Eram 8h15 de um domingo, quando a polícia foi informada por alguém que não se identificou: havia uma cabeça humana dentro de uma caixa de papelão na rua dr. Murtinho, no bairro Bom Jesus.
A Brigada Militar encontrou o corpo uma hora depois, a um quilômetro dali, na avenida Protásio Alves. Estava enrolado num edredom, perfurado de bala. Nas costas, o recado dos executores. “BNC”. “Antibala, um abraço dos Bala”
Nesse dia, 17 de janeiro de 2016, se introduziu o terror na guerra entre as duas maiores facções criminosas que disputam territórios na capital gaúcha. Seguiu-se uma série de crimes brutais com decapitações e esquartejamentos que levou pavor aos bairros da Zona Norte de Porto Alegre.
Seriam 25 casos na região metropolitana de Porto Alegre: 16 no ano passado e nove este ano. Os números são imprecisos porque os inquéritos estão dispersos por seis delegacias e há muitos casos de corpos carbonizados dentro de carros incendiados.
Há também, pelo menos, três casos de esquartejamentos comprovados por vídeos e testemunhas, mas os corpos ainda não foram encontrados.
A delegada Luciana Smith, da 5ª Delegacia de Homicídios, já concluiu oito dos 12 inquéritos relativos a casos ocorridos na Zona Norte da capital. Os autores identificados, a maioria presos. Ela ainda não tem números consolidados. “São muitos, só nos dois últimos casos foram mais de 20 pessoas presas”, explica. Os foragidos seriam uma dezena, pelo menos.

Segundo a polícia, essa fase de crimes brutais provocou uma mudança na estrutura das facções, com introdução de uma nova célula –a dos carrascos – no organograma tradicional de gerentes, distribuidores, vapores e soldados. Também ao arsenal de armas modernas foram acrescentados primitivos machados e foices.
A delegada acredita que as prisões efetuadas nos últimos três meses em grandes operações policiais, desmontaram os grupos de extermínio, ao menos temporariamente. A transferência de José Dalvani, o Minhoca, preso no Paraguai e transferido para um presídio federal no Mato Grosso, e a morte de Marcelo dos Santos, o Mais Mais, em confronto com a BM, também contribuíram para a cessação dos crimes. Minhoca comandava uma das facções desde o Paraguai e Mais Mais era seu principal operador.

Para além da guerra
A decapitação de quatro jovens, no início de novembro passado, revelou que, menos de um ano depois, o terror se havia banalizado para além da guerra entre facções.

Eduardo dos Santos, Ederson Araújo, Emerson Pereira, todos de 21 anos, e Bruno Ferreira , de 19, foram as vítimas.
Eles não tinham envolvimentos com o tráfico, mas tinham antecedentes por roubo de carro e porte ilegal de arma, e um deles, o Emerson, cumpria prisão domiciliar.
A polícia apurou que no sábado, 5 de novembro, eles roubaram um carro no bairro Rubem Berta, na Zona Norte da capital.
No domingo, assaltaram uma casa na Vila Americana. Fizeram uma limpa e levaram o carro da família. Provavelmente não sabiam que ali morava a mãe do chefe do tráfico na Vila do Umbú, ali ao lado.
Se soubessem, não teriam oferecido o carro roubado em mensagens pelo Whatsapp. Atraídos por um suposto interessado em comprar o carro, chegaram ao pátio de um Hipermercado em Alvorada, onde foram rendidos e levados para uma casa abandonada.
Foram encontrados na quinta-feira, 10, dentro de um carro abandonado na rua Tupã na vila ao lado, a Salomé. Um corpo estava estendido no banco traseiro, com as mãos e pés amarrados. Entre os bancos estava a cabeça, dentro de um saco plástico.
No porta-malas, outros três corpos empilhados, também com pés e mãos amarrados, as cabeças dentro de um saco de lixo.
Moradores viram três homens que deixaram o carro na rua Tupã embarcarem em outro, que esperava pouco adiante.
Em redes sociais, os criminosos espalharam fotos do crime e das vítimas momentos antes de serem mortas. A polícia acredita que as imagens tenham sido enviadas para quem havia arquitetado as execuções.
Cinco dias depois, foi preso Cristiano dos Santos Soares, de 21 anos, flagrado pela BM com um carro roubado, armas e munições. Em sua ficha criminal constam quatro homicídios.
No celular aprendido com ele, a polícia encontrou as pistas e esclareceu o caso. Descobriu que o crime havia sido comandado de dentro do presídio Central. Ao final de seis meses de investigação, foram presos sete envolvidos. Três outros já identificados ainda estão foragidos.
Decapitações em Porto Alegre: o terror mora ao lado
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