Naira Hofmeister
Depois de 68 anos instalada em sedes nos bairros Independência e Bom Fim, a relação da Escola Argentina com o bairro chega ao fim quando a casa da Rua Garibaldi será entregue ao proprietário, dia 31. O diretor-geral da SEC, Ervino Deon, antecipa que quando reabrir, a escola estará longe do centro. “Não há porque manter um vínculo meramente sentimental com o bairro. A Lomba do Pinheiro e a Restinga precisam muito mais”, defende Ervino.
Foram quatro sedes diferentes nos últimos 20 anos, vai e vem invariavelmente acompanhado da promessa da construção da sede definitiva.
Vasculhando os documentos arquivados na escola o que mais se encontra são solicitações de ex-diretores para que seja tomada uma providência definitiva. Cartas endereçadas à Alceu Colares, Olívio Dutra e até à primeira dama Rosane Collor de Melo. “Nossa escola luta há muito para conseguir um prédio onde possa se instalar definitivamente”, está escrito.
A Argentina possuía um terreno destinado para esse fim na esquina da Irmão José Otão com a Santo Antônio. “Mas o [governador] Colares doou para a CRT”, lembra a ex-diretora Yvone da Silva Caballero. A área acabou entrando na negociação com a Brasil Telecom durante as privatizações na gestão de Antônio Britto e hoje abriga um prédio da empresa. Uma alternativa apresentada pelas professoras foi utilizar parte do terreno da primeira casa. “Mas venderam exatamente para a construção de um hotel”, condena Yvone.
A SEC salienta que o fechamento é temporário e repete o discurso. “Podemos construir um prédio novo ou nomear uma escola já existente”, anuncia o diretor-geral da SEC, Ervino Deon.
“Duvido”, contesta Yvone. Razões não faltam. Entre as inúmeras atas de reuniões com autoridades, realizadas para solucionar definitivamente o problema, uma é emblemática. “Solicitou a comunidade um compromisso por escrito do governador, quanto à construção do novo prédio, ao que respondeu a sra. delegada Iara Wortmann, que não havia necessidade pois todos os compromissos assumidos pelo governo forma mantidos e cumpridos”.
Uma escola errante
Nos últimos vinte anos a escola teve quatro endereços diferentes. Fundada em 25 de setembro de 1940, ocupou um casarão na Independência, que foi cedido em 1984 para a Fundação Nacional Pró-Memória. O contrato de dez anos foi feito em troca das reformas que a casa necessitava.“Não havia nenhuma condição de permanecermos lá: estava tomado de cupins”, relata a ex-diretora Yvone. Além da praga de insetos que corroíam a madeira da escola, em 1981 um temporal provocou a interdição do prédio.
A imponente construção da Independência carrega o nome da escola até hoje. Era um ambiente pomposo que pode ser visto nas fotos da época. “Tinnha lindos vitrais e uma mobília maravilhosa”, lembra Yvone.
A busca foi intensa, mas o resultado não agradou. “Em fins de março, mudamo-nos para o prédio n° 339 da João Telles, com uma área muito menor e capacidade inferior”, explica um documento entregue na época à Secretaria de Educação.
A diretora aposentada conta que as professoras não tinham mesa, pois o espaço não comportava. “O prédio era tão pequeno que a biblioteca teve que ser instalada numa outra casa, na Vasco da Gama”, lembra.
Seria uma solução provisória, por apenas seis meses, mas durante nove anos a escola funcionou ali. Em 1990, o proprietário pediu que a SEC entregasse o prédio. O governo não estava pagando o aluguel. “Fomos ameaçados de despejo”, relata a diretora aposentada.
Novamente sem abrigo, a escola chegou a funcionar durante o “turno intermediário” do Anne Frank. As aulas começavam às 11h e terminava às 14h. “Foi um caos! As crianças não tinham como ir e voltar do colégio pois os pais estavam trabalhando”.
A casa da Garibaldi que desocupa agora foi alugada em 1991, mas a medida não impediu o desmonte de turmas da escola. Quando foi impedida de abrir suas portas no início do ano letivo de 2008, contava 160 matrículas entre a 1ª e a 4ª série e tinha 13 professores. Antes de 1981, quando ainda funcionava no prédio da Independência, eram 800 alunos e 63 mestres.
Essa matéria foi publicada na segunda edição de março do jornal JÁ Bom Fim/Moinhos que está circulando nos 10 bairros da região central de Porto Alegre.
Boicote à Escola Argentina começou há 20 anos
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