Depois de Iberê, é a vez de Weingärtner


Auto-retrato de Weingärtner: artista reconhecido nacionalmente (Reprodução/JÁ)

Naira Hofmeister

O momento é mesmo de preservação da história da arte gaúcha. Depois de a Fundação Iberê Camargo ter concluído o primeiro volume do catálogo completo do autor – o livro com as gravuras já está sendo vendido – chegou a vez de Pedro Weingärtner, outro ícone do Rio Grande do Sul.

Suas gravuras foram catalogadas pelo Núcleo de Gravuras do RS, que obteve patrocínio do Fumproarte para pesquisa, edição de um livro e uma mostra no Museu de Arte do Rio Grande do Sul. O trabalho apresenta uma face menos conhecida de Weingärtner: ilustrações em metal, que utilizam a técnica da água-forte, produzidas entre 1908 e 1925, quatro anos antes de sua morte.

O levantamento feito durante o primeiro semestre deste ano revelou 27 obras, que estarão expostas no Margs a partir do dia 10 de agosto. A data marca também o lançamento do livro com as informações mais precisas divulgadas até hoje sobre a produção de Weingärtner.

As 48 páginas da publicação refletem a mostra do Margs e trazem surpresas: além de obras completamente desconhecidas e outras que fogem das temáticas tradicionais de Weingärtner – o meio rural, por exemplo –, algumas gravuras são releituras de quadros do artista. Entre os destaques, a famosa As Garças e um Auto-retrato.

“Não temos ambição de esgotar o assunto. Esse é apenas o início de um processo mais amplo”, avalia Paulo Gomes, curador da mostra e coordenador do projeto. Ele classifica o autor como “único artista gaúcho de relevância nacional, antes da década de 50”. Ainda assim, sua obra é pouco conhecida, mesmo na terra natal, Porto Alegre.

“Temos pouquíssimos estudos sobre arte do Rio Grande do Sul anteriores a 1950”. Gomes conta que a principal bibliografia utilizada na pesquisa foi o livro de Ângelo Guido, que também mapeou a produção de Weingärtner, ainda na primeira metade do século XX. Os dados levantados por Guido apontam cerca de 200 obras e, entre elas, 14 gravuras. O principal problema é a dificuldade de identificação, já que nesse catálogo algumas obras não contêm nome, data, nem a técnica utilizada, o que dificulta a localização.

Ainda há vazios históricos sobre o artista: “Não sabemos onde e quando Weingärtner aprendeu a fazer gravuras e nem quem foi seu professor”. Descobrir o título das obras também é um desafio: diferentes reproduções de uma mesma gravura exibem nomes distintos, que assim ficaram registrados. A tiragem de algumas imagens também não ficou clara, pois o artista não costumava numerar as cópias da maneira tradicional, incluindo a quantidade total de reproduções.

“Há obras com numeração do um ao cinco e depois, 22 ou 50”. Weingärtner também não assina algumas delas, mas a identificação foi possível graças a matrizes encontradas em coleções particulares e no Museu de São Leopoldo. Paulo Gomes levanta outro problema: nem todas 27 gravuras foram localizadas. Nesses casos, uma reprodução fotográfica vai representar a obra, tanto na exposição como no livro.

Idéia é montar um catálogo completo


Obras do autor gaúcho estarão expostas no Margs em agosto (Reprodução/JÁ)

Para pesquisar a obra de Pedro Weingärtner, a equipe envolvida no projeto articulou uma rede de artistas, colecionadores, marchands e galerias para localizar as gravuras. Mais de 20 obras que compõem a exposição e o livro são de coleções particulares e menos de cinco estão em acervos públicos. O trabalho é parte de um projeto mais amplo, semelhante ao realizado pela Fundação Iberê Camargo, que está catalogando a obra completa de Iberê.

Ainda em 2003, Paulo Gomes conseguiu o apoio da Lei Rouanet para realizar o levantamento da produção de Weingärtner distribuída em coleções públicas do Rio Grande do Sul – são cerca de 80 obras. “Ainda não consegui captar recursos. Acredito que o Estado deveria estar no comando de um projeto como esse, mas  não consegui nada além do apoio da lei”, reclama. Os possíveis investidores não se interessaram pelo trabalho, pois as coleções particulares não entrariam na sistematização.

A saída é uma iniciativa independente, como a articulação entre Paulo Gomes e o Núcleo de Gravura do Estado. A idéia surgiu quando o professor foi convidado a escrever um texto sobre a técnica, em 2005.

Estudioso da obra de Weingärtner, Gomes decidiu divulgar a produção de gravuras do artista, pouquíssimo conhecida pelo público. “É a parte menos divulgada de sua obra, menos até que os desenhos”, compara. Ele conta que grande parte da obra do artista está no centro do país. “Inclusive ouvi boatos de que a Pinacoteca de São Paulo faria uma retrospectiva”.

Biografia

Pedro Weingärtner (1953-1929) é dos mais notáveis pintores gaúchos. Natural de Porto Alegre, eternizou em suas telas cenas típicas e paisagens do Sul. Pintor, gravador e desenhista, estudou em Paris e na Alemanha, na Real Academia de Belas Artes de Berlim. Após passar boa parte de sua vida na Europa, retornou ao Brasil onde afirmou-se como um dos pioneiros a dedicar-se à técnica da água-forte.

Excursionou pelo pampa gaúcho colhendo informações que utilizaria em telas que se tornaram clássicas na história das artes plásticas sulinas, como o quadro Tempora mutantur, de 1898, comprado pelo então presidente do Estado, Borges de Medeiros, para colocar no Palácio do Governo. O Museu de Arte do Rio Grande do Sul foi inaugurado em 1954 com uma exposição de suas obras.

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