Higino Barros
Com toda a desordem cultural no Brasil de hoje, para se ater à área em questão, há bolsões de resistência que demonstram que nem tudo está perdido. Uma prova disso é o novo trabalho das cantoras Celia e Celma. Uma coletânea de ritmos ancestrais brasileiros, com as particularidades dos ritmos e gêneros, intencionalmente, iniciarem com a letra C, evocando a inicial de seus nomes.
Assim, desfilam pelo CD cateretês, congadas, calangos, charolas, chamamé e chimarrita, cururus, curraleiras, chulas, toda uma roupagem musical que permeou o cenário da canção nacional do século XVI a começos do século XVIII. Antes do samba, chorinhos e valsas, posteriormente incorporados.
Nativas de Minas
Celia e Celma são nativas da Zona da Mata de Minas Gerais e têm se dedicado a fazer registros do cancioneiro popular brasileiro. Um dos mais conhecidos e elogiados é sobre a produção mineira de Ary Barroso.
O atual trabalho é primoroso. Tem desenho do mineiro Ziraldo e é tocado por músicos virtuoses, em formações que preservam as bandas dos jesuítas com viola, sopro e tambor. O CD está sendo distribuído pela Tratore. Entrando no site dessa distribuidora há vários caminhos para acesso à obra.
Segundo o jornalista José Antônio Severo, há poucos dias houve um show que ele chama dos “Três Tenores do Sertanejo”, reunindo Almir Satter, Renato Teixeira e Sérgio Reis, num grande auditório de São Paulo, na Barra Funda.
Severo relata: “os caras insistiram para que elas fossem. Pois não é que no meio do espetáculo os três, ao microfone, anunciaram a presença das gêmeas e elogiaram o disco como um resgate precioso dos ritmos de raiz de todo o país num único conjunto . Um deles, não sei qual, creio que foi o Sérgio, disse que o CD é um livro, mais do que um disco”.

Danças de antanho
Outro jornalista, o crítico musical Tárik de Souza, escreve sobre o “Canto com C”:
“Como se fosse o prefácio de um livro, a obra contem na sua primeira faixa um cateretê, ritmo de origem jesuítico-indígena, com letra de autoria das próprias pesquisadoras. O repertório vai do Carimbó paraense à chimarrita dos gaúchos, destacando “Menina Lavadeira”, de Telmo de Lima Freitas. Essa coletânea resgata exemplos das modas e cantos que se dançavam no Brasil de antanho, nos tempos em que os aventureiros e tropeiros levavam de uma região a outra a cultura popular para salões e terreiros.
“Canto com C” mostra recortes em que se fundiram subculturas brasileiras que já se construíam nos aldeamentos sertões a fora, com os padres musicando e botando instrumentos nas danças dos índios e dos africanos adicionando suas músicas à essa miscigenação cultural.
Desta forma, “Canto Com C” é um disco que, não obstante releia esses ritmos com o sotaque de cada região em que se firmou, mostra uma certa unidade do folclore das diversas regiões, em que o País pode reconhecer-se de ponta à ponta, pois os cururus, curraleiras, chulas, recortados e mesmo o chamamê criado pelos jesuítas das missões guaranis do Rio Grande do Sul, chegavam a todo o País levado pelos tropeiros que abasteciam as populações de mineiros, paulistas e nordestinos. Todos esses ritmos ainda são parte dos folguedos rurais
CD de Celma e Célia resgata ritmos que formaram a identidade musical brasileira
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