Crise desafia jornal A Razão, de Santa Maria

Gaspar Miotto, executivo de A Razão (Foto: Divulgação/JÁ)

Guilherme Kolling

Prestes a completar 72 anos, o jornal A Razão, de Santa Maria, não escapou da crise econômica que atinge os jornais impressos no mundo. As dificuldades foram escancaradas com a decisão de oito jornalistas do veículo (mais de a metade da redação) de iniciar uma greve, que já dura dez dias.

O grupo reclama de atrasos no pagamento de salários, férias, horas-extra e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). A direção da empresa admite a dívida e justifica que está tentando uma solução para colocar as contas em dia. Mas ainda não tem uma previsão para fazer o acerto.

Como as partes não chegaram a um acordo, a questão terá um encaminhamento na Justiça do Trabalho, que promoverá uma audiência com os grevistas e representantes da empresa. O encontro está marcado para esta quinta-feira, 31 de agosto.

A jornalista Elisa Pereira, 33 anos, há três em A Razão, foi eleita porta-voz do grupo nas negociações com a direção. Ela conta que a situação está difícil há tempo, mas que o problema vem se agravando. “Com o atraso nos pagamentos cada vez maior, a situação ficou insustentável”, diz ela.

Os jornalistas fizeram várias reuniões e cobraram uma posição da direção após assembléia, no dia 10 de agosto. A empresa disse que iria tentar solucionar. Ficou estabelecido o prazo de uma semana, até 17 de agosto, para uma solução. Como não obteve resposta, o grupo optou pela greve, desde o dia 20.

“Tentamos conversar nos três primeiros dias após a greve, mas não sentam conosco, não esclarecem o problema, nem aceitam o diálogo. Como não fomos recebidos nem retornaram nossas ligações, teremos que resolver a situação na Justiça”, explica Elisa.

A jornalista diz que a classe sempre foi solidária, compreensiva e idealista, aceitando receber salários com atraso e de forma parcelada. Mas entende que as condições estão piorando e chegaram a um limite.

“Todo mundo quer que o jornal continue existindo. Mas já demos nossa cota de sacrifício. Infelizmente, é possível que Santa Maria volte a ter um monopólio. Ou que A Razão siga, com uma estrutura mais enxuta”, acredita Elisa. Mas, de momento, o que a categoria busca é o pagamento dos salários e direitos pelo que já foi trabalhado.

O executivo do jornal, Gaspar Miotto, diz que os grevistas sumiram. E revela que a empresa obteve, na semana passada, com a Caixa Econômica Federal, autorização para pagar o FGTS atrasado, de forma parcelada.

Concorrência desproporcional
Apesar das baixas, o jornal A Razão não deixou de publicar suas seis edições semanais. É mantido pelos remanescentes e alguns novos contratados de forma emergencial. A redação está menor, mas consegue tocar o jornal.

“É claro que tivemos prejuízo, perdemos alguns bons profissionais, mas não podemos parar de circular, senão vamos ter que fechar”, diz o executivo Gaspar Miotto. Assessor da direção, ele observa que as dificuldades se acentuaram nos últimos quatro anos, após o lançamento do Diário de Santa Maria, do Grupo RBS.

“Claro que Santa Maria tem espaço para dois diários, mas desde que sejam respeitados alguns critérios, especialmente no campo publicitário”, aponta. Miotto relata a prática da concorrência, de dar grandes descontos para os anunciantes.

Há outras vantagens como venda casada e compensação em outros meios de comunicação – a RBS tem duas emissoras de rádio (Itapema e Atlântida) e uma TV em Santa Maria. “Em alguns casos, não temos como acompanhar os preços. Aí o anunciante alega os benefícios da concorrência”, exemplifica Miotto.

O fato causou uma queda na arrecadação do veículo, que manteve seus custos. Essa combinação pode explicar, em parte, a crise econômica de A Razão. Apesar disso, o jornal mantém a tiragem de 15 mil, com seus mais de 10 mil assinantes. O jornal tem gráfica e sede próprias, marca forte e tradição. “Nossa dívida não é tão grande. Vamos conseguir pagar, parcelando, e seguir em frente”, prevê o executivo.

Diante da crise, os planos são incrementar as vendas e promover uma reengenharia nos próximos meses, com o objetivo de reduzir custos. “Mas sem perder a qualidade editorial do jornal”. Otimista, Miotto diz que a idéia é projetar os próximos 70 anos. “E quando chegar lá, pensar os 70 anos seguintes”.

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