Texto de Carlos Brickmann, publicado no Observatório da Imprensa
Cala a boca, jornalista!
O título é copiado de um livro de Fernando Jorge – e bem copiado, já que o tema é o mesmo. Trata-se, aqui, da tentativa de destruir o trabalho de um profissional de primeira categoria, Elmar Bones, que edita o jornal JÁ, de Porto Alegre.
A briga é feia: primeiro, porque o adversário de Bones é o político Germano Rigotto, ex-governador do Estado, candidato ao Senado pelo PMDB gaúcho, e que ainda por cima se oculta por traz de sua mãe, Julieta Rigotto, uma senhora de 89 anos.
O Clube de Editores e Jornalistas de Opinião do Rio Grande do Sul, numa reunião realizada pela internet, decidiu “não opinar” no caso que envolve um jornalista e um político. Motivo: “Evitar qualquer conotação político-eleitoral”.
Para usar o mesmo critério, não se deveria sequer noticiar o Bolsa Família de Erenice Guerra. Elmar Bones está só – mas já está acostumado. Nos idos da ditadura, com seu excelente Coojornal, estava sozinho, como hoje, contando apenas, também como hoje, com o apoio de quem gosta da boa imprensa.
O caso é antigo. Em 2001, o JÁ publicou reportagem sobre o envolvimento de Lindomar Rigotto, irmão de Germano, numa licitação que gerou CPI. “De tudo o que se apurou”, diz o relatório da CPI, “tem-se como comprovada a prática de corrupção passiva e enriquecimento ilícito de Lindomar Vargas Rigotto”.
A reportagem do JÁ, baseada na CPI e nas investigações do Ministério Público, ganhou o Prêmio Esso regional, o Prêmio ARI, da Associação Riograndense de Imprensa. Valeu-lhe o processo. E, como todos sabem que Bones não é rico, este foi o caminho escolhido pela família Rigotto: bloquear seus bens, prolongar ao máximo o processo, para aumentar suas despesas e sufocá-lo.
Talvez não dê certo: a juíza Fabiana Zilles, da 2ª Vara Cível da Fazenda Pública de Porto Alegre, deu o caso por concluso, o que significa que falta apenas a sentença. E a manutenção do processo até agora pode-se revelar um erro fatal de Rigotto: Ana Amélia Lemos, jornalista competente e simpática que se transformou em candidata, deve ser eleita para o Senado. Rigotto seria o segundo nome.
Mas, com o escândalo estourando, pode perder o posto para Paulo Paim, do PT, que ganharia a reeleição quase de graça.
Sobre o caso, ver, neste Observatório, O jornal que ousou contar a verdade, Como calar e intimidar a imprensa e Desculpa para calar a opinião.