
Elmar Bones
Quem entrasse, inadvertido, no “galpão crioulo” do Palácio Piratini, na sexta-feira 14 de dezembro, poderia acreditar que a ministra Dilma Roussef, a figura mais forte do governo Lula, assumira o governo do Rio Grande do Sul.
A ministra falava em tom professoral para uma atenta platéia de deputados, secretários estaduais, empresários, assessores. Ao lado, a governadora Yeda séria, tensa, assistia.
A ministra discorria sobre as condições que o governo federal exige para “ajudar na recuperação do Rio Grande do Sul”. Citou nominalmente o deputado Celso Bernardi, do PP, e o deputado Raul Pont, do PT ,que estavam na platéia, ao mencionar a necessidade de “todos colocarem os interesses do Estado acima das divergências políticas”.
Havia expectativa e desconforto
Expectativa porque depois que a Assembléia rejeitou o tarifaço que a governadora propôs, as esperanças de equilibrar as contas do governo se voltaram para Brasília. Esperava-se inclusive que a ministra anunciasse medidas ou liberações de recursos para tirar o Estado do sufoco financeiro.
Desconforto porque, por mais cuidados que Dilma tivesse, elogiando o governo de Yeda Crusius, o subtexto deixava claro: o governo do Estado fracassou na sua tentativa de enfrentar a crise e o governo federal não vai mandar dinheiro para ser gasto sem critério. O plano para recuperar o Estado agora será feito por um grupo de trabalho ligado à Casa Civil. “Em conjunto será definido o caminho a ser trilhado”, afirmou.
A imprensa não teve acesso à reunião. Só puderam entrar, a certa altura, fotógrafos e cinegrafistas, para registrar uma governadora sorridente, mostrando o papel que Dilma lhe entregou, com o aval federal para o empréstimo de 1 bilhão de dólares que o governo gaúcho está obtendo junto ao Bird.
Os repórteres foram barrados na entrada do palácio, embora lá dentro na reunião estivessem assessores de imprensa de parlamentares e de empresários. O resultado é que no fim da tarde, enquanto a jornalista Rosane de Oliveira, da Zero Hora, queixava-se no seu blog de ter perdido horas preciosas na frente do Palácio, o boletim eletrônico da Fiergs estava na internet com detalhes da reunião.
Partido será ouvido, acredita Pont
O deputado Raul Pont, líder do PT, considera que a ministra Dilma Roussef veio manifestar boa vontade e reafirmar o compromisso que o governo federal já assumiu há tempos de ajudar o governo gaúcho a sair da crise.
A própria ministra lembrou as tratativas iniciadas em 2006 com os empresários.
Quanto ao grupo de trabalho, anunciado por Dilma, o deputado acredita que as lideranças do partido no Estado serão ouvidas. “Vai ser construída uma pauta, um conjunto de medidas, mas isso vai depender do diagnóstico. A visão que temos da crise é diferente. Por isso não assinamos o documento que o presidente da Assembléia preparou, não concordamos com aquele diagnóstico”, diz o Pont
O ponto principal da divergência, segundo Pont, é o peso que se atribui ao funcionalismo, principalmente aposentados, como causa da crise financeira do setor público estadual.
Tanto governo, quanto empresários colocam como prioridade a redução de custos, com corte de pessoal e de benefícios e a transferência de serviços não essenciais para a iniciativa privada.
“Para nós as causas que devem ser atacadas são a dívida, que passou de 6% para 15% das despesas, e os incentivos fiscais que custam R$ 6 bilhões ao ano”, diz Pont.
Subsídio dos juizes
Um acordo sobre o projeto que institui o subsídio para o judiciário será fechado nesta segunda feira pelas lideranças na Assembléia Legislativa. “Subsídio não tem indexação, não tem automatismo. Não é o que o Marcão ou o Mauro Renner estão querendo”, adianta Raul Pont.

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