Higino Barros
Logo que se aposentou da Faculdade de Comunicação da UFRGS, no final de 2016, o professor de Jornalismo e fotógrafo Wladymir Ungaretti passou a se dedicar de forma integral a um projeto acalentado há tempos: disponibilizar ao público seu imenso acervo de fotografias, documentos e publicações jornalísticas e culturais que acumulou nos últimos 50 anos.
O resultado é o blog www.pontodevista.jor.br, com novo formato desde janeiro de 2017, com renovação quase diária de conteúdo. São mais de 1.500 fotografias já postadas. De produção própria são 20 mil negativos de filmes fotográficos, dos quais cerca de quatro mil estão digitalizados, a partir de 2005.
Apaixonado pelo Centro de Porto Alegre, principalmente pelo Largo Glênio Peres e arredores, Ungaretti se especializou em fotografar o que ele denomina de “os invisíveis”. Geralmente moradores de rua, mendigos, deserdados da sociedade de consumo, gente sem glamour e sem a beleza da estética predominante.
Voyer da vida
“Sou um voyer da vida”, define-se Wladimir. Ele fotografa de perto, pede autorização a seus retratados e procura estabelecer um diálogo com o modelo da fotografia. “Às vezes faço cópias dessas fotos e presenteio, quando tenho oportunidade, a quem fotografei. É uma experiência única a reação deles.”
Na sua paixão pelo centro de Porto Alegre, há espaço especial para o Mercado Público. Ele vem realizando o mapeamento humano e arquitetônico do local, cuja parte superior está interditada desde 2013, pelo incêndio ocorrido no lugar.
Outro espaço de sua predileção no Centro é a Rua da Praia, confluência com a Esquina Democrática (avenida Borges de Medeiros). São locais da cidade que, segundo ele, refletem agudamente as transformações ocorridas na capital gaúcha, principalmente em seus tipos humanos.
“Primeiro vieram os grupamentos de índios, agora existe a leva dos haitianos e grupos de africanos. É uma população de imensa riqueza cultural, jogada na luta pela sobrevivência”, comenta o fotógrafo.
Preto e branco
A maioria das fotos são em preto e branco, sua opção estética também para a série de fotos que faz sobre prédios, construções e edificações da cidade. “Procuro um certo grafismo nessas composições. Compor uma paisagem, dar um formato gráfico, com enquadramentos simples, em cima da concretagem urbana, é sempre um desafio”, observa.
Rostos, em geral femininos, e uma série dedicada a erotismo, completam os seis eixos de fotografias autorais do blog de Ungaretti. Ele posta igualmente reproduções de revistas brasileiras a partir dos anos 1950, tornando acessíveis reportagens, fotografias, artigos e conteúdo de publicidade que fazem parte da memória impressa nacional.
Ele conta que em sua experiência de professor de Jornalismo sempre procurou instigar seus alunos a fotografar o mundo real. “O universo da fotografia digital é imenso e com toda sua oferta é fascinante, mas também é muito fútil. É o reinado do filtro. É um território muito egocêntrico, de muita vaidade. Procuro ir contra essa tendência”, conclui Wladymir Ungaretti.
Ungaretti torna-se referência na área a que se dedica. Ele não desiste de sonhar com uma parceria com uma instituição que amplie ainda mais o seu alcance. Afinal, assim como na fotografia, sonhar não é proibido.
Autor: Higino Barros
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Blog de Wladymir Ungaretti disponibiliza memória fotográfica e afetiva de Porto Alegre
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Trajetória de Arthur Bispo do Rosário é lançada em livro que percorre o mundo.
A Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul promove novo lançamento do livro “Tecendo a Sanidade: o caso Arthur Bispo do Rosário” no dia 07 de junho de 2017, às 17h00, na sua sedena rua Sarmento Leite, 933, Cidade Baixa.
O livro foi lançado Feira do Livro de Porto Alegre e em Portugal. Sobre as andanças do livro na Europa, a autora, Eliane Tonello, escreveu o relato abaixo:
“Há 108 anos, no dia 14 de maio, em Japaratuba, interior de Sergipe, nascia Arthur Bispo do Rosário. Homem forte, descendentes de escravos africanos que viveu a infância e boa parte da juventude com a família. Levado pelo pai para ingressar na Marinha brasileira e, como sinalizador, teve a oportunidade de conhecer uma boa parte do mundo.
A fonte de inspiração para confeccionar as obras, durante aproximadamente 50 anos na Colônia Juliano Moreira, vinha de memórias e da potência de suas raízes guardada dentro de si. Afastado da sociedade, desfiava os uniformes de cor azul e revestia objetos, bordava peças de vestuário, faixas de misses, e a principal obra, o Manto da Apresentação.
E para homenageá-lo, apresento o meu livro “Tecendo a Sanidade: o caso Arthur Bispo do Rosário”, estudo complexo sobre a convergência entre condições psiquiátricas e a expressão artística de Bispo. É um livro com 82 páginas e nele você encontra considerações da editora, minha autobiografia, desenhos, ecos da visita ao Museu Arthur Bispo do Rosário e texto de Paulo Amaral.
Compartilho que no mês de março, estive em Lisboa para o lançamento da obra, ocasião em que pôde apresentá-la a instituições portuguesas e a leitores de vários países, presentes no evento em que foi lançado o livro.
Antologia lusófona
O que me impulsionou foi o convite para participar da Antologia Internacional Lusófona, organizado pelo Jornal Sem Fronteiras, que leva a arte e a cultura em todos os estados brasileiros e em 27 países, quando comemorava seu 4º aniversário. Na ocasião também recebi a homenagem com Troféu Imprensa Sem fronteiras – Categoria Literatura – por fomentar a cultura ao longo do ano de 2016 e Menção Honrosa com o poema “Viagem Intrauterina”.
Durante os seis dias de estadia em Portugal, o sol se mostrou em todos. As atividades foram intensas, propiciando o encontro com novos amigos, de diferentes partes do mundo. Tivemos momentos enriquecedores! Ao avistar a estátua do Marques do Pombal, a herança de nossa cultura veio à mente, e o que se encontrava apenas abordado em livros estava ali, concreto, na minha frente.
Após percorrer as ruas limpas e sem buracos, os encantados mosaicos sob os plátanos nus, o meu livro chegou ao acervo do Instituto Camões (nome em homenagem ao memorável poeta português Luís Vaz de Camões). No caminho até o Museu da Farmácia, fiquei maravilhada com os prédios e os azulejos coloridos. O bonde elétrico e o moderno percorriam os trilhos sem interromper o fluxo de carros de passeio, tuk-tuk turístico e taxis. Tinha espaço para todos.
Durante o encontro com Escritores Lusófonos houve a exposição do livro aos escritores brasileiros, italianos, americanos, angolanos, eslovenos, argentinos e suíços. Em meio a aplausos intensos, os presentes ficaram impressionados com a história e o percurso desde a pesquisa até o lançamento. Muitos artistas plásticos mostraram-se surpresos com a história de Arthur Bispo do Rosário, a maior parte não o conhecia.
Proximidade do público
O lançamento do livro e a sessão de autógrafos aconteceram no dia 16 de março, no Hotel Mundial. Foi um momento de proximidade do público com a obra. Algumas pessoas, ao folhá-la, lembraram de eventos significativos na história familiar. Foi um momento especial e de muita emoção!
Depois de alguns dias vivendo em um lugar que caminhávamos nas ruas sem medo, o caixa de banco com acesso ao ar livre, castelos preservados, prédios coloridos com preservação de fachadas, monumentos históricos sem pichações, o metrô subterrâneo ligando uma ponta a outra da Europa, sem ruas congestionadas e lixo nas calçadas, com ar primaveril, os caules a brotar, a viagem chegava ao fim. Chegava o momento de retornar a Porto Alegre, Brasil.
Por acreditar ter a missão de mostrar a história de Arthur Bispo do Rosário ao mundo, o livro seguiu viagem. No mês de abril de 2017, esteve pela stand A.C.I.M.A, no Salão do Livro em Milão, de 18 à 22 de maio de 2017 no XXX Salão Internacional do Livro de Torino – Itália, de 2 a 4 de julho na Feira Literária de Impèria na Itália e, de 6 à 10 de dezembro estará no Encontro Internacional em Roma. E pela Cultive, esteve entre 28 a 30 de maio de 2017, no 31º Salão do Livro e da Imprensa de Genebra-Suíça e outros”.
Mais informações no site “Caminhos de Escrita” – elianetonello.wordpress.com -
Em “Cachorro não é uísque”, José Weis mostra seu estilo sintético de fazer poesia
Higino Barros
O poeta Vinicius de Moraes, além de ser um dos mais consagrados letristas da bossa nova, tornou-se conhecido por ser autor de frases que entraram na memória filosófica e poética do Brasil. Uma delas dizia que” uísque é o cachorro engarrafado, por ser o melhor amigo do homem”.
Pois o reverso desse anunciado, “Cachorro não é uísque” (Ed. Kazuá), dá o nome ao livro de poemas, primorosamente editado, que o ex-jornalista José Weis lança na sexta-feira, dia 19, às 19 h, no bar Tutti Giorni, na escadaria do viaduto Otávio Rocha, no centro da capital.
É o segundo livro de poemas de Weis. O primeiro foi “Lenhador de Samambaias”, em 2012, edição do Instituto Estadual do Livro. Da atual obra, o poeta e ensaísta Caio Cardoso Tardelli registra: “Embora não seja farta de micropoemas (aqueles que não passam de um ou dois versos e que se tornaram comuns em terras tupiniquins) mostra como seu autor tem um profundo domínio sobre o estilo sintético de se escrever poesia”.
Econômica em rimas, a poesia de José Weis reflete sobre as relações humanas, seu universo existencial, sua visão de mundo, dores, amores, descobertas, chegadas e partidas, embora praticada para obter o que dá para se chamar de “não poesia”.
Sem cerimônia
Sobre isso, o poeta e crítico Ronald Augusto, que faz o prefácio do livro de José Weis, pontifica: “ a poesia não existe, o que existe mesmo é a obra desse ou daquele poeta, um troço sensível pra cachorro, se quisermos adotar como explicação essa metáfora sem cerimônia de José Weis. A poesia precisa ser presentificada em um percurso poético-textual; ela deve se entranhar nos poemas dos poetas”.
José Weis conta que sua produção é somatório de leituras que passam por Monteiro Lobato, Julio Verne, Guimarães Rosa, João Antônio e Graciliano Ramos, no terreno de romance, enquanto na poesia é influenciada por Cecília Meireles, Adélia Prado, Alice Ruiz, João Cabral de Melo, Carlos Drummond de Andrade, mestres da rima, entre outros. Mas acima de tudo, por Manoel Bandeira.
“Esses poemas foram gestados nos últimos três anos e alguns retrabalhados até chegar ao atual formato. Agora eles pertencem ao mundo, ganham vida própria e já começo a pensar em outros escritos. Gosto de narrativas curtas, a poesia é a mais instigante, mas pretendo me aventurar em contos”, conclui José Weis.
SERVIÇO:
O que: Cachorro Não É Uísque, de José Weis (Editora Kazuá, São Paulo,2016), 125 páginas. Preço: R$ 40,00
Onde: Bar Tutti Giorni, avenida Borges de Medeiros, escadaria “Outono” do Viaduto Otávio Rocha, 710 – Centro Histórico
Quando: Dia 19 de maio, sexta-feira, às 19h. -
Os trabalhadores do lixo, tema do novo trabalho do fotógrafo Jorge Aguiar
A fotografia de Jorge Aguiar se caracteriza por se debruçar em um mundo que raramente é olhado. O dos deserdados, da população indigente, dos miseráveis e excluídos que circundam as periferias da capital e suas lutas pela sobrevivência.
A última exposição do fotógrafo está atualmente na cidade mineira de Tiradentes, depois de ter sido recusada em Porto Alegre, e aborda o espaço físico do Presídio Central e do Manicômio Judiciário. A próxima, será aberta no dia 2 de maio, no Solar dos Câmara, e tem como temática os trabalhadores do lixo, gente que ganha a vida catando o que foi posto fora pela sociedade de consumo.
No texto abaixo, o fotógrafo Jorge Aguiar apresenta sua nova exposição:
“Se a fotografia é apenas um recurso a ser utilizado na comunicação da experiência humana, então ela serve para refletir, emocionar, provocar, construir ou destruir. Sua função artística é dizer que não estamos sós, que não estamos alheios, mortos ou prontos.
No pouco que o mundo avançou, o ser humano tem usado a arte para evoluir, compreender e enfrentar melhor o absurdo em que vive. E a fotografia não pode ser usada apenas para decorar uma parede ou um álbum com imagens jogadas em uma gaveta ou armário. A fotografia deve ser vista com os olhos e o coração. Há beleza em todos os lados.
No circo da pobreza a beleza são os favelados, sem lona ou picadeiro. Não tem arte nem tem atores, mas tem espetáculo. O dramático espetáculo da miséria, do abandono e da indiferença. Fatos que não servem exatamente para mostrar, mas para chocar e sugerir uma mudança.
O olhar desta exposição sobre os trabalhadores da reciclagem é periférico, mostra duas grandes ideologias – capital e trabalho – que dividem o mundo e é capaz de produzir uma grande fronteira no mesmo país, na mesma língua, nas famílias, ruas e dentro de suas próprias casas. A fronteira de uma cidade a torna uma terra de ninguém.
A mostra escancara a vida de pessoas que romperam com a sociedade. O compromisso é apenas com elas e com quem vive do trabalho que a maioria tenta ignorar. A sociedade não se orgulha da periferia ou de quem viu no lixo que ela mesma produz um meio de sobrevivência.
E quanto lixo produzimos… O quanto consumimos e descartamos sem dó… Como somos capitalistas, individualistas e jogamos fora com desdém, como se não tivéssemos responsabilidade com o planeta que implora por socorro.
Somente em Porto Alegre, as 17 unidades de reciclagem conseguem vender até R$ 500 mil por mês do nosso lixo. Muitos recicladores não têm documento de identidade, não existem perante a lei. Suas parcas vidas têm apenas deveres e pesos que a sociedade joga em seus ombros.
O Fio da Navalha | Trabalhadores é um trabalho documental em uma periferia onde tem seu grande paradoxo. As imagens confirmam a amarga falência de uma civilização, como a falta de emprego, o absurdo e o terror que rodeiam os trabalhadores brasileiros (violência e discriminação), sem os contos de fadas.
É a lona colorida de um circo real, com 17 fotografias e 19 crachás de rostos descoloridos marcados pelas decepções e fracassos da estrada da vida.”
Jorge Aguiar- Foto documentarista

Serviço
Exposição “O fio da Navalha/ Trabalhadores”.
Período: de 2 a 31 de maio.
Local: Solar dos Câmara – Assembleia Legislativa
Diagramação Visual: Zezé Carneiro
Colaboração no texto da jornalista Roberta Amaral
Apoio cultural: Coral Brasil e Pablo Alles Rey (Cachaças Artesanais). -
Professores da rede pública estadual decidem pela greve a partir do dia 15
HIGINO BARROS
Os professores da rede pública estadual vão entrar em greve por tempo indeterminado a partir do dia 15.
Essa foi a decisão tomada nessa quarta-feira por cerca de dois mil professores e funcionários de escolas, na Assembleia Geral promovida pelo Cpers/Sindicato, no Gigantinho.
A data coincide com a Greve Geral, convocada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (GNTE) para protestar contra as Reformas da Previdência, do Ensino Médio e das Leis Trabalhista, promovidas pelo governo Temer.
A pauta dos professores gaúchos inclui também reivindicações regionais como pagamento do piso salarial nacional, pagamento integral do 13º salário, contra o parcelamento e arrocho salarial, pela manutenção do IPE Público e pela manutenção dos direitos do trabalhadores.
Vanguarda do movimento
Os professores que foram ao Gigantinho, considerados como a vanguarda dos grevistas, terão agora até o dia 15 para aumentar a adesão da categoria à paralisação, já que as recentes greves dos professores tem contado com baixa adesão de professores e funcionários.

Foto:Carol Ferraz
No conjunto de propostas aprovadas na Assembleia Geral há atividades dirigidas contra os deputados estaduais e federais que votarão projetos de interesse dos professores e funcionalismo público em geral. Assim, haverá concentrações e acampamentos em frente à residências dos deputados, confecção de cartazes com o rostos dos políticos que apoiam as propostas governistas e pressão política em suas bases eleitorais.
Propostas aprovadas:- Aderir a Greve Nacional, chamada pela CNTE, a partir do dia 15 de março, com os seguintes eixos: Contra a Reforma da Previdência, Contra a Reforma Trabalhista, Contra a Reforma do Ensino Médio, Pelo Cumprimento da Lei do Piso Salarial Nacional, Contra os Ataques do Governo Sartori e a Retirada de Direitos, Pelo Pagamento Integral do 13º Salário, Contra o Parcelamento e Arrocho Salarial, Pela Manutenção do IPE Público e de Qualidade e Pela Manutenção dos Direitos dos/as Trabalhadores/as;
- Realizar Ato Estadual / Regional com ações fortes, no dia 15 de março;
- Realizar atividades regionais:
3.1. Escrachos e acampamentos em frente as residências dos/as deputados/as;
3.2. Fazer cartazes com os rostos dos/as deputados/as que apoiam as políticas de Temer e Sartori para retirar os direitos dos/as trabalhadores/as;
3.3. Realizar panfletagem na comunidade;
3.4. Realizar plenárias nas Escolas com a presença da comunidade;
3.5. Realizar vigília e paralisações nos dias de votação do pacote de ataques do Governo Sartori.- Participar dos Comitês Municipais contra a Reforma da Previdência Social;
4.1. Criar Comitês de Base, nas escolas, Contra as Reformas que Retiram Direitos.
- Gravar pen-drives com as opiniões dos/as deputados/as de cada região sobre a Reforma da Previdência;
- Realizar Seminário sobre a Reforma do Ensino Médio;
- Realizar Moção de Repúdio Contra a Reforma da Previdência, nas Câmaras de Vereadores;
- Realizar Ato Estadual, no dia 15/03 pela manhã, em frente a Escola de Ensino Médio Presidente Costa e Silva (Bairro Medianeira), como símbolo da perseguição que está ocorrendo nas escolas de todo o Estado;
- Unificar a luta com os demais sindicatos de trabalhadores/as e demais movimentos, criando comitês municipais e nos bairros contra as reformas neoliberais e demais ataques dos governos federal e estadual;
- Moção de Repúdio à Direção da Escola de Ensino Médio Presidente Costa e Silva e à 1ª CRE por perseguir o educador José Morais pelo fato de alterar o nome da escola ,no cabeçalho das avaliações aplicadas em suas turmas, definindo Costa e Silva como Ditador.
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Três momentos das ruas, na visão do fotógrafo Pedro Antônio Heinrich
HIGINO BARROS
O mês de março é um período de realização e visibilidade para o fotógrafo Pedro Antônio Heinrich, da nova geração de fotógrafos gaúchos. Seu trabalho está exposto no Café Picollino (Félix da Cunha, 1155); integra a exposição coletiva sobre Porto Alegre, nas comemorações do aniversário da capital, do dia 3 a dia 28, no Shopping Rua da Praia ( Andradas, 1001) e aparece no Café do Margs, (Praça da Alfândega) a partir do dia 14.
Em todas elas, a maioria em preto e branco, uma característica da identidade fotográfica que Pedro Heinrich vem construindo na sua trajetória. Fotos de rua, com luz natural, compondo um quadro de extremo realismo de pessoas e formas geométricas.

Esse seu traço autoral, fortemente explorado em suas exposições e exibições de vídeos, num total de 25 até agora, é contrabalançado na sua atividade cotidiana de fotojornalista. Até pouco tempo, ele fotograva para o colunista social Raymundo Gasparotto.
Leitura e pesquisa
Pedro Heinrich nasceu em Manaus, mora desde a adolescência em Porto Alegre, tem 30 anos, começou a fotografar com 27 anos e se define como “praticamente autodidata”. A partir do momento que passou a se interessar por fotografia foi pesquisar na internet. “Li muito, pesquisei mais ainda. Ao mesmo tempo fui indo para a prática. Aos poucos, acabei me identificando com a chamada foto de rua. Não gosto muito de estúdio, prefiro espaços, luzes e cenários naturais. É onde posso me expressar melhor”, considera.
Sem apontar influência direta, ele admira os trabalhos de Cartier Bresson, Robert Doisneau, Eric Kim, entre outros estrangeiros, e Tadeu Vilani e Jorge Aguiar, entre os gaúchos. “Cada um tem sua interpretação de fotografia. A minha é de flagrar o momento”, explica Pedro Heinrich. Apaixonado também pelo projeto de fotografia de rua que desenvolve na Escola Câmara Viajante, tem em seus planos morar fora do Brasil por um tempo. “ Está chegando a hora de eu cair na estradas com minhas lentes e máquinas. Preciso conhecer outras ruas”, conclui.
SERVIÇO: Exposições de Fábio Heinrich
Café Picollino: Exposição sobre a América do Sul- Fotos em Valparaíso(Chile), Buenos Aires(Argentina), Montevidéo (Uruguai) e Porto Alegre (Brasil)
Rua da Praia Shopping: Semana de Porto Alegre- Exposição sobre a capital gaúcha, com fotos de lugares e pessoas da cidade.
Café do Margs: Fotografias realizadas no dia a dia das ruas da capital gaúcha. -
40 anos da realidade da periferia sob as lentes de Jorge Aguiar
HIGINO BARROS
O lugar é emblemático em Porto Alegre. O Viaduto da Borges de Medeiros, no centro da cidade. Um lugar que nos últimos anos tem sido degradado pelas transformação que o centro da capital gaúcha vem sofrendo e do qual a classe média e alta fogem, abrigadas nos shopping centers da vida.
Pois é nele que está localizado o atelier do músico Luciano Riquez, reinaugurado no sábado de Carnaval, dia 25 e onde o fotógrafo Jorge Aguiar faz uma espécie de balanço de 40 anos de trajetória de fotojornalismo, toda dedicada a retratar, em última estância, em todas suas possibilidades, a vida.
Jorge Aguiar tem um trabalho voltado para as populações marginalizadas, periféricas e
desglamourizadas da capital gaúcha e arredores, através de um registro com características jornalísticas, antropológicas e documental. Trabalho reconhecido pela Unesco, pelo Instituto Cultural Marc Chagall e outras instituições nacionais e internacionais ligadas à temática dos Direitos Humanos.
Luz reveladoraParalelo à atividade de fotojornalista, há 20 anos ele desenvolve o projeto “Luz Reveladora Photo da Lata” em periferias ministrando oficinas pinhole a jovens e adultos em áreas de vulnerabilidades sociais.
As fotos em exposição no Viaduto da Borges são registro de 21 vídeos que ele produziu e realizou. “Eu me realizo nas periferias, documento as minhas guerras urbanas, eu sou de alto risco, sem lenço, sem documento, somente uma câmera nas mãos, assim o fotógrafo se define. A exposição fica no local até o dia 18 de março.

O Atelier Luciano Riquez é um atelier de arte gráfica e espaço cultural para exposições de arte e performances teatrais, musicais, entre outros, localizado no Viaduto Borges de Medeiros, 740,sala 8. O espaço para exposição é totalmente gratuito e funciona com agendamentos solicitando do artista apenas um portfólio da obra de arte, peça, ou show, para que seja feito a escolha da data disponível.
FICHA TÉCNICA:
Exposição Fotográfica “Por Onde Andei”
Edição de Imagens: Otávio Teixeira
Diagramação Visual: Zezé Carneiro
Produção: Luiz Ávila.
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Fotos gaúchas em calendário da Alemanha
HIGINO BARROS
O poeta pernambucano Ascêncio Ferreira tem um poema sobre os gaúchos que diz assim:
Riscando os cavalos!
Tinindo as esporas!
Através das coxilhas!
Sai de meus pagos em louca arrancada!
— Para quê?
— Pra nada!
Pois esse nada e esse lugar nenhum, projetado pelo poeta nordestino de maneira irônica e crítica, de certa forma é transformado e absorvido no imaginário geográfico e afetivo dos habitantes do Rio do Grande do Sul.
Pelo menos na concepção visual dos fotógrafos gaúchos que participam do calendário organizado pelo Canela Instituto de Fotografia e Artes Visuais, impresso e distribuído na Alemanha pela gráfica alemã Uscha Printmedia, do Unterleider Medien Gruppe. Na maioria das fotografias do calendário predomina a visão do espaço infinito e o céu como moldura e limite do homem que habita os campos de cá.
A versão assinada pelo Instituto e pela Uscha será distribuída para todos os clientes da gráfica, entre eles Siemens, Governo da Alemanha, Lufthansa, Deutsche Bank, entre outros. A exposição do material em Porto Alegre tem parceria com a Câmara Brasil- Alemanha.
As fotos foram selecionadas por uma curadoria binacional e serão expostas na Bolsa de Arte, de 31 de janeiro a 17 de fevereiro. A curadoria brasileira foi realizada por Eduardo Veras, Paula Ramos e Manuel da Costa.
Elemento fundamental
Segundo a curadora Paula Ramos, a paisagem é um elemento fundamental para compreender um povo, uma região. Assim ela considera natural que a maioria dos fotógrafos tenha encaminhado fotos com esse recorte. “Isso está articulado à compreensão dos fotógrafos acerca do tipo de imagem que nos representa mais. De fato, a imagem canônica do Rio Grande do Sul está associada ao interior, ao Pampa, às lides gaúchas”, diz.
Já Eduardo Veras destaca as afinidades no conjunto examinado. Mas ressalta, acima de tudo, a qualidade do material, seja do ponto de vista mais técnico, de domínio fotográfico; seja do ponto de vista mais estético, de construção das imagens.
“As fotografias tinham em sua maioria, quase totalidade, um alto grau de realização. Em comum ainda, o fato de serem em preto e branco e de procurarem, por diferentes caminhos, evocar alguma ideia de Rio de Grande do Sul”, observa Veras.
Alguns fotógrafos tiveram mais de uma imagem selecionada. Paula Ramos considera que a partir da pré-seleção feita pela curadoria local a curadoria alemã equilibrou a escolha final entre os temas da paisagem e do gaúcho “em sua imagem telúrica, em sua relação amorosa com a terra e com o trabalho”.
Objetivo principal
O projeto de fazer um calendário bilíngue com a paisagem gaúcha, com uma curadoria local primeiro e outra complementar na Alemanha, surgiu do Instituto de Fotografia e Artes Visuais de Canela. Segundo o fotógrafo Fernando Bueno, o objetivo principal do instituto é divulgar a fotografia brasileira e o projeto da instituição no exterior.
“A gráfica alemã existe há mais de 90 anos e tem uma grande tradição em calendários de parede. O do ano passado foi sobre a Etiópia. Seu representante no Brasil mora em Canela e levamos dois anos em conversações. Como aqui é um dos destinos de maior imigração de alemães, houve um interesse natural deles de conhecer o Rio Grande do Sul. Havia uma quantidade grande de material enviado, foi necessário uma curadoria local que selecionou 25 fotos. Era para ser 13 no calendário, mas acabaram ficando 16”, explica Fernando Bueno.
Os fotógrafos são: Clovis Dariano, Dudu Contursi, Edy Koltz, Eneida Serrano, Fernando Bueno, Fabio Del Re, Gilberto Perin, Leonardo Savaris, Leopoldo Plentz, Luis Abreu, Luis Carlos Felizardo, Paulo Backes, Martins Streibel, Tadeu Vilani e Zé Paiva.
SERVIÇO
Exposição Fotográfica: Brasilien: O Rio Grande do Sul na Alemanha
Local: Bolsa de Arte (Rua Visconde do Rio Branco- 365)
Data: de 31 de janeiro a 17 de fevereiro
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Em “Milagres”, Beto Rodrigues mostra a natureza e a população de um lugar paradisíaco
HIGINO BARROS
O paraíso terrestre existe, está localizado no Brasil e para usufruí-lo basta estar disposto a descobri-lo. Essa é uma das conclusões que o fotógrafo Beto Rodrigues trouxe de sua viagem à São Miguel dos Milagres, uma cidade de pescadores encravada no litoral alagoano, que nos últimos anos passou a fazer parte do circuito turístico do Nordeste.
O olhar dele sobre o lugar será mostrado na exposição “Milagres”, a partir do dia 24 na sala “Arquipélago”, no Centro Cultural CEEE Erico Verisssimo, na rua dos Andradas. A mostra tem texto de apresentação da jornalista e historiadora Márcia Ameriot.
“Não tinha a menor ideia do que ia encontrar lá. Foi uma escolha da minha mulher, Marcia Ameriot, para a gente passar as férias em Alagoas. Chegando no lugar, foi uma atração e encantamento imediato. A cidade tem um passado como rota de passagens para quilombos da região e vive hoje de turismo e de pesca artesanal, que supre a localidade. Há uma comunidade muita expressiva de negros, mas suas práticas religiosas africanas não são visíveis. Há uma invasão de igrejas pentecostais, embora a religião católica ainda predomine entre a população”, são as observações do fotógrafo.
Aspectos formais
Nessa abordagem, Beto Rodrigues diz que não se preocupou com aspectos formais de outros trabalhos anteriores, como visão antropológica, histórica ou cultural do objeto fotografado. “Saiu tudo sem formalidade, de forma espontânea, sem muito planejamento. O ponto de partida foi a integração com a população local. Eles são extremamente simples, receptivos e orgulhosos de sua condição. É uma postura que confronta quem mora em cidade grande e traduz felicidade com consumo e progresso material. Na vivência deles, há outras maneiras de ser feliz e passar por essa vida de uma forma mais harmônica”, conta.
São 30 fotos em preto e branco e a cores que mostram paisagens, moradores da cidade, o cotidiano de trabalho, festejos religiosos católicos, crianças e acima de tudo uma natureza exuberante, integrante de um dos litorais mais bonitos do País.
Assim Beto Rodrigues procurou traduzir nas fotografias de “Milagres”: o paraíso terrestre existe, está localizado no Brasil e para usufruí-lo basta ter sensibilidade e… merecê-lo, como faz a população de São Miguel dos Milagres.
O quê: Exposição fotográfica “Milagres”.
Abertura: 24 de janeiro de 2017, às 19h.
Visitação: Até 04 de março de 2017, de terça à sexta-feira, das 10h às 19h e, no sábado, das 11 às 18h.
Local: Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (Rua dos Andradas, 1223 – Centro Histórico de Porto Alegre).
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Dia do Leitor na Praça da Alfândega: "É hoje o aniversário do Quintana?"
HIGINO BARROS
O casal passou em frente às esculturas dos poetas Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade, na Praça da Alfândega, e a mulher perguntou: “hoje é aniversário do Quintana?”.
A pergunta foi motivada pelo que ela viu no local. Um grupo de pessoas reunido em frente as figuras dos poetas e alguém lendo poesia.
O fato aconteceu no sábado passado, dia sete, data que não tem nenhuma relação com Quintana, mas é o Dia do Leitor, uma efeméride como muitas que existem no País.
Aproveitando a oportunidade, amantes e apreciadores de literatura, de leitura e afins, reuniram-se durante seis horas e meia na Praça da Alfândega e celebraram o livro, declamando poesias, lendo trechos de romances, ensaios e até bula de remédio, já que no convite feito na página do evento na web era permitido ler o que bem entendesse. Inclusive lista telefônica e bula de remédio.
A diretora da Biblioteca Estadual Morganah Marcon, uma das primeiras apoiadoras da iniciativa, levou 50 livros para doação, que foram deixados em alguns bancos da praça e levados por quem passou no local. Os organizadores do evento calculavam que de 30 a 50 pessoas atenderiam ao convite feito no face book.
O jornalista Ayres Cerutti, autor da ideia da celebração, calcula que cerca de 100 pessoas, de alguma forma, se envolveram com o evento, lendo em público, pegando livros ou parando para conversar.
Sofisticação e simplicidade
Na parte da leitura, houve sofisticação, simplicidade, bom humor, emoção e outros pequenos detalhes. O jornalista Júlio Sortica, recém chegado da Espanha, leu a abertura de Metamorfose, de Kafka, de um livro adquirido em Madri. Os versos do poeta regionalista Antônio Ferreira foram declamados por Francisco Fontoura.
Como era véspera do vestibular da UFRGS, muitos estudantes do interior e familiares, hospedados na área central, circularam pela Praça da Alfândega. Três deles, coincidentemente, de Medicina, pararam, pegaram livros e conversaram com participantes do evento. O que levou à seguinte pergunta: e onde estão os estudantes de Letras, Comunicação e outras área de Ciências Humanas?
Já o jornalista Elmar Bones, lembrou do amigo Danilo Ucha, falecido em 2016, um grande amante de livros e leu um poema do russo Maiakovski, leitura incentivada na adolescência por um professor dele e de Ucha, em Santana do Livramento.
Contação de história
A psicanalista Anelore Schumann e sua colega da Escola de Poesia, Cintia Lang, leram obras publicadas na revista Ovo da Ema. A professora da UERGS, Ana Carolina realizou uma contação de história arrebatadora. O museólogo Yuri Victorino deu o tom gaiato ao encontro, ao levar e ler bulas de remédio. Dezenas de outras pessoas, conhecidas ou não, ao longo do sábado, entraram no clima do evento.
Mas quem roubou a cena em matéria de declamação foi a poeta Adélia Eisenfeld. Declamou poesias de sua autoria, cativando todos com sua empolgação e amor pela leitura, em tempos que ações culturais são pouco valorizadas, em nome da economia e gestão.
O Dia do Leitor foi tão gratificante e prazeroso para seus participantes que ficou combinado a realização de outros semelhantes, no primeiro sábado de cada mês. Com tempo mais a reduzido, mas no mesmo Batlocal, como diria leitor de quadrinhos, um jeito de começar a ler. Já que todo tipo de leitura vale a pena. Ainda mais quando realizado em local emblemático de Porto Alegre, como a Praça da Alfândega.
