Cerros dos Porongos deve ser tombado

Guilherme Kolling

Cerro dos Porongos, no município de Pinheiro Machado, pode ser mais um local da Revolução Farroupilha tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O processo está em andamento há quatro anos, desde que o movimento negro passou a se mobilizar pelo resgate do massacre de Porongos, que aconteceu no local.

Foi uma batalha no final da Guerra dos Farrapos, em 14 de novembro de 1844 – completa 163 anos nesta quarta-feira –, que resultou na morte de um grande contingente de soldados negros, entre eles o famoso corpo de lanceiros negros.

Com isso, o local deve ser o primeiro relacionado aos negros que será reconhecido como patrimônio histórico. A Prefeitura de Pinheiro Machado comprou 3 hectares da região, onde deve ser feito o Memorial dos Lanceiros Negros. O projeto já foi escolhido através de concurso nacional de arquitetura, promovido pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil.

Outros cinco locais relacionados à Guerra dos Farrapos estão entre os bens tombados pelo IPHAN, todos relacionados a personagens brancos. São imóveis de personagens importantes ou prédios que foram usados como base de líderes dos exércitos.

Piratini abriga três desses locais: o Palácio do Governo Farroupilha (construído em 1826 e tombado em 1941), o Quartel General Farroupilha (construído no início do século XIX e tombado em 1952), e a casa do general Giuseppe Garibaldi (tombada em 1941).

Em Triunfo, está a morada onde Bento Gonçalves nasceu – hoje ela abriga o Museu Municipal Bento Gonçalves (construída em 1754 e tombada em 1940). Santana do Livramento tem a casa de passagem do comandante David Canabarro (construída em meados do século XIX e tombada em 1953).

A casa de Canabarro será sede do Museu do Pampa, que vai contar a biografia do ícone farroupilha e um pouco das práticas e lidas campeiras. O local foi tombado em 1953, graças à mobilização iniciada pelo historiador da cidade Ivo Caggiani.

Legenda: Área foi palco de batalha que dizimou solados negros do exército farrapo
Crédito: Acervo IPHAN

Traição ou surpresa?

Em 1844, imperiais e farroupilhas lidavam para pôr fim à Guerra dos Farrapos que se arrastava por quase 10 anos. Os negros que lutaram ao lado das tropas revolucionárias eram um empecilho ao acordo, pois ficariam livres tão logo acabasse o confronto. Como conciliar uma província com negros libertos e um país escravocrata? A solução foi pragmática.

Na madrugada de 14 de novembro de 1844, o exército farroupilha acampado no Cerro dos Porongos sofreu um ataque de surpresa das tropas sob comando do coronel Francisco Pedro de Abreu, o Chico Moringue, que foi direto ao ponto onde se concentravam os lanceiros negros. Sem munição, recolhida na véspera sob pretexto de uma possível revolta, eles foram massacrados. Soldados brancos e índios, acampados ao lado, tiveram tempo de fugir e se salvaram.

Esta versão da penúltima batalha da Guerra dos Farrapos vem ganhando força nos últimos anos. Seus defensores dizem que o episódio até agora conhecido como “Surpresa de Porongos” merece ser chamado de “Traição de Porongos”. Além de martirizar os soldados negros mortos na revolução farroupilha, é uma revisão que fere a biografia de dois heróis: o general David Canabarro e o Duque de Caxias, comandantes dos dois exércitos e responsáveis pelas negociações de paz.

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