Cleber Dioni
A morte do ex-presidente da República, João Goulart, há 31 anos, rendeu ontem a instalação de mais uma comissão parlamentar gaúcha que se propõe investigar as circunstâncias em que morreu o político de São Borja, em dezembro de 1976, em sua fazenda em Mercedes, na Argentina.
A primeira comissão, em 2001, acompanhou os trabalhos de outra comissão, na Câmara Federal, em Brasília. Ambas não geraram resultados significativos que comprovassem o assassinato, hipótese defendida principalmente por parlamentares pedetistas, em especial o ex-governador Leonel Brizola, genro de Jango, que sempre insistiu com o governo brasileiro para que investigasse melhor o caso.
Agora é a vez de deputados que integram a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa. Quatro parlamentares – Adroaldo Loureiro (PDT), Dionilson Marcon (PT), Paulo Brum (PSDB) e Marco Peixoto (PP) formaram ontem pela manhã uma subcomissão para investigar a morte de Jango. O pedido foi feito pelo deputado Loureiro, que vai assumir a coordenação dos trabalhos. Terão 120 dias para apresentar um relatório final.
O objetivo, segundo o trabalhista, é contribuir com as investigações da Polícia Federal, Procuradoria-Geral da República e Congresso Nacional, desencadeadas a partir de depoimentos à imprensa, no início deste ano, do ex-policial uruguaio Mário Neira Barreiro, que disse ter participado dos planos para matar o ex-presidente, durante o exílio. Barreiro está preso na penitenciária de Charqueadas, acusado de tráfico de armas e assaltos a carros forte.
A subcomissão pretende se reunir na próxima segunda-feira, dia 25, para organizar uma pauta de trabalho. Já foi convidado para participar dessa primeira reunião o neto de Jango, advogado Cristopher Goulart, que preside o Instituto João Goulart. Em seguida, deverá ser ouvido Barreiro.
“Queremos ter acesso a documentos do SNI (Serviço Nacional de Inteligência) e outros que possam nos trazer algum esclarecimento. Já entramos em contato com o secretário Malmann para termos acesso ao senhor Mário Barreiro. Em seu depoimento à Polícia Federal, ele cita um rol de testemunhas que poderiam acrescentar alguma coisa. Queremos ver com o Instituto Geral de Perícias da possibilidade de ter algum vestígio no caso de uma exumação do cadáver do ex-presidente. Enfim, vamos trabalhar junto com o João Vicente, filho de Jango, e demais familiares, para esclarecer definitivamente a morte do ex-presidente”, explica Loureiro.
Notícia requentada
Para o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, a versão de Barreiro de que Jango não morreu de enfarte decorrente de problemas cardíacos, mas por ter ingerido cápsulas de veneno no lugar dos remédios, a mando do governo militar brasileiro, é notícia requentada.
Embora o ex-funcionário da Inteligência do Uruguai na década de 70 tenha revelado detalhes que poderiam dar credibilidade a sua versão, Krischke garante que o Barreiro conta essa história desde 2000 em busca de notoriedade. “Ele era policial e sabia que Jango estava sendo monitorado, então reuniu algumas informações e agora romanceia, quer publicar um livro”, afirma.
Quem foi
João Belchior Marques Goulart, filho de Vicente Rodrigues Goulart e Vicentina Marques Goulart, nasceu no dia 1º de março de 1919 na Estância Yguariaçá, no distrito (hoje município) de Itacurubi, em São Borja.
Foi casado com Maria Thereza Goulart, a primeira-dama mais bonita do país, com quem teve dois filhos, João Vicente e Denise, hoje com 41 e 39 anos, respectivamente.
O início da carreira política foi como deputado estadual em 1947, quando se elegeu com pouco mais de quatro mil votos para a Assembléia gaúcha.
Antes de assumir a presidência da República, foi por duas vezes vice-presidente, de Juscelino Kubitschek (1956-1961) e de Jânio Quadros (31 de janeiro a 25 de agosto de 1961).
Através das “Reformas de Base” de seu governo, criou admiradores e inimigos poderosos. Foi deposto da presidência em 1964 através de um golpe militar, tendo se exilado no Uruguai e na Argentina. Morreu 12 anos depois, quando se preparava para voltar e ser apenas o estancieiro Jango.

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