Filósofo, jornalista, teatrólogo, escritor, o gaúcho Luiz Carlos Maciel foi o guru da contracultura, que influenciou uma geração de brasileiros.
Em seu novo livro “O Sol da Liberdade”, Maciel revisita os pensadores e as experiências que o marcaram na luta “contra todas as formas que a engrenagem se utiliza para aprisionar o indivíduo e distraí-lo de sua capacidade de gerir o próprio caminho”.
A LIBERDADE É UM SOL
Patrícia Marcondes de Barros*
No seu livro “O Sol da Liberdade” ( Vieira&Lent Casa Editorial, R$ 39,00),o escritor gaúcho Luiz Carlos Maciel nos traz reflexões sobre temas atuais, ensaios, entrevistas e algumas experiências que vivenciou e que marcaram sua visão de mundo.
Uma visão permeada por horizontes de influências e possibilidades: de Phillip J. Dick e Jorge Mautner, de Baudrillard a Isabel Câmara, de Norman Mailer às experiências religiosas da seita União Vegetal.
Descondicionamento e criação, como sugere o pensamento orientalista, Maciel passeia pelos escombros da pós-modernidade e o fim da história em “A política da insanidade” – capítulo que trata do esgotamento de um modelo linear de representação para explicar a história da humanidade – e o início de sua reversão, como concebe o filósofo Jean Baudrillard.
Esta reversão se reflete na ascensão do discurso da direita, da política imperialista norte-americana, das teorias conspiratórias e de um efeito perverso que deslocou o mundo real para o virtual.
É o início da chamada “Era da Mediocridade” que, segundo Maciel, tem como característica principal o conservadorismo, principalmente o da juventude atual, a “geração facebook” – conectada às novas tecnologias de comunicação.
Simulacros, “compartilhamentos e curtições” num mundo de efemeridade e de liquidez de significados.
Analisa o movimento juvenil brasileiro, que se tornou conhecido por muitos como “a revolução dos vinte centavos”, e traça um paralelo com James Joyce e aquilo que chamou de “here comes everybody”.
Em “Contracultura e erotismo” passamos para a discussão da contracultura, tema que ainda hoje suscita polêmica.
Muitos negam que tenha sido um marco, uma transição entre os pensamentos moderno e pós-moderno, e o caracterizam como um movimento imaturo, subjetivo, individualista e utópico, que foi facilmente cooptado pelo sistema capitalista.
Outros tentam teorizar o que não é descritível: o espírito de uma época, o aspecto dionisíaco, o lúdico e o caráter de experimentalidade em todos os gestos. Ao mitificar tal movimento, o petrificam.
A busca por uma existência autêntica levou parte da juventude dessa época a ampliar o conceito de política, estendendo-o ao corpo, ao comportamento dos indivíduos, à questão sexual.
As considerações marxistas já não respondiam aos novos paradigmas que se impunham. Aqui, o autor aborda o tema (e a necessidade de transcender, superar a questão sexual) através da literatura erótica, da magia sexual de Aleister Crowley (“Todo homem e toda a mulher é uma estrela (sic), da perversão polimórfica, das ideias de Herbert Marcuse sobre sexualidade e sociedade, e de Normal Mailer, a favor do sexo como manifestação de vida).
Apresenta ainda uma entrevista que fez com o escritor João Ubaldo Ribeiro em ocasião do lançamento de seu livro “A casa dos Budas ditosos” (1999). O tema em questão era sexo na literatura.
Em “Eterna, efêmera vanguarda”, traz reflexões sobre política cultural no Brasil, entrevistas e algumas impressões sobre personalidade, como a escritora Isabel Câmara (1940-2006), Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rogério Duarte, José Agripino de Paulo e o pesquisador norte-0americano Christopher Dunn.
Este ultimo, segundo as palavras de Maciel, “tem uma relação no mínimo kármica com o Brasil”, causada por sua identificação e também pela profundidade com que desenvolveu estudos sobre a cultura brasileira, especificamente, o movimento tropicalista.
Os pressupostos filosóficos que norteiam o pensamento de Maciel, desde sua juventude, manifestam-se nos ensaios dos capítulos seguintes, “O tao e a filosofia”, e “Imanência e transcendência”.
Nestes dois momentos do livro apresenta suas reflexões acerca do pensamento filosófico, principalmente o existencialismo sartriano e o marxismo, movimentos que o influenciaram profundamente, além de seu professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFURGS), no curso de Filosofia, Gerd A. Bornhein.
Com Bornhein, Maciel iniciou os estudos sobre Romantismo Sturm Und Drung (Tempestade e Ímpeto), que se tornaria uma importante referência para seu pensamento no que tange ao orientalismo.
Bornhein afirma: “o romântico coerente deveria tornar-se um visionário, bastante próximo do misticismo oriental”.
“Da história para o mistério”, como visiona Norman O. Brown, a orientalização do Ocidente foi um dos caminhos da geração da contracultura.
A questão não era negar o racionalismo da filosofia ocidental, mas criticar que o mesmo seja colocado como paradigma, única forma de ser, sentir e pensar.
Em “O voo cego”, poesias de Maciel, que nos conta também de suas experiências com a morte.
Quando lhe perguntei sobre a inspiração para o título de seu livro, “O Sol da liberdade”, Maciel falou sobre sua experiência com a seita União do Vegetal. Para ele, sob os efeitos alucinógenos de Ayahuascas, a doutrina foi explicada: “O sol é Deus” e, então, concluiu: ”A liberdade é um sol, o Sol é a liberdade”. A liberdade é a essência de Deus.
A ontologia da liberdade realizada por Maciel em seu livro faz referência aos pensadores que trouxeram à tona as questões do “ser” e da liberdade, a despeito de todas as formas que a engrenagem se utiliza para aprisionar o indivíduo e distraí-lo de sua capacidade de gerir o próprio caminho.
Que o Sol da liberdade irradie forças sobre nós.
*Doutora em História/ UNESP, pesquisadora de contracultura no Brasil
Contracultura e liberdade em novo livro de Luiz Carlos Maciel
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