Cinquenta mil mulheres negras marcham por seus direitos e imprensa ignora

Vera Daisy Barcellos
Cinquenta mil mulheres negras estiveram, na quarta-feira (18) sob o sol forte de Brasília, participando da Marcha Nacional de Mulheres Negras 2015: Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver.
E fizeram história. Ao longo tempo que virá, todas serão protagonistas de estudos que apontarão o significado social e político desta marcha no cenário deste país minado por uma crise institucional.
A estimativa numérica é das participantes do evento, referendada pela observação de alguns policiais militares que acompanhavam o desenvolvimento da marcha cuidando do trânsito. Um portal, campeão de “likes”, só enxergou quatro mil mulheres (e o evento já estava com mais três horas de duração).
Mas enfim, o ponto alto da manifestação (mesmo com tiros de um fascista) foi a chegada à Praça dos Três Poderes, no Eixo Monumental, e a entrega da plataforma contemplando reivindicações históricas da população feminina brasileira negra – 49 milhões – à presidenta da República, Dilma Rousseff, propondo um novo modelo de desenvolvimento que pense a vida em sua integralidade, intensifique a defesa dos direitos humanos e a redescoberta da preservação da natureza.
Percebo que a mídia tradicional, para não deixar de ser diferente, não fez a devida cobertura. Ou seja, confirmou a invisibilidade das mulheres negras nos meios de comunicação. Para não dizer que não houve divulgação, o jornal da noite de uma das principais redes de TV, entre outros, minimizou este histórico movimento das mulheres negras, dizendo que durante a “passeata” houve confronto entre as manifestantes da marcha e os manifestantes contrários à presidenta Dilma no gramado do Congresso Nacional.
Ou seja, a Marcha das Mulheres Negras, visível por rápidos segundos, serviu de pano de fundo para o noticiário que dominou as reportagens das emissoras de rádio e TVs do dia de ontem, sobre quem havia autorizado o acampamento no gramado daqueles que são a favor de uma intervenção militar no país.
Zapeei por diferentes canais televisivos e nada que mostrasse o que eu havia vivenciado intensivamente. Graças aos celulares da mulherada, a marcha esteve em tempo real nas redes sociais.
O Núcleo dos Jornalistas Afrobrasileiros do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS, mais o Fórum Livre de Mulheres Negras, do qual também faço parte, e outras representações feministas e de mulheres gaúchas assinaram presença.
Simbolizaram mais de 600 mil mulheres negras gaúchas jovens, adultas, heterossexuais, lésbicas, idosas, meninas, com deficiência, quilombolas, agricultoras, privadas de liberdade, adeptas de diferentes cultos e religiões.
Em todo o percurso, as vozes ressonantes das participantes reforçaram a denúncia do persistente racismo e machismo que afetam sensivelmente as mulheres negras e a juventude negra.
E no contexto do bem-viver, colocaram novas formas de organização social e política, busca um novo modelo de desenvolvimento pensando a vida em sua integralidade, na intensa defesa dos direitos humanos e na redescoberta da preservação da natureza.
Porque as mulheres negras marcharam
Para denunciar o crescimento dos assassinatos das mulheres negras. E pelas inúmeras mortes por abortos clandestinos;
Pela garantia de atendimento e acesso à saúde de qualidade às mulheres negras e pela penalização da discriminação racial e sexual nos atendimentos dos serviços públicos;
Para protestar contra o processo educacional que amplia gradativamente a distância entre brancas e negras, conforme o aumento da escolaridade;
Pelo fim do racismo e sexismo produzidos no noticiário do jornais impressos e televisivos que promovem a violência simbólica e física contra as mulheres negras;
Pela titulação e garantia das terras quilombolas, especialmente em nome das mulheres negras;
Pelo fim do desrespeito religioso e pela garantia da reprodução cultural de nossas práticas ancestrais de matriz africana;
Pela nossa participação efetiva na vida pública;
Pelo direito às cidades, luta das mulheres negras urbanas que também buscam empoderamento político e social.

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