptos a votar cerca de 85 mil associados. O mais numeroso, o que mais arrecada (R$ 1.967.375,87, de janeiro a novembro de 2016) e o mais conhecido pela sociedade gaúcha. Nos últimos anos, agregou a esses atributos o que mais faz greve, o que mais é atacado pelos governo estaduais e o que é mais demonizado pelos veículos de Comunicação do Estado.
    Não há dúvida que a situação dos professores, do quadro de funcionários e por conseguinte, dos alunos e pais dos estudantes, foi se agravando com a conquista do governo do Estado por partidos de política liberais. Neles, o funcionalismo público, e em especial o magistério, passou a ser visto como peça secundária nas prioridades de gestão.
    O governo Temer, comprometido com uma pauta privatizante, agravou ainda mais a situação para os professores. Assim, o cenário é desafiador para todos, eleitores e eleitos. Com muitas divergências entre si, mas unidos em uma causa comum: tornar o professorado e o ensino público gaúcho vanguarda e protagonista da história, como foi em passado não tão distante.
    Quem concorre
    Quatro chapas concorrem à diretoria central para o triênio 2017- 2020. Há também eleição para as diretorias dos 42 Núcleos do Cpers.  Para a diretoria central disputam:
    Chapa 1, “A categoria em primeiro lugar- Unida para a Vitória-Oposição”, tendo à frente a professora Rejane Silva de Oliveira.
    Chapa 2, “Cpers unido e forte”, liderada pela professora Helenir Aguiar Schürer , que concorre à reeleição.
    Chapa 4, “Construção pela Base- por um Cpers organizado pela base e de luta pelo socialismo”, encabeçada pelo professor Lucas Cortozi Berton.
    Chapa 5, “Lutar sempre”, liderada pela professora Tânia Mara Magalhães Freitas.
    A chapa 1, é fruto de acordo entre o bloco MLS/DL/CEDS e bloco CS/MAIS/Alicerce/MES e tem vínculos com a CSP- Conlutas. Postula ser o grupo mais opocisionista na eleição.
    A chapa 2 é formada por blocos ligados à CUT e CTB e embora alegue não ter vínculo partidário, grande parte de seus representantes são ligados ao PT.  As chapas 4 e 5  têm protagonismo menor no pleito e alegam não ter vinculação com nenhum partido político.
    Greve, um capítulo à parte
    As greves do Cpers são um capítulo à parte na existência da população gaúcha que se serve do ensino público estadual. O sindicato comandou paralisações históricas no Rio Grande do Sul. Que se confundem com a trajetória da resistência à ditadura e com o processo de redemocratização do País. Mas que acima de tudo obtiveram e garantiram direitos e conquistas para a categoria, fruto de mobilizações, de pressão no Governo e na Assembleia Legislativa
    Na atualidade, essas paralisações não produzem o resultado pretendido, desgasta a categoria frente à opinião pública, divide colegas de profissão, mas é visto como a única saída possível, por seus dirigentes, no enfrentamento a sucessivos governos estaduais. As greves, em geral, são realizadas por cerca de 10% do quadro do magistério, de um total de 90 mil professores e funcionários.
    As razões para que os representantes dos professores lancem mão à greve são mais do que justas e algumas históricas. Todas as chapas que disputam as atuais eleições coincidem nas suas justificativas. Consideram a greve um recurso legítimo e legal para a obtenção de suas reivindicações e lutas. Ao longo do tempo tem sido essa a opção mais constante e a história tem demonstrado que mesmo não tendo a eficácia do passado, ela ainda é o recurso de maior repercussão junto ao governantes e à sociedade.
    ENTREVISTA
    O que representam as chapas e o que pensam seus candidatos
    Para saber o que representam as principais chapas à eleições do Cpers/Sindicato, o JÁ Porto Alegre, enviou um questionário a seus líderes. A representante da Chapa 5 não foi ouvida por concentrar sua campanha nas eleições dos Núcleos. A professora Neida Oliveira, liderança da chapa 3 que optou por disputar apenas os Núcleos mais históricos, foi ouvida por sua representatividade no sindicato.
    Respostas da professora Rejane de Oliveira- Chapa 1

    O que caracteriza a chapa 1? Por quais forças ela é formada?
    A Chapa 1 A Categoria em 1º Lugar! Unida para Lutar – Oposição é resultado de um esforço de unidade entre CSP CONLUTAS, INTERSINDICAL e outras organizações. Estamos juntos para fazer a luta contra qualquer governo que ataque a categoria, com autonomia e independência em relação a governos e partidos, que é como todo sindicato deve ser. Nossa chapa é formada por reconhecidos lutadores do CPERS, que já estiveram, em outras oportunidades, na Direção Central do Sindicato. Temos experiência em armar a luta, fazer o combate e derrotar os governos. Somos a chapa de oposição à atual Direção Central.
    Houve conversações com os componentes de outros grupos de oposição para a formação de uma frente para disputar a eleição do Cpers. Foram conversações demoradas, mas enfim concluídas em acordo. O bloco da CS, no entanto, ficou de fora dele. Como avalia o fato?
    A CS optou por disputar as eleições em alguns núcleos do CPERS e não estar na Direção Central. Em vários desses núcleos, contamos com o apoio das companheiras e companheiros da CS. Estaremos, cada vez mais, buscando a unidade de toda a categoria.
    Qual a avaliação que a chapa 1 faz da atual direção do Cpers?
    Os três anos da gestão atual do CPERS foram catastróficos para a categoria. Tivemos uma Direção fraca, que não disputou a versão do CPERS junto à sociedade, que não fez uma luta adequada contra o Governo Sartori. A Direção ainda freou a luta quando, na Assembleia Geral do dia 11 de setembro de 2015, nos impediu de seguir em greve e combater o Governo Sartori. Foi a primeira vez na história do CPERS que uma Assembleia teve seu resultado desrespeitado por uma Direção. Foram três anos de perda de direitos, salários congelados e parcelados mês a mês, 13º parcelado, Plano de Carreira ameaçado, aumento na alíquota de contribuição do IPE. Os trabalhadores em educação sofreram: contas atrasadas, desrespeito com a nossa profissão, perseguição política a educadores dentro de sala de aula. A Direção Central não teve capacidade de combater esses ataques. Isso colocou a categoria em um cenário muito difícil. A conjuntura do RS e do Brasil pede sindicatos combativos, que armem a luta e protejam seus colegas das retiradas de direitos que estamos passando. É urgente que o CPERS volta a ser o Sindicato de luta que já foi, que faça a frente e a retaguarda na luta dos trabalhadores. Nós, da Chapa 1, estamos prontos para essa tarefa de reconstruir o CPERS e devolvê-lo para as mãos da categoria.
     Quais as metas e projetos da chapa para o Cpers?
     Nós temos um projeto para o CPERS: retomar os direitos que perdemos com o Governo Sartori e alcançarmos outras vitórias para categoria e para a educação no RS. Além de garantir nossos salários pagos integralmente a cada final do mês – e lutar pelo reajuste -, iremos, com muita coragem, resgatar a luta histórica pelo Piso Nacional. É um desrespeito os educadores do RS terem o salário mais baixo do Brasil! Queremos que os funcionários de escola sejam valorizados e que tenham direito ao Piso, que os contratados sejam respeitados, com a garantia do seu emprego, com os direitos na CLT, assim como queremos a valorização dos aposentados e a aposentadoria especial para as especialistas. A defesa dos direitos da categoria passa por garantir que nosso Plano de Carreira não seja modificado. Queremos o IPE público, mas que atenda às necessidades da nossa categoria. Hoje o IPE está sucateado, não tem atendimento médico, as consultas têm cobrança extra para nos atender. A categoria precisa voltar a ser protagonista de uma educação 100% pública e de qualidade, com escolas que tenham mais recursos para receberem bem nossos alunos e para que eles possam ter acesso a melhor educação: a que forma verdadeiros cidadãos, com pensamentos críticos, com liberdade, com capacidade de crescerem em um mundo mais justo e com oportunidades para todos!
    Algo mais ?
    Gostaria de dizer às nossas colegas de Sindicato que estamos para escolhermos entre dois caminhos para o CPERS: viver a situação que estamos vivendo hoje e ficar como está ou viver um outro momento, de força, coragem e vitórias. Vocês conhecem a Chapa 1 A Categoria em 1º Lugar! Unida para Lutar – Oposição de outras gestões em que estivemos juntos e conseguimos barrar os ataques dos governos. Contamos com o apoio de vocês para que, a partir desta eleição, estejamos à frente do CPERS, colocando nosso Sindicato nos trilhos da luta e da coragem de enfrentar os governos que atacam nossos direitos.
    Respostas da professora Helenir Aguiar Schürer- Chapa 2

    A senhora é candidata à reeleição. Quais são os blocos e grupos que compõem a chapa encabeçada pela senhora? 
    A nossa chapa é composta por diversas forças dentro do Sindicato, além de educadoras e educadores que não pertencem a uma ou outra força. São independentes e se somam à construção pois acreditam no nosso trabalho.
    Qual é o balanço que a senhora faz da sua gestão?
     O balanço da nossa gestão já foi avaliado positivamente no IX Congresso Estadual do CPERS, em junho de 2016. Na ocasião, mais de 68% dos 2 mil congressistas aprovaram a condução da luta sindical pela direção central. Apesar da conjuntura estadual e nacional mais difícil das últimas décadas, caminhamos juntos com a categoria e fizemos história. Voltamos a encher a gigantinho com a maior assembleia em 20 anos. Também fizemos a maior greve em 25 anos e realizamos ações inéditas, como a ocupação do Centro Administrativo Fernando Ferrari, que resultou na garantia do difícil acesso (que beneficia 69% dos educadores) e o bloqueio do acesso à Assembleia Legislativa.
    Também cumprimos o compromisso de dar protagonismo à categoria e valorizar o elemento pedagógico, criando um departamento exclusivo para tratar de temas educacionais. Como resultado, foram realizadas duas grandes mostras pedagógicas com as melhores práticas da escola pública gaúcha, incluindo rodadas regionais e a oportunidade de apresentar os projetos fora do país.
    Retomamos instâncias de diálogo abandonadas em gestões anteriores, como os encontros regionais e estaduais de aposentados e funcionários. Criamos espaços novos para a construção d políticas de gênero, diversidade, juventude e etnias.
    Para os nossos funcionários a grande vitória foi a aprovação do PL 155, que incluiu todos no plano de carreira, uma luta que já durava dez anos. Também é importante destacar a transparência e o zelo com os recursos dos associados. Quando assumimos o CPERS, o sindicato devia quase R$ 400 mil no cheque especial. Hoje as contas estão saneadas. Por fim, fomos protagonistas do Movimento Unificado dos Servidores, uma articulação inédita entre todos o funcionalismo do RS, colocando mais de 50 mil na rua e fortalecendo a resistência frente aos ataques do Governo Sartori
    3) Representantes das chapas 1 e 3 fazem críticas à gestão da senhora. Num documento elaborado por representantes de ambas chapas, eles afirmam:” atual direção da entidade (CUT e CTB) é responsável por um brutal retrocesso na história de lutas do CPERS, pelo abandono do classismo e da defesa da democracia operária, e que vem a cada dia enfraquecendo a categoria e facilitando os violentos ataques do Governo aos direitos dos trabalhadores”. Como responder a estas críticas?
    Talvez essa crítica seja reflexo da maior assembleia dos últimos anos, coisa que não conseguiram fazer. Ou de uma greve consistente e com avanços, como foi a nossa greve, a maior dos últimos 25 anos. Ou de propostas e ações reais, como a ocupação do CAFF, o fechamento da AL e a unificação dos servidores.  Você acha que essas ações demonstram fragilidade ou escancaram a incapacidade de diálogo e organização da direção anterior? Se era tão fácil, por que não conseguiram fazer? Não podemos esquecer que no governo anterior, assim que assumimos em 2014, nós tivemos condições de abrir uma mesa de negociação e aprovar um projeto que os funcionários esperavam há dez anos.
    Já o atual governo não aceita diálogo e parece dormir pensando em como retirar direitos. É um momento de resistência, não apenas da nossa, mas de todas as categorias. E estamos resistindo, apesar do boicote da oposição. Desde novembro, por exemplo, estamos todas as terças-feiras, sob chuva, sol e bombas, em vigília na Praça da Matriz. Dizer que esta é uma gestão desmobilizada é um total desrespeito a todos os funcionários, aposentados, professores e especialistas que seguraram até agora o pacote de maldades de Sartori. A categoria merece respeito.
    Quais são os planos da Chapa 2 para o novo triênio da direção do Cpers?
    Manter a seriedade com as finanças do Sindicato, continuar a resistência contra os ataques do governo estadual e federal, fortalecer a luta pelo cumprimento da lei do piso, continuar investindo muito na questão pedagógica, na defesa intransigente dos planos de carreira, do IPE público e de qualidade, e continuar levando o sindicato com a seriedade e comprometimento que temos levado até agora.
    Nesta eleição também percebemos a importância de uma grande campanha de sindicalização, pois diversos núcleos registraram uma diminuição no número de sócios. Núcleos geridos pela oposição, que são céleres em criticar a direção central, mas fizeram muito pouco naquilo que é a essência de um sindicato.
    Algo mais?
    Nunca foi tão importante participar. Independente da chapa apoiada, a melhor forma de mostrar para o governo a força da nossa organização é realizar a maior eleição da história do Sindicato. Por fim, queremos pedir um voto de confiança para a Chapa 2, nos núcleos e na direção central.
    Respostas da professora Neida Oliveira – Chapa 3

    Porque a chapa 3 não disputa a direção central e só apenas as dos núcleos, nas eleições do CPERS?
    Desde 2013, ainda durante o último ano de gestão que participávamos, concluímos um debate que durante esta última década de atuação no CPERS, a nossa corrente vinha fazendo.  Este debate leva em consideração as condições de vida dos profissionais da educação (falta de perspectiva profissional), cansaço e envelhecimento da vanguarda, burocratização dos quadros políticos do movimento sindical em geral (estruturas sindicais favoráveis à acomodação nos aparelhos, levando a disputa pelos cargos e à projeção política que os mesmos proporcionam as últimas consequências.
    Tudo isso somado ao refluxo das lutas e a perda das referências classistas por parte das novas gerações, fez com que o nosso sindicato fosse perdendo força e deixasse de ser visto pela base como um instrumento de luta democrático e capaz de defender a educação pública e os educadores de forma eficaz.
    Assim, passamos a defender um programa para revolucionar a estrutura administrativa e política do sindicato! Ele pode ser consultado em documento que colocamos à disposição dos interessados.
    Houve negociações com outros blocos de oposição à atual diretoria, mas não houve acordo. O que aconteceu?
    Participamos de poucas reuniões, mas por opção da nossa própria corrente. As nossas razões para não participar se deram, em primeiro lugar, porque não conseguimos criar durante todo o período desta atual gestão nenhum canal de debate político saudável para atuar unitariamente como oposição.
    Depois, também porque não tinha sentido fazer reuniões única e exclusivamente para debater a divisão de cargos. Ora, se defendemos um programa totalmente oposto ao de construir acordos de cúpula para dirigir o aparelho, que razão teríamos para tanto?
    Se os blocos tivessem firmado um acordo, não seria maior a possibilidade de derrotar a atual direção?
    Talvez sim! E este foi o sentimento criado na vanguarda valorosa que tem por longos anos sustentado as mobilizações do CPERS. Mas esta nunca foi a lógica das composições construídas com a participação da Construção Socialista. Quando defendemos uma chapa para disputar eleições num sindicato temos que apresentar um programa e uma unidade política capazes de ganhar a confiança da base, mas também com capacidade para se constituir como uma verdadeira direção.
    Qual a visão que a chapa 3 tem sobre a atual direção do Cpers?
    A atual diretoria do CPERS constituiu uma hegemonia política, no campo partidário e sindical e isto tem lavado a uma constante confusão na condução do Sindicato. Primeiro porque defende um projeto político e sindical que está em questionamento no seio da classe trabalhadora, pois durante todos estes anos de defesa de um projeto de conciliação de classes sustentados não só pelos seu partidos, mas também pelas principais organizações sindicais, não conseguiram mais galgar a confiança da classe trabalhadora.  Diante desta realidade para manter a defesa desta política, fecham os espaços democráticos do Sindicato e transformam todos os que pensam diferente e que tentam construir novas ferramentas de lutas e políticas em seus verdadeiros inimigos.  Na maioria das vezes conseguem ser mais condescendentes com os que estão do outro lado da trincheira do que com os seus aliados de classe.
    Quem se mantém brigando pela hegemonia está fadado ao fracasso, pois somente com a pluralidade é possível construir síntese.
    De qualquer maneira, qualquer uma das composições que vencer a eleição terá, nas Diretorias eleitas pelas chapas 3: UNID@S Pra Lutar, uma oposição consequente.
    O que tem de ser feito no Cpers?
    As mudanças precisam acontecer pela base organizada, os núcleos devem assumir o seu papel protagonista de ser o espaço radicalmente democrático e de organização das lutas. Não podem continuar sendo sufocados e reféns do campo que ganhar a diretoria central. Neste sentido, entendemos que o conjunto das chapas 3, que se organizaram para defender um programa de questionamento aos grupos que não medem as consequências para controlar o aparelho do CPERS, terão um papel fundamental nos próximos anos.
    Algo mais?
    Sim, estou otimista com o futuro do CPERS. Os jovens educadores que estão se conectando com a história de luta do nosso Sindicato – temos vários deles integrando as chapas dos núcleos- junto com a velha guarda farão a revolução necessária.  Os grupos que colocam os seus projetos pessoais, ou das suas correntes acima da luta da classe trabalhadora, não sobreviverão para sempre.
    Por fim, se é verdade que a conjuntura política está difícil, também é verdade que o 8 de março ocorrido em mais de 50 países e tendo as mulheres como protagonistas, o 15 de março, a greve geral do 28 de abril e o  Ocupa Brasília , no dia 24 de maio, nos animam. A nossa corrente está jogada para construir a mais ampla unidade de ação com todos os que querem derrubar Temer e impedir as reformas dos patrões.
    Respostas do professor Lucas Berton- Chapa 4

    Como a chapa 4 avalia as eleições no CPERS e as demais chapas e candidaturas
    Todas as outras chapas (1, 2 e 5) já estiveram na direção do CPERS. Antes de 2008 estiveram, inclusive, em direções conjuntas. Estas gestões apenas aprofundaram o afastamento do CPERS da categoria e a burocratização sindical. O sindicalismo que defendem são variantes do sindicalismo da CUT. Houve falta de transparência nas finanças em todas elas. Em função de não poderem jogar luz sobre os verdadeiros problemas que afligem a categoria e o funcionamento do nosso sindicato, reproduzem muitas das práticas das eleições gerais, as quais deveríamos extirpar do nosso meio. O nível do debate acaba se rebaixando para picuinhas, como pode ser visto nas redes sociais. A propaganda eleitoral destas chapas seguem as mesmas táticas de marketing eleitoral, o que esvaziam o conteúdo do debate. Nós, da chapa 4, temos nos pautado pelo debate de programa, de método e de teoria, procurando manter o alto nível político e respondendo as outras chapas na medida em que vemos distorções grosseiras e a degeneração das discussões. Nosso papel nestas eleições é apresentar outro caminho, embasado em outro programa. Levantamos questionamentos sobre novas formas de organizar as assembleias gerais, a prestação de contas, a luta contra a burocratização sindical e outros temas, mas ficamos sem respostas.
    Em que a chapa 4 se difere das outras que se apresentam como oposição? Ela está vinculada a algum bloco político ou central sindical?
    A nossa oposição apresenta outro programa em todas as questões centrais que envolvem a organização e a política a ser seguida pelo CPERS. Nos pautamos pelo classismo. Defendemos um sindicato desatrelado do Estado, organizado pela base, com democracia direta, tendo política para todos os seus setores (com destaque aqueles mais precarizados, como os educadores contratados) e um especial respeito às decisões de assembleia. Não queremos tolerar sócios que ocupam cargos na alta cúpula da secretaria de educação, tal como fazem todas as outras chapas. Não participamos de conchavos no Conselho Geral para defender uma política “unificada” nas assembleias, nem defendemos o Plano Nacional de Educação (PNE), que foi elaborado pelo governo Dilma a mando do Banco Mundial e é a matriz de todos os planos de desmonte da educação pública (“Reformas do Ensino Médio”, PL44, OSs na escola pública e destruição dos planos de carreiras). Todas as chapas desta eleição defendem a CNTE, que é o braço educacional da CUT. Nossa chapa não está vinculada a nenhum bloco político de partidos institucionalizados e nenhuma central sindical. Isso não significa que sejamos contra a organização política (partidos) e as centrais sindicais, mas os que existem não nos representam, pois acabam reproduzindo os mesmos desvios do PT e da CUT, de uma forma ou outra.
    O modelo de enfrentamento aos governos estaduais, baseado em greves com baixa adesão da categoria, se esgotou ou ainda é válido?
    As greves são um método de luta privilegiado. Tudo o que conquistamos de benefício aos trabalhadores foram arrancados dos governos e dos patrões com muitas greves, sangue e suor. Reconhecemos que há um desgaste das greves do magistério estadual; não pelas greves em si, mas pelo uso equivocado, demagógico e burocrático de sucessivas direções do CPERS, reféns voluntários da burocratização sindical. O afastamento do CPERS das suas bases levou à deflagração de greves mecânicas, de cima pra baixo, desprovida de compreensão e adesão. Achamos que as greves ainda são válidas, mas precisam passar por uma radical reformulação e levar em consideração os seguintes critérios: antes de deflagrarmos uma greve é necessário uma grande mobilização, analisar o ânimo dos trabalhadores, a correlação de forças, que a base compreenda, domine e ajude a construir as palavras de ordens e as reivindicações; que tenhamos possibilidade real de enfrentar os governos, para colocá-los contra a parede, tencionando-os realmente. É preciso envolver as comunidades escolares, numa perspectiva de greves para além da questão salarial, utilizando redes e mídias sociais. A luta grevista deve ser precedida e vinculada a uma luta ideológica. As greves burocráticas, que não levam em conta a realidade, apenas desgastam a ideia de greve e ajudam o governo a ganhar terreno.
    Quais os planos e projetos da chapa 4 para a gestão do Cpers?
    Nossa proposta para o CPERS resume-se da seguinte forma: organização por local de trabalho, soberania das bases, desatrelamento do Estado, combate à burocratização sindical, política de formação teórica e sindical, democratização das instâncias do sindicato (assembleias gerais, de núcleo, do conselho fiscal, dos meios de comunicação – jornal, site, redes sociais), retomada da política de debates pedagógicos e educacionais para apresentarmos nossas propostas de educação à sociedade, defesa dos direitos dos trabalhadores (plano de carreira, concurso público, direito ao trabalho), bem como uma política de isonomia aos educadores contratados, luta sem quartel aos governos que servem ao grande capital e que querem destruir a educação pública.
    Algo mais?
    Somos uma chapa formada por educadores do chão da escola, sem liberação sindical, que nunca estiveram na direção do CPERS. Queremos combater o afastamento do CPERS da sua base, propor um novo programa e uma mudança radical na forma de organizar o nosso sindicato. Fazemos campanha nas nossas horas livres do trabalho e não contamos com o apoio milionário dos partidos institucionalizados e das centrais sindicais. Compreendemos que o CPERS é nosso e devemos toma-lo pela base. Queremos mostrar um caminho alternativo para os educadores e a necessidade.

  • Chapa 1 vence eleição do SindBancários para o triênio 2017-2020

    A Chapa 1, “Vamos Juntos”, venceu a eleição para a direção do SindBancários no triênio 2017-2020 com 3.789 votos (57,2%). A vitória representa a reeleição da diretoria que atualmente comanda um dos maiores sindicatos de bancários do país. Em segundo lugar, a Chapa 2, “Bancários de Base – Muda Sindicato”, conquistou 2.035 votos (30,72%). A Chapa 3, “Muda Já”, teve 800 votos (12,8%). Os votos foram coletados de 20 a 23 de junho em 31 urnas. Foi apurado um total de 6.706 votos. A posse da diretoria reeleita ocorrerá em 16 de agosto.
    O atual presidente do SindBancários, Everton Gimenis, consegue a reeleição diante de um contexto político que exigirá muita luta dos bancários e dos trabalhadores para derrotar as reformas Trabalhista e da Previdência que tramitam no Congresso Nacional com o apoio do presidente interino Michel Temer.
    “Os bancários estão de parabéns pela grande participação na nossa eleição. Vencemos o pleito porque mostramos a importância de a nossa categoria estar e se manter unida para enfrentar as dificuldades. Foi com a nossa unidade que conquistamos muitos benefícios e direitos nos últimos anos. O contexto político de retirada de direitos que lutamos tanto para conquistar vai exigir muita luta no próximo período. Os bancários estão preparados”, avaliou Gimenis.
    O presidente da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, acompanhou a apuração e saudou a vitória da Chapa 1. “Foi um processo democrático, transparente. As três chapas estão de parabéns pelo exemplo de democracia e luta que deram durante todo o pleito. Temos muita luta pela frente. Agora, vamos preparar a greve geral do próximo dia 30 para derrotar as reformas e conquistar o direito de decidir o nosso futuro pelo voto em eleições diretas”, afirmou.
    Resultado final:
    Chapa 1 – Vamos Juntos: 3.789 (57,2%)
    Chapa 2 – Bancários de Base – Muda Sindicato: 2.035 (30,72%)
    Chapa 3 – Muda Já: 800 (12,08%)
    Total de votos: 6.706
    * Com informe da Comunicação/SindBancários.

  • Artista gráfico Eugênio Neves lança “Somos todos bonecos”, nessa sexta-feira

    Higino Barros
    “Eugênio Neves é um dos maiores desenhistas do Brasil”. Quem faz essa afirmação é Edgar Vasques, por sua vez, um dos maiores desenhistas que o Rio Grande do Sul já produziu, artista consagrado internacionalmente. Só o comentário já dá uma mostra do poder de fogo de Eugênio Neves, que nessa sexta, feira, dia 16, lança no bar Tutti Giorni, o livro “Somos Todos Bonecos”.
    A excelência do trabalho de Neves, reconhecida por todos seus pares de profissão, é fruto de uma longa vivência com o desenho, muita prática, estudo e busca de um estilo e de traço identificável para quem o vê. Sua predileção por desenho com bico de pena, vem de três mestres contemporâneos dessa técnica, confessadamente assumidos: o estadunidense Brad Holland, o francês Rolland Torpor e o romeno Eugene Mihaescu.
    Técnica fundamental
    “Vejo o bico de pena como uma técnica fundamental, tanto por ser uma das manifestações básicas do desenho, quanto pela simplicidade dos meios que ela necessita para a sua execução. Um graveto com uma ponta afilada e qualquer mistura que faça às vezes de tinta já são suficientes para produzir uma imagem”, explica o artista.
    Paralelo ao seu trabalho como desenhista, Eugênio Neves exerceu atividades de programador visual, publicitário e ilustrador editorial em veículos de Comunicação da capital, como Coorjornal, Diário do Sul, Jornal do Comércio e Zero Hora. Além de integrar um grupo que trabalhava com teatro de bonecos.
    Atualmente é ilustrador e editor autônomo, prestando serviço para entidades sindicais, empresas, publicações e editoras. É um dos fundadores da Grafar (Grafistas Associados do RS) e membro atuante, desde a primeira edição, do Salão Internacional de Desenho para a Imprensa.
    O artista, por Edgar Vasques
    “Eugênio Neves é um dos maiores desenhistas do Brasil. Mestre consumado na técnica do desenho com bico de pena, levou esse recurso a um raro grau de excelência, aproximando seus resultados da precisão e da beleza da água-forte. Exercitando uma espécie de realismo expressionista, capaz de usar a perfeita representação de qualquer tema ou material (metal, couro, madeira, etc.), através dos valores de luz e sombra, perspectiva, etc., produz ilustrações de enorme significado visual e conceitual. Para isso, faz uso seguro das características dessa técnica, especialmente a construção de gradações e volumes via hachuras e variações na espessura do traço.
     Trabalhando há mais de trinta anos como ilustrador, cartunista, designer e bonequeiro, domina inteiramente também as técnicas da colagem, do uso da madeira e de materiais plásticos e os recursos eletrônicos de criação e tratamento de imagens. A variedade e abrangência de seu trabalho incluem, portanto, desde a criação de imagens gráficas estilizadas, de vocação bidimensional, até o design de superfície e a confecção de objetos tridimensionais, como bonecos e acessórios. As características de toda essa produção são o impressionante rigor técnico, o talento criativo e a inegociável vocação esclarecedora.
     De fato, fazendo uso, conforme o caso, de um humor severo, da ilustração didática ou da caricatura tridimensional, Eugênio age sempre no sentido de informar, clarear e desvelar a realidade, bem como denunciar as tentativas de mistificá-la. Como em todo o grande artista, no caso de Eugênio o discurso e a prática guardam uma admirável coerência. Essa postura o colocou desde cedo como referência para várias gerações de colegas, pela lucidez que faz dele um pioneiro em momentos e questões importantes. Por exemplo, bem antes da preocupação com a preservação ecológica estar na ordem do dia, inclusive entre os artistas e cartunistas, Eugênio não só tratava do assunto em seu trabalho como o vivia no  seu comportamento diário segundo uma lógica de economia de meios e não desperdício, para espanto de muitos desavisados. O tempo mostrou cabalmente que ele tinha toda a razão…  
    Essa vocação desmistificadora aparece com sombria clareza no presente livro: como um Hieronimus Bosch laico, Eugênio monta um impressionante conjunto de imagens onde nenhum alívio é tolerado, nenhum desvio ou tergiversação ameniza ou distrai a crueza da exposição dos mecanismos insanos que tendem a transformar humanos em monstros. En passant, vai criando algumas obras-primas (como a “Pietá” profana da página 113) que nos servem de lembrete do papel fundamental do artista no seu contexto. Em suma, um raro artista, versátil e coerente, cuja obra é e seguirá sendo referencial para os que com ele convivem e para os que ainda virão”
    SERVIÇO
    Lançamento do livro SOMOS TODOS BONECOS de Eugênio Neves
    Dia 16/06/17, a partir das 19h30
    Local: Tutti Giorni Bar
    Escadaria da avenida Borges de Medeiros, 710

  • Funcionários dos Correios vivem cotidiano de violência

    Higino Barros
    Porto Alegre, avenida Protássio Alves, 12 de maio de 2016, agência dos Correios e Telégrafos. Dois homens, aparentemente clientes, sacam armas e anunciam um assalto. É o sétimo, em um ano, sofrido por um dos funcionários do Correios. Só na agência anterior foram cinco. Esse é o segundo, no novo local de trabalho.
    Foi-se o tempo que o maior risco que os carteiros sofriam era ser atacado por algum cão, durante entregas domiciliares de correspondência. A violência urbana, comum aos moradores da capital gaúcha e grande Porto Alegre, nos últimos anos, é o novo dado, dramático e perigoso, no trabalho dos carteiros e funcionários em geral dos Correios. No Brasil, há inúmeros registros de assaltos à agências dos Correios e Telégrafos que terminaram com mortes de ladrões ou funcionários da empresa. No Rio Grande do Sul, o último caso em que houve vítima fatal foi em abril de 2016, na localidade de Lomba Grande, bairro de Novo Hamburgo. Dois assaltantes foram mortos em confronto com a Brigada Militar.
    Uma estatal criada no Brasil Colônia, em 1663, que já foi considerada pela população brasileira, alternando com o Corpo de Bombeiros, a instituição pública mais confiável é  na atualidade vítima do processo de degradação das instituições públicas que assola o país.
    No Rio Grande do Sul, os números de encolhimento dos Correios são cada vez maiores. A estatal já contou com cerca de oito mil funcionários. Hoje reduzidos à cerca de seis mil. O último concurso para admissão de novos trabalhadores foi em 2011. Dados do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Sin) demonstram que 30% dos admitidos no último concurso já deixaram a empresa, atraídos por oportunidades melhores.
    Como no Velho Oeste
    No Velho Oeste norte americano, os trens postais, que levavam igualmente vultuosas quantias de dinheiro, viraram alvo preferido de quadrilhas de assaltantes de bancos, impulsionados pelo lema bem capitalista, de ir buscar o dinheiro onde ele está. Com as agências dos Correios no Rio Grande do Sul aconteceu algo semelhante. Elas se tornaram local predileto dos assaltantes de estabelecimentos urbanos, devido à quantias e bens de consumo que abrigam, conjugado com a facilidade de acesso e fuga do lugar.
    Yúri Aguiar,presidente do Sindicato dos Trabalhadores, descreve os atrativos encontrados pelos ladrões de agências. “As agências dos Correios exercem papel de agências bancárias. Armazenam dinheiro e bens de consumo em geral. Tudo isso com segurança nenhuma. Não há portas giratórias ou outros recursos de dificultar acesso de quem quer que seja. Ultimamente, com a crise econômica da empresa, retiraram até os seguranças que davam um mínimo de proteção ao local. Há colegas que dizem que as agencias viraram caixas eletrônicos de bandidos”.
    Como as agências mais lucrativas dos Correios estão em zonas de comércio na zona norte da capital, isso se torna um fator negativo para elas, já que facilita as rotas de fugas para os ladrões, com acesso à grande Porto Alegre.
    Quem já passou por assalto tem lembranças traumáticas do episódio. Os ladrões chegam intimidando com armas em punho, praticando agressões físicas e verbais. “Já vi colega ser chutado, espancado e fui chamado de tudo que é nome.  Desisti de ter função de chefia na agência para não ficar visado nos assaltos posteriores. Eles já chegavam procurando por mim, achando que eu tinha a chave do cofre”, relata F.S, sob a condição de ficar anônimo para evitar punição da empresa.
    Duvidoso privilégio
    O duvidoso privilégio de sofrer assalto à mão armada para os funcionários dos Correios não é restrito aos atendentes em agências. O pessoal de entrega de correspondência volta e meia passa também por essa perigosa experiência. Assim como as agências, os veículos da estatal são depositários de dinheiro, eletro domésticos e outros bens de consumo, adquiridos pela internet e com entrega domiciliar realizada pelos Correios.
    O funcionário de um desses veículos, AFS, ao lado de um colega, foi assaltado no dia 23 de fevereiro desse ano, ao fazer entregas na zona sul. “Fomos seguidos por um carro branco numa região com pouco movimento, que nos ultrapassou e fechou nossa frente. Dele desceram quatro homens, dois armados. Cada um ficou com a arma apontada para nossas cabeças, enquanto os dois restantes fizeram a limpa no carro. Demorou uns quatro minutos, talvez menos. Mas parecia uma eternidade, um tempo que não passava nunca”, conta AFS.
    Sua grande reclamação. A empresa tem um serviço de atendimento psicológico para trabalhadores que passam por experiências assim muito moroso e burocrático. “Normalmente, só tem hora com o psicólogo quatro, cinco dias depois do assalto. Enquanto isso, o funcionário é obrigado a trabalhar. Sabe-se lá em que condições. A empresa é muito negligente quanto à segurança e saúde dos seus funcionários”, explica o trabalhador.
    Veículos de entregas que transportam rodas de carro, telas de computador, celulares, tênis, eletrodomésticos em geral e roupas de grife são os mais visados pelos assaltantes. As abordagens, sempre com armas apontadas para os funcionários dos Correios são feitas, em sua grande maioria, no horário da tarde.
    Horário matutino
    A observação de tal rotina no comportamento dos ladrões provocou um pedido, feito pelos trabalhadores: que as entregas fossem concentradas no horário matutino, reivindicação negada pela direção da empresa. AFS tem uma explicação curiosa sobre o comportamento dos assaltantes em concentrar os roubos à tarde. “Vagabundo gosta de dormir até tarde, eles ficam na cama até o final da manhã. E saem para fazer as estrupulias deles no início da tarde”. Ele está há 17 anos no setor de entregas e assegura que a situação dos funcionários piorou muito no quesito segurança.
    “ A gente observa que todo mundo tem problemas com a violência. Não seríamos nós a ser excluído dela. Mas a empresa podia adotar uns procedimentos simples, buscando amenizar isso para seus funcionários. Como dar instruções de como proceder em situações de assalto e coisas assim. Mas nada. Ela é totalmente omissa nessa parte” conta.
    Já para Henrique Andrades Torales, 33 anos de Correios e há 20 dirigente do sindicato dos Trabalhadores dos Correios de Pelotas e região, a combinação de degradação do ambiente econômico e social do País, com a má administração dos Correios, resulta na piora de qualidade de trabalho para seus funcionários. Comprometendo também os serviços da estatal que já foi modelo para empresas semelhantes do exterior.
    “A lógica capitalista de ter que dar lucro, tirou a empresa de sua atividade principal que era atender toda a população. Hoje ela tem menos funcionários, menos agências e possui enorme atrativo para roubos. Há 20 anos ou um pouco menos, os Correios não eram tão visados assim. Agora, os marginais descobriram que eles são facilmente abordáveis, oferecendo pouco riscos a quem assalta”, observa Torales.
    A situação tem solução? Para o dirigente do Sindicato de Pelotas tem. “Daqui a algumas gerações. Quando resolverem investir em educação, a base de tudo, para mudar esse país. Se isso não acontecer tudo vai piorar”, sentencia Henrique Torales.

    Trabalho de risco /Divulgação

    Uma estatal feudo de partidos políticos
    A empresa dos Correios e Telégrafos é considerada “o primo pobre” entre as estatais brasileiras. Ao lado de gigantes como Petrobrás, Caixa Econômica Federal e outras instituições federais, figura como a de menor poder econômico e está incluída no pacote de privatização que o governo federal promove.
    Os depoimentos sobre a trajetória da empresa são unânimes em dizer que o período de apogeu da empresa coincide com seu comando sendo exercido por funcionários de carreira, não por indicação política como é na atualidade. Estatal de um serviço fundamental para a população, em um país de dimensão continental, sua presidência e outros cargos de comando, a partir do governo FHC passou a ser um feudo do PMDB. No Rio Grande do Sul, a partir do governo Lula, passou a ser do PT.
    Na atualidade, o comando nacional da empresa está entregue a um representante do PSD/SP, apoiador do governo Temer, o deputado estadual licenciado, Guilherme Campos. Citada no episódio do mensalão, com o seu fundo de pensão, o Postalis, sendo alvo de CPI e alvo de denúncias de má gestão, os Correios e Telégrafos é ambicionado pelo mercado privado, devido ao seu potencial de lucro.
    Entre as denúncias de má gestão da empresa, feitas pela Federação dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos, encontra-se os gastos feitas na área de publicidade. Nas Olimpíadas de 2016, foram dispendidos R$ 350 milhões. De 2012 a 2016 os Correios destinaram R$ 465 milhões para patrocínio em esportes, sendo a estatal que mais investiu no setor. A Petrobrás, por exemplo, muito mais rica do que o seu “primo pobre”, gastou R$ 88 milhões no mesmo período.
    Ato no centro da Capital contra privatização /Divulgação

    Preparando terreno para a privatização
    Quem é usuário dos serviços dos Correios e Telégrafos já deve ter observado na queda de qualidade desses serviços. São entregas feitas com menos frequência, atraso nas correspondências e outras demandas que afetam diretamente o público. Ela é fruto da precarização da empresa e atinge diretamente seus funcionários e sociedade. Para os sindicalistas da empresa a intenção é entrega-la para a iniciativa privada. A posição do Sintect/RS diante do quadro é expressado nesse documento:
    “A ECT promoveu em 2011 e 2012 um SD (Sistema de Distritamento – sistema para dimensionar o quantitativo de funcionários levando em consideração o número de objetos postais, tamanho da percorrida, etc). A partir destes levantamentos pôde se observar que muitas unidades necessitavam de mais funcionários. Porém esses novos SDs nunca foram implementados apesar da reivindicação dos trabalhadores.
    Para os trabalhadores essa realidade ficou ainda mais severa com a implementação de novos sistemas de trabalho a partir de 2014. A ECT aplicou o que chama de DDA (Distribuição Domiciliar Alternada). Ou seja, antes a entrega era diária, agora com o quadro de efetivo minguando, a ECT aumentou a percorrida diária dos trabalhadores dividindo em lado A e B, e o trabalhador alterna estes dois lados. Não há mais entrega diária!
    Recentemente diversas unidades de atendimento encerraram suas atividades. Entre elas, a AC Barnabé, em Alvorada, AC Centro das Indústrias, em Cachoeirinha, causando grande prejuízo às populações dessas regiões.
    Isso soma-se a insegurança vivida pelos atendentes comerciais, os trabalhadores que prestam atendimento diretamente ao público. Apesar de os Correios prestarem serviço bancário em suas unidades de trabalho, não há a mesma estrutura. As agências, em sua maioria, não contam com porta giratória e detector de metais, cofre boca de lobo, entre outros. Há um verdadeiro descaso com a questão da segurança. Recentemente encerraram contratos de segurança em algumas unidades de trabalho, aumento o sentimento de insegurança, o que obrigou nossa entidade a ingressar na Justiça para requerer fechamento de novos contratos.
    A violência acomete também os carteiros principalmente aqueles que entregam encomendas. Estes tem sido alvo recorrente de quadrilhas, que acham diante da omissão da ECT e demais autoridades, terreno fácil para seus crimes.
    Nossa categoria tem sido alvo de ataques no seu conjunto. A ECT busca atacar os direitos conquistados com muita luta. Tanto que desde 2013 alterou a gestão de nosso plano de saúde, criando um caixa de assistência – a Postal Saúde. Mais um órgão que acaba sendo utilizado pelo governo de plantão para dividir com seus políticos aliados. Ocorre que diante da incompetência a Postal Saúde não constitui médicos credenciados no interior do estado, sendo obrigada a recorrer a Unimed. Porém pela segunda vez em menos de 6 meses o atendimento médico no interior do estado ficou suspenso por falta de pagamento, o que impede que usemos nosso direito firmado em acordo coletivo de trabalho.
    Estes são alguns dos ataques que temos sofrido, porém de longe são as maiores preocupações. Pois tudo isso acaba preparando o terreno para terceirizar vários setores de nossa estatal, iniciando parcerias público privada – tudo isso sendo possível a partir da lei 14.290/2011 e da constituição da CorreiosPar em 2015.
    Até o momento aguardamos a abertura de contas de nossa empresa. Pois o que podemos observar é engenharia contábil, assim como ocorreu na Caixa, ou no próprio governo. Investem em outras rubricas para o faturamento deixar de ser considerado lucro.
    E tudo isso com uma única finalidade, fazer com que a opinião pública se volte contra nossa categoria e nossa empresa (nossa, de todo povo brasileiro), e a favor das medidas já arquitetadas pelos governos para avançar com a entrega do patrimônio público para a inciativa privada.
    A partir deste texto esperamos elucidar nossa realidade e contar com o apoio para garantir que os Correios volte a ser o que já foi, uma empresa reconhecida pela sociedade, que preze pelo com atendimento à população, que tenha respeito para seus mais de 100 mil funcionários e que volte a ser orgulho para seus funcionários e população”
     

  • Ato show reúne artistas e público a favor de eleições diretas na Redenção

    Higino Barros
    O dia ensolarado, depois de dias de fortes chuvas em Porto Alegre, contribuiu para o astral do ato- show “Porto Alegre por Diretas Já”, realizado no domingo, 11, no Parque da Redenção.
    Pelo palco do evento passaram 36 atrações, com cada uma tendo dez minutos para se apresentar. As apresentações musicais foram intercaladas por declamação de poemas, palavras de ordem, mensagens políticas e o grito de “fora Temer”.
    As apresentações dos grupos de dança, feitas no mesmo nível do público, foram um pouco prejudicadas em sua visão. Porém nada que tirou o entusiasmo de quem foi dar seu recado político contra o governo Temer, a favor de eleições diretas e contras as reformas trabalhista e previdenciária.
    Clima de celebração
    Bandeiras de partidos de esquerda, sindicatos e centrais sindicais, foram acenadas o tempo todo, mostrando que, ao contrário do Rio de Janeiro, onde atos semelhantes não permitiram presença partidária e sindical, aqui as representações políticas e sindicais foram bem vindas.
    Artistas gaúchos, conhecidos pelo seus engajamentos políticos, como Bagre e Ernesto Fagundes, Antônio Villeroy, Bebeto Alves, Hique Gomes e Raul Elwanger, entre outros, revezaram-se nas apresentações. O evento foi promovido pelo coletivo “Cultura pela Democracia”, com o apoio da CUT-RS, das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, de movimentos sociais e partidos de esquerda, entre outras entidades.
    O ato-show terminou em clima de celebração, com as apresentações dos blocos “Turucutá”, “Avisem a Shana que sábado vai chover” e “Areal do Futuro” e da Escola de Samba “Imperatriz Dona Leopoldina”.Os organizadores calculam que mais de trinta mil pessoas passaram pelo local ao longo do ato.

  • Lila Borges canta a mulher brasileira, com convidadas especiais

    Uma das cantoras mais ativas no cenário musical de Porto Alegre, Lila Borges se apresenta nesse sábado, no Meme Santo de Casa, com uma edição inédita de seu show “Mulher Popular Brasileira”. O destaque da apresentação única é a participação de duas musicistas gaúchas com estilos diferentes e o espaço privilegiado dedicado à composições gaúchas.
    As convidadas são a compositora gaúcha Nanda Rosmaniño, que recentemente lançou clipe de sua nova música, “Canção das Mina” e a rapper Negra Jaque que completa a mistura bem feminina e brasileira.
    Fruto de uma pesquisa constante sobre a atuação da mulher na história da música no Brasil, o show “Mulher Popular Brasileira” resgata obras assinadas por mulheres, e apresenta curiosidades e informações relevantes sobre as composições e suas autoras.
    No palco, Lila fala de mulheres que desafiam o debate sobre questões políticas e sociais. “Mulheres fortes que posicionaram-se com enfrentamento corajoso e, acima de tudo, artístico”, define.A principal presença no repertório são compositoras contemporâneas, como Tulipa Ruiz, Maria Gadu e Pitty. “São artistas que cantam os desafios das mulheres na música da atualidade”, avalia Lila.
    A apresentação acontece em um cenário composto pela artista plástica Lisi Fangueiro especialmente para esta edição do show, inspirado nas canções do repertório.
    O projeto já originou duas apresentações artísticas. Em novembro de 2016, Lila Borges levou ao público um trabalho inédito que reuniu as mulheres do grupo Iyalodê Idunn, do Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo, enfatizando a contribuição das mulheres negras na história da música brasileira. No segundo show, a cantora trans Valéria Houston foi convidada a levar ao palco a atual problemática que envolve gênero e sexualidade.
    A artista defende que “a música brasileira tem uma importante contribuição vinda das mulheres que lutaram para produzir música, enfrentaram a discriminação e imprimiram sua marca na história”.
    SERVIÇO
    Show :“Mulher Popular Brasileira”
    Quando: Sábado 10 de junho de 2017, 21h
    Onde: Meme Santo de Casa – Rua Lopo Gonçalves, 176 – Cidade Baixa
    Ingressos: Inteiro: R$25,00, Antecipado: R$ 20,00 e Meia entrada: R$ 12,50
     

  • Ato de bancários na Praça da Alfândega reafirma luta pelo manutenção do Banrisul público

    Delegações de bancários de várias cidades do Interior, como Caxias e São Leopoldo, assim como de Santa Catarina, misturavam-se a população, clientes do banco, sindicalistas e políticos que participaram do Ato em Defesa do Banrisul Público, organizado pelo SindBancários, realizado na Praça da Alfândega nessa sexta feira. No encerramento do evento houve um grande abraço ao prédio do Banrisul, com a soltura de centenas de balões com as cores do banco.
    O presidente do Sindicato, Everton Gimenis, em sua fala, afirmou que mesmo que o governo de Sartori consiga realizar um plebiscito sobre privatização das empresas estatais, o Banrisul não vai ser privatizado. “Porque o Banrisul não é um banco comum, ele serve a toda a sociedade gaúcha”, lembrou o sindicalista. “Muitas cidades gaúchas só têm um banco para atendê-las porque o Banrisul está lá. Bancos privados não abrem agências onde não existe lucratividade, e a população fica abandonada”, disse. Em relação à dívida do estado com a União, Gimenis apontou: “Muitos estados entregaram suas empresas e seus bancos estaduais e não resolveram dívida nenhuma. Abaixo Sartori! Abaixo Temer! Abaixo Meirelles!”, concluiu.
    Além dos bancários, estiveram no ato diretores e associados de entidades sindicais ligadas a Corsan, CEEE, Sulgás e outras estatais ameaçadas pela política de caos implantada por José Ivo Sartori. Claudir Nespólo, presidente da CUT-RS, lembrou os números de uma pesquisa recente: “Sessenta e sete, vírgula seis por cento da população gaúcha ouvida é contrária a extinção do patrimônio público”, destacou. “O governo Sartori já acabou no imaginário da população. Mas temos que ficar atentos pois ele pode tentar um golpe final”, alertou.
    Vitória de 15 anos
    Jaílson Bueno Prodes, diretor do SindBancários, lembrou que nesta dia 02 de junho estava sendo comemorada também a vitória de 15 anos atrás, quando o movimento sindical, os partidos de esquerda e a sociedade conseguiram aprovar a PEC que exige a realização de plebiscito para qualquer tentativa de privatização do banco dos gaúchos e gaúchas.
    Enquanto cantores e artistas como o gaudério Luiz Arnóbio, Rosa Franco, a cantora Lili Fernandes e o violonista Bruno Muti reuniam o público com sua música, cada vez mais delegações de banrisulenses chegavam para o ato. Os diretores do Sindicato dos Bancários de São Leopoldo, Andrades Dihel e Marcos Bugs garantiram a mobilização em seu município, distribuindo camisetas do Banrisul público e percorrendo as agências do banco na cidade durante a semana.
    Dihel, funcionário do Bradesco, apontou: “A gente nota que muitos banrisulenses não se adaptariam a um banco privado, pois o enfoque e o tipo de serviço oferecido é completamente diferente”, opinou. Bugs completou: “Hoje percorremos as agências da Caixa e Banco do Brasil e notamos que estão em pleno esvaziamento, com poucos funcionários, num processo proposital de sucateamento”, destacou.
    Revoada de balões
    O diretor da Fetrafi-RS Sérgio “Serjão” Hoff, que coordenou o abraço ao banco com centenas de pessoas e a revoada de milhares de balões nas cores do Banrisul (azul e branco), ainda destacou ao final do ato: “A busca dos recursos devidos pela Lei Kandir abatem de 80 a 90% da dívida do estado com a União. Por isso, não é preciso vender nada para resolver a questão, basta fazer um ajuste de contas. E tem mais: ninguém vende a sua casa para pagar imposto atrasado!”, concluiu.
     

  • Camilo de Lélis e o jeito Macunaíma de fazer teatro no mundo globalizado

    Higino Barros
    Estreia nessa sexta-feira, 02, no teatro do Instituto Goethe, “Nas Sombras do Coração”, espetáculo baseado na peça radiofônica “Die Lächerliche Finsternis”, de Wolfram Lotz, por sua vez inspirada no romance “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad, e Apocalypse Now,  filme de Francis Ford Coppola. É a mais recente montagem do diretor Camilo de Lélis, da Cia. Teatral Face&Carretos.
    A peça fala de dois oficiais do exército alemão que viajam, através do Afeganistão, com a missão de eliminar um tenente-coronel renegado, que enlouqueceu e matou seus soldados. Paralelamente a essa aventura, o texto apresenta o julgamento, em um tribunal na Alemanha, de um nativo da Somália, que se tornou pirata devido à pesca de seu país estar sendo roubada pelos pesqueiros das grandes nações.

    Camilo de Lélis, diretor / Divulgação

    O diretor da peça, Camilo de Lélis, respondeu às perguntas do JÁ:
    JÁ: A peça “Nas sombras do Coração” é baseada numa novela radiofônica alemã, desconhecida para o público brasileiro. Que por sua vez, se baseia no “Coração das Trevas”, do Conrad e no filme “Apocalypse Now”, do Coppola, talvez a referência maior para o público em geral. Tua transposição dessa história para um palco tem, digamos, o jeito Camilo de Lélis de fazer teatro?  
    Camilo de Lélis: Totalmente. E isso pode ser conferido, assistindo a peça do diretor Alexandre Dill,  que segue o mesmo texto radiofônico de W. Lotz, e, como a minha, estreou  no Festival Palco Giratório do SESC, nos dias 23 e 24 de maio,  e voltará a cartaz logo depois da minha temporada, que é de 27 de maio a 18 de Junho. O Instituto Goethe nos convidou, para que ambos dessem a sua visão a respeito do premiado texto de Lotz “As Trevas Risíveis“, considerado, por essa obra, o melhor autor alemão de 2015. Dill colocou um enfoque mais ao estilo pós-dramático, enquanto eu dei um passo atrás, rumo às minhas origens teatrais, que ainda bebiam na brasilidade de Oswald de Andrade e Mario de Andrade.
    A peça fala de uma viagem pela Selva, pelos grandes rios, pela estranhamento dos costumes nativos, do medo arcaico do canibalismo. Fiz um espetáculo em 1991, primeira parceria com o Instituto Goethe –  Macário, o Afortunado – que tinha um tema parecido, o colonialismo europeu sobre a América Latina. Agora, 26 anos depois, estamos tratando do neocolonialismo globalizado. Por isso, eu achei melhor fazer uma reflexão sobre o que significa um texto alemão, quando submetido a uma estética latina, especialmente brasileira, na qual o índio e o negro tem muita coisa a dizer por si, sem necessitar de um intermediário branco para representá-lo. Por isso chamei atores brancos, negros e mestiços para formar o elenco.
    E também botei sacanagem, “macunaímicamente” coloquei a brincadeira em meio a dor e a desolação. O misticismo misturado à sexualidade, o horror em meio ao encantamento… Enfim é uma peça muito a ver comigo, com a minha história de não seguir modismos ou pensamentos filosóficos, quase todos advindos da velha Europa, pós Escola de Frankfurt, que tentou muito, mas não explicou porra nenhuma sobre o crepúsculo da razão, do início do século 20 em diante, até agora. Resumo, acho que, de alguma forma, devemos rever nossa canibalização da cultura ocidental. Tupy or not tupy, essa é ainda a nossa questão.
    JÁ: O que o expectador encontra vendo tua montagem? O que ela tem de inovadora? O que ela tem de teatro tradicional?
    Camilo: Há o teatro. O teatro inova, quando retorna sobre seus passos. Não ao teatrão, à comédia ligeira, pois isso seria apenas uma fuga para o nada, mas temos de buscar o que de melhor tivemos a partir da semana de 22. As referências da força expressiva de Antunes Filho, Zé Celso, e outros encenadores que não se europeizaram, devem nos dar uma luz nesse momento. Eu sempre coloquei o Brasil nas minhas encenações de textos alemães, e isso se tornou a minha assinatura. Não se trata de uma coisa pueril, forçada, explícita, mas o público reconhece que aquilo ali tá muito digerido, amolecido, para ser uma encenação da ideologia branca ocidental.
    JÁ: Como tu chegou na formação do elenco? O que tu privilegiou ou quis destacar?
    Camilo: Juntei velhos camaradas da década de 70, como o Zeca Kiechaloski e o Marco Sório, mas que não fizeram parte de minha trajetória, também gente que já fez alguma coisa comigo, e um jovem de 26 anos, com quem eu nunca havia trabalhado. Também resolvi canibalizar os técnicos para dentro do espetáculo, fazendo som ao vivo e performances sem texto.
    JÁ: É um grande elenco, uma produção cuidadosa e como obter isso nos dias de hoje, com a cena cultural da cidade tão debaixo de chuvas e trovoadas?
    Camilo: Isso só Dionísio explica. É muito amor à arte. Muito tesão pelo tablado.
     
    Serviço:
    Teatro: NAS SOMBRAS DO CORAÇÃO
    Onde: Teatro do Instituto Goethe (Rua 24 de Outubro, 112 – fone:21187800)
    Quando: De 02 a 18 de junho – sextas, sábados e domingos às 20h
    Quanto: R$40,00 (inteira)- 50% desconto para idosos, estudantes e classe artística (mediante apresentação de documento)
    Ficha técnica:
    Texto Wolfram Lotz. Direção geral Camilo de Lélis
    Elenco: Denizeli Cardoso, Marco Sório, Diego Acauan, Luis Franke e participação especial de  Zeca Kiechaloski, no papel do Tenente-Coronel louco. Atuações performáticas, no decorrer do espetáculo, de Fabrízio Rodrigues, Diego Steffani e Jorge Foques.
    Equipe de criação: Cenário Felipe Helfer. Iluminação Fernando Ochôa. Figurino Fabrízio Rodrigues. Trilha Sérgio Rojas. Preparação vocal Marisa Rotenberg. Designer gráfico Rafael Franskowiak. Dramaturgista Renata de Lélis. Fotografia Gerson de Oliveira.
    A Cia. Teatral Face & Carretos, fundada em 1982, conquistou em sua trajetória, a partir da encenação de “Macário, o Afortunado”, muitos prêmios e fez várias excursões pelo Brasil e exterior. Seu último trabalho foi “As Quatro Direções do Céu”, de Roland Schimmelpfennig, pelo qual recebeu o Prêmio Braskem – 2015 de melhor espetáculo e direção para Camilo de Lélis.