As calçadas do Centro ficaram livres dos produtos dos camelôs irregulares (Fotos: Naira Hofmeister)
Naira Hofmeister
A vendedora de sorvetes na rua Voluntários da Pátria estranhou: “Ué, hoje não tem camelô na rua?”. Pelo jeito, a senhora fazia parte de uma minoria que não estava informada sobre a ação da Smic contra o comércio de mercadorias ilegais no centro de Porto Alegre. As ruas onde os camelôs se aglomeram diariamente estavam na manhã desta segunda-feira (7) liberadas para o trânsito de pedestres. A maioria da população aplaudiu a atitude da Prefeitura.
A Prefeitura promete revezar diariamente quase 100 fiscais da Secretaria de Indústria e Comércio no controle dos chamados “caixinhas”, os ambulantes não autorizados pela prefeitura, que vendem principalmente óculos, CDs falsificados. Eles foram divididos entre as áreas mais criticas, 30 se concentrando na Praça 15 e outros 60 espalhados pelas ruas laterais, como Voluntários da Pátria, Otávio Rocha, Borges de Medeiros e Salgado Filho.
“A orientação é manter a atenção e não deixar montar a barraquinha. Recolher a mercadoria e identificar o vendedor, para que não retorne mais”, explica Rogério Teixeira Stockey, chefe da fiscalização da SMIC.
A Brigada Militar destacou um corpo especial para dar apoio à ação. Segundo o comandante da operação, Capitão Trajano, serão dezenove homens pela manhã e outros dezenove à tarde, motos e viaturas. Porém, no primeiro dia da ação dos fiscais nas ruas do Centro da Capital, o número de policiais foi maior. Havia um policial em cada esquina do Centro e vários circulando pelas ruas.
Apesar da presença ostensiva, o Capitão Trajano afirma que “não vai haver confusão”. Ele adverte que a SMIC tem poder para interferir no comércio ilegal e que seus comandados só estão garantindo a integridade dos fiscais: “Os camelôs podem sair administrativa ou criminalmente; nesse caso, a Brigada vai atuar”, explica.
Poucos ambulantes se arriscaram a vender as mercadorias
Nas primeiras horas de operação, foram apreendidos cerca de 500 CDs e DVDs com um homem e alguns óculos de sol com outro vendedor. Os fiscais ainda recolheram dois expositores, onde seriam colocadas as mercadorias. Não houve confusão e ninguém foi preso.
Para a gerente da Loja Multisom da Otavio Rocha, Maria Duarte, a fiscalização vai garantir as vendas do comércio legal: “Perdemos cerca de 50% da venda diária por causa deles”. Ela explica que, na loja, um lançamento chega a custar R$ 35,00; no camelô, o mesmo CD sai por três reais.
Ambulantes camuflaram as vendas
A presença de policias e agentes da Smic intimidou os ambulantes. Poucos se arriscaram a vender as mercadorias. Camuflado no meio dos legalizados, um homem sentado numa cadeira repetia frase já tradicional “CD ou DVD, amiga”? Garantiu que a mercadoria não estava toda com ele, “mas pede aí, que eu arranjo ligeiro”, finalizou.
Na esquina da Dr Flores com a Voluntários da Pátria, três vendedores se reuniram para definir qual a melhor estratégia. Diane puxava o coro: “Vamos fazer protesto, gente!”. Com o passar do tempo, o número aumentou. O único consenso era de que não havia condições para trabalhar. Fora isso, as sugestões eram diversas: “Vou vender na parada de ônibus, se for preciso”, disse um. Outro não queria nem saber: “Vamos quebrar tudo!”. O rapaz acredita que assim a Smic voltaria atrás na decisão.
Daiane conta que não esta na rua por opção, mas por necessidade: “Tenho que levar fraldas e leite para minha filha. Já pensou se eu não arrumo dinheiro hoje”? E completa: “Não trabalho para ninguém. Eu já fiz ficha na C&A e na Marisa, mas nenhuma me chamou. E olha que eu tenho estudo”. Daiane tem o segundo grau completo. Para ela, um dia de trabalho rende cerca de R$ 150,00: “Em dia bom, até R$ 300,00”.
Depois das 10 horas da manhã, alguns mais corajosos começaram a estirar as lonas amarelas na calçada e armar as banquinhas. Na Marechal Floriano com a Salgado Filho, Alexandre e Odorico estavam ressabiados, mas como a mercadoria deles não é pirateada, acreditam que não serão atingidos: “Vou colocar só uns dois ou três quadrinhos e ficar na manha”, disse Odorico. Alexandre aproveitou para fazer uma crítica à fiscalização da Secretaria: “Eles fazem tudo errado. Primeiro liberam o ano inteiro, as ruas ficam tomadas de camelôs, e agora, que tá todo mundo acostumado, eles resolvem nos mandar embora.”
Sidney, que normalmente freqüenta a Praça 15, hoje estava um pouco mais escondido. Escolheu uma esquina da Riachuelo e se manteve atento à fiscalização. Ao perceber uma Kombi vindo em sua direção, saiu correndo e entro num estabelecimento – provavelmente de amigos. Mas o automóvel não era da Smic e Sidney voltou sorrindo, aliviado: “Vou ficar aqui até que me peguem”, desafiou.
Deixe um comentário