Críticas, propostas, alfinetadas, candidatos repetem o de sempre

FRANCISCO RIBEIRO
Debate e vingança são duas coisas que devem ser analisadas e praticadas com certo distanciamento. A expressão facial de José Ivo Sartori, neste sábado (18), ao ler com detalhes os dados da primeira pesquisa do Ibope para o governo do Rio Grande do Sul na eleição deste ano – que lhe dá ampla vantagem sobre os demais postulantes ao Piratini – era com certeza bem diferente daquela, tensa, defensiva de dois dias antes, quinta-feira(16), quando serviu de vidraça aos concorrentes nos primeiros debates realizados na mídia eletrônica, Rádio Gaúcha e TV Bandeirantes, respectivamente.
O mesmo em relação a Miguel Rossetto (PT), alegre e simpático no final da manhã quente e ensolarada do último domingo (19), no Brique da Redenção, quando, ao lado de Ana Affonso (candidata a vice), e do ex-governador Olívio Dutra, entoou cânticos de luta e pediu a liberdade de Lula junto a vibrante militância petista e sua convidada especial, a musa da esquerda e candidata a vice na chapa liderada pelo PT a Presidência da República, Manoela D’Ávila (PC do B).
Entretanto, quem tem mais motivos para sorrir é Sartori, 19 por cento das intenções de voto. Rossetto, com oito por cento, aparece em segundo lugar, tecnicamente empatado com Eduardo Leite, mesmo índice, e Jairo Jorge, seis por cento. Vale ressaltar que Sartori também é o que tem a maior rejeição, 44 por cento, contra apenas 12 de Rossetto, oito de Jorge, e sete de Leite.
Números que na cabeça de todos podem ser alterados conforme a dinâmica da campanha eleitoral, terra incógnita e imprevisível, para mais ou para menos. Certas, depois de reverem áudios e imagens dos debates, são algumas conclusões tiradas pelas assessorias de cada candidato, mais as opiniões e dicas recolhidas nas redes sociais, visando melhorar suas performances. Para tanto, resumidamente, cabe uma recapitulação dos embates da última quinta-feira (16).
“Rebelião”
De início, cabe ressaltar que a única diferença nos primeiros debates da mídia eletrônica foi à ausência de Julio Flores (PSTU) no enfrentamento televisivo, impedido de participar segundo os critérios da emissora. No mais, José Ivo Sartori (MDB), Miguel Rossetto (PT), Jairo Jorge (PDT), Eduardo Leite (PSDB), Roberto Robaina (PSOL) e Mateus Bandeira (Novo), defenderam suas propostas em diversos quesitos, mas o destaque ficou no tema da segurança pública. Sartori, pretendente a um segundo mandato, serviu de alvo aos demais candidatos que o criticaram principalmente por parcelar os salários do funcionalismo estadual.
Na Gaúcha, sob a batuta do mediador, o jornalista Daniel Scola, os candidatos, em quatro blocos distintos, discorreram sobre suas propostas em quesitos como segurança, infraestrutura e, principalmente, soluções envolvendo a economia do estado: pendências em relação aos problemas da dívida com a União, déficit público, impostos, sonegação, renovação da alíquota do ICMS, Lei Kandir, e investimentos que fomentem o desenvolvimento e a criação de novos empregos.
E coube aos mais radicais, Roberto Robaina (PSOL), e Júlio Flores (PSTU) a abertura do debate radiofônico. Robaina, de cara, salientou que “vivemos uma falsa democracia e que os mais ricos devem pagar pela crise”. Flores, no seu papel de velho militante bolchevique, foi mais além. Conclamou a população gaúcha e brasileira a uma rebelião do tipo as ocorridas no Haiti e na Nicarágua. Argumentou: “somos governados por quadrilhas. É preciso confiscar os bens dos corruptos, construir um governo de trabalhadores, implantar o socialismo”.
“Saudar a equipe da Guaíba”
Depois foi a vez de Sartori que, de saída, cometeu uma gafe ao saudar “a equipe da Guaíba” por oportunizar o debate. E, já na defensiva, antecipou-se a futuras críticas contra o seu governo ao enfatizar que para enfrentar a crise atual são necessárias “medidas amargas, duras”. Não adiantou, Mateus Bandeira (Novo) declarou que o governo atual é “retardatário”, incapaz sequer de pagar o funcionalismo em dia. Bandeira tem como principal argumentação, além do seu currículo profissional – já foi presidente do Banrisul, inclusive – o fato dos candidatos do seu partido não serem políticos profissionais.
Miguel Rossetto, logo a seguir, atacou diretamente o MDB nas figuras do presidente Michel Temer e Sartori, qualificando seus governos como “desastrosos”. Rosseto também foi o único a se pronunciar, seguindo a estratégia nacional do partido, a chamar a atenção para a candidatura do ex-presidente Lula.
Os dois últimos, Eduardo Leite (PSDB), e Jairo Jorge (PDT), apoiaram-se-se nos seus altos índices de aprovação quando foram prefeitos, Pelotas e Canoas, respectivamente. Os dois também foram os únicos a realçar o papel que terão seus vices que, de certa forma, encarnam as prioridades dos seus governos. Ranolfo Vieira Júnior, delegado, vice de Leite, indica, sem sutileza, a questão da segurança. pública. Já o empresário Cláudio Bier, vice de Jorge, é útil para reforçar a visão de dar força ao empreendedorismo, a desburocratização, e a diminuição dos impostos. Jorge também salientou que fala com conhecimento de causa, pois, ainda em pré-campanha, visitou os 497 municípios gaúchos.
Nos blocos subseqüentes, entre réplicas e tréplicas, cada um tentou vender seu peixe e alfinetar o alvo já pré-determinado. Robaina e Rossetto continuaram a associar Sartori a Temer. Leite e Bandeira, por exemplo, no quesito impostos, por pouco não transformam o debate num affaire pelotense, justificado apenas por disputarem o mesmo espaço eleitoral.
Jairo ponderou nas críticas, preferindo dirigir seu foco na questão do desenvolvimento econômico, no empreendedorismo, na desburocratização para a abertura de novas empresas, na utilização do gatilho do imposto, como fez em Canoas, diminuindo a carga conforme a arrecadação. Sartori, o mais light de todos, manteve-se fiel ao papel do colono honesto, que prefere passar por pão-duro ao invés de irresponsável. E continuou a bater na tecla da coerência do seu plano de recuperação financeira do estado.
Flores, o mais divertido, defendeu o seu programa revolucionário de instaurar no Rio Grande do Sul uma república dos soviets, conselhos de trabalhadores de todas as categorias, que substituirão as assembleias legislativas. Lênin e Trotsky, diálogo imaginário, além túmulo, talvez o alertem sobre a doença infantil do esquerdismo. Aqui, pós-ditadura militar, não precisa temer o gulag e nem que a repressão o envie pra São José dos Ausentes no inverno.
“Sartori e a ilha da fantasia”
No debate da Band, mediado por Ozíris Marins, os seis candidatos – já escaldados via assessorias e redes sociais sobre os furos e acertos no embate da manhã – procuraram, ao longo de duas horas, serem mais abrangentes em suas propostas de governo, mesmo que o tema da segurança pública seja a questão principal na cabeça dos gaúchos e demais brasileiros.
Sartori voltou a defender a recuperação financeira. Argumentou que, apesar das dificuldades, seu governo não deixou de investir em áreas como educação e saúde. No que foi contestado por Rossetto que colocou números irrefutáveis: 510 mil gaúchos desempregados, a não reposição de efetivos da Brigada Militar, o sucateamento da educação pública. Para ele, Sartori “vive na ilha da fantasia”. Rosseto, além da reposição de cinco mil policiais, pretende criar um batalhão especial para proteger as escolas e suas imediações. Ainda neste quesito, Robaina acrescentou ser necessário mudar a lógica da política de segurança pública, descriminalizando drogas como a maconha, por exemplo, e acabar com o tráfico.
Jairo Jorge, Eduardo Leite, e Mateus Bandeira colocaram novamente o foco na questão do empreendedorismo, na diminuição dos impostos e na desburocratização. De todos, Bandeira é o maior defensor da desestatização, um dos dilemas do atual governo que além de extinguir diversas fundações, como a TVE, colocou em pauta a venda da CEE, CRM, e Sulgás. Para Bandeira, “o estado não nasceu para ser empresário”. Ao que Sartori: acrescentou: “não é papel do estado minerar carvão ou vender gás”. Questões nebulosas, ainda mais para alguém, caso de Bandeira, que foi presidente do Banrisul. Mas, quanto a esta entidade, foi categórico: “não será privatizada”.
Do lado oposto, Rossetto, do alto de sua experiência de várias pastas em ministérios nos governos Lula e Dilma, e como vice-governador de Olívio Dutra, uma gestão que, se perdeu a Ford, não vendeu nenhum parafuso público, rema contra a visão mercantilista da sociedade, e centra suas propostas numa educação de qualidade, políticas públicas para a criação de empregos e valorização do funcionalismo. Pretende, se eleito, reverter as extinções das fundações efetuadas no governo Sartori.
Propor é fácil. Resta sempre a pergunta: de que lugar virá o dinheiro? Sartori – que poderá quebrar a maldição da reeleição para governador no RS- aposta na recuperação financeira através da equação simples de não gastar mais do que arrecada, e na negociação da dívida do estado. Também conta com os ressarcimentos previstos pela Lei Kandir (que isenta de ICMS produtos in natura ou semi-elaborados), um dinheiro que será logicamente bem-vindo. Mas, a fidelidade ao pacto determinado pela União diminuirá o incremento em questões tão sensíveis como o aumento de efetivos nos quadros de segurança pública, escolas, educação, ou o reajuste de salários.
Enfim, ainda estamos no início e o jogo da sedução para atrair novos eleitores e manter velhos adeptos recém começou. Muita água irá rolar até o início de outubro, e as pesquisas ditarão, como sempre, aos coordenadores de campanha e marqueteiros, táticas e manobras que mantenham vivos os sonhos de cada candidato. Chegar pelo menos ao segundo turno.
 

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