Corrupção e desconfiança afastam jovens da política, segundo pesquisador

FRANCISCO RIBEIRO
A eleição de 2018 terá o voto da primeira geração de brasileiros do século XXI. Um sinal de como esses jovens vão reagir já foi detectado na diminuição de inscrições de jovens entre 16 e 18 anos incompletos para o voto facultativo.
No Rio Grande do Sul, as primeiras causas evidentes deste decréscimo são os fatores demográficos e econômicos. Houve uma diminuição do eleitorado gaúcho como um todo devido à baixa taxa de natalidade. E muita gente foi embora atrás de oportunidades de trabalho no centro do país e no exterior.
Porém, para Rodrigo Stumpf Gonzales, cientista político e professor da UFRGS, as principais razões do desinteresse dos jovens pela política vão muito além: “Há um desencanto, ligam a política e os políticos a corrupção. Soma-se a isto a inexistência de candidatos capazes de mobilizar a juventude”.
Gonzales enfatiza que grande parte desta desilusão do jovem com a política tem por base a sucessão de escândalos – operação Lava Jato e outros – divulgados e explorados ad nauseam pela mídia.
“Os meios de comunicação através do bombardeio sistemático de denúncias criaram uma imagem negativa dos poderes executivo e legislativo, acabando por quase estigmatizar a política como algo ruim. E falta discernimento a maioria para não cair na generalização. Num dos questionários de uma pesquisa que fizemos junto a alunos de uma escola secundária de Porto Alegre constava a seguinte pergunta: que palavra você associa a política? Os alunos perguntaram se podia escrever palavrão. Eram jovens de 16 anos”.
Esta falta de discernimento, segundo Gonzales, deve-se, principalmente, a carência de formação e aos novos tipos de socialização decorrentes das novas tecnologias de informação e comunicação. “No tempo da ditadura, criticava-se, e com razão, as aulas de OSPB (Organização Social e Política Brasileira), um negócio horroroso, de doutrinação. Mas ao rejeitar isso nós eliminamos do currículo escolar as discussões sobre instituições políticas. Ali, pelo menos, aprendia-se que o Brasil era uma república federativa. Pergunte, hoje, para alguém quais são os limites de um governador ou presidente? A maioria da população não sabe”.
Além de uma deficiência que começa na falta de conhecimento, Gonzales acrescenta que o jovem quer algo que dialogue com o tipo de tecnologia e experiência que tem no cotidiano e lhe dê uma perspectiva: “eles tomam conhecimento do mundo político pelas redes sociais. Não temos mais o modelo clássico de integração: família, escola, igreja.
O indivíduo toma contato com a política no Facebook, twitter, Whatsapp, enfim, a rede que ele estiver conectado. Ou seja, não existe o debate, apenas o reforço das próprias percepções. O outro não é divergente, é o inimigo”.
Contudo, não se trata de mera alienação. Para Gonzales, outro fator da não adesão à política  – ou a movimentos, sejam de esquerda ou direita – é a falta de lideranças que os jovens se identifiquem: “ele não sabe se confia na escolha dos pais por causa da questão de geracional.  Acha que os pais não sabem nada porque têm menos domínio do computador e redes do que ele. Portanto, estão mal informados. E faltam lideranças políticas, ou da sociedade civil, capazes de mobilizá-lo nas suas escolhas. As redes sociais não criam lideranças, criam celebridades”.
Para o cientista político, nenhum dos candidatos à eleição para o governo do estado é capaz de empolgar os jovens: “Roberto Robaina (PSOL) é o jovem daquele personagem do Chico Anysio. Miguel Rossetto (PT) é um bom sujeito, fala em investir na escola, num ensino de qualidade, mas não tem carisma, uma fala que entusiasme. Não basta a um pretendente ter apenas boas propostas. Numa situação normal, Rossetto seria um candidato razoável, mas não neste momento de baixa credibilidade do PT. Os demais postulantes disputam o eleitorado adulto e de terceira idade. O caso extremo é o Júlio Flores (PSTU), cujo crescimento, quatro por cento, mostra bem a crise que vivemos. Mas, como sempre, sua candidatura é simplesmente para marcar posição”.
Não se trata, contudo, em relação ao eleitorado jovem, de um comportamento onde a apatia, a passividade, a indiferença, a hostilidade sejam regras. Há um sentimento de frustração, conclui Gonzales,  na população como um todo. “ O jovem necessita visualizar boas perspectivas de futuro, um bom estágio profissional, por exemplo. Um dos candidatos poderia falar mais concretamente sobre isso. Enfim, a politização da juventude passa pelo processo de inclusão, de socialização, caso contrário, participar para ele, como acontece hoje, na maioria dos casos, será ligar o celular e digitar alguma coisa”.
 
 
 
 
 

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