Discussão sobre agrotóxicos racha Câmara Setorial de Abelhas do RS

O agrônomo Nadilson Ferreira, doutor em polinização por abelhas, parecia a pessoa certa no lugar certo até ser afastado do cargo de coordenador da Câmara Setorial de Abelhas, Produtos e Serviços da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul.
Após ocupar o posto por quatro anos, esse PhD criado em Recife foi defenestrado por pretender direcionar ao Conselho Estadual do Meio Ambiente a demanda dos apicultores por normas de controle no uso de agrotóxicos em lavouras e pomares.
Na primavera-verão de 2017, produtores de mel do Pampa reclamaram das perdas de milhares de colméias após pulverizações químicas de lavouras de soja.
Até o início de 2018, era consenso na Câmara que a fixação de normas de proteção às abelhas não caberia à Secretaria da Agricultura e, sim, ao Consema.
Numa reunião da Câmara Setorial em janeiro, surgiram questionamentos levantados por representantes da Federação das Associações Rurais do Rio Grande do Sul (Farsul).
Em abril, vencido o prazo para fechar a minuta do documento a ser encaminhado ao Consema, Ferreira perdeu o cargo por insistir na defesa da apicultura, a prima pobre do agronegócio.

Nadilson Ferreira (foto Tânia Meinerz)

“Não me disseram, mas é evidente que eu estava incomodando”, diz ele, salientando que atuava democraticamente em busca de um consenso aparentemente inconveniente para o setor agrícola, representado não apenas por agricultores, mas por uma frente formada por comerciantes de insumos, empresas de aviação agrícola, fabricantes e vendedores de máquinas rurais e, sobretudo, a indústria de produtos químicos eufemisticamente denominados “defensivos vegetais”.
No lugar de Ferreira, agora incumbido de coordenar o programa Mais Água, Mais Renda, da Secretaria da Agricultura assumiu temporariamente Aldo Machado dos Santos, apicultor em São Gabriel, presidente da Cooperativa de Apicultores do Pampa e ex-presidente da Federação Apícola do Rio Grande do Sul, que congrega cerca de 90 asssociações de apicultores.
 
“Eu vou jogar o jogo pra ver até onde eles pretendem chegar”, disse Santos ao JÁ. Nesse jogo evidentemente desigual, ele não dispõe de apoio unânime de todos os líderes da apicultura, atividade que mobiliza cerca de 40 mil produtores de mel e envolve mais de 100 mil pessoas no Rio Grande do Sul.
No ano passado, Santos foi um dos apicultores que mais tiveram perdas de enxames por contaminação de agrotóxicos. Natural de Lajeado mas atuando em São Gabriel há mais de 30 anos, Santos fez por conta própria um mapeamento das principais floradas apícolas do Pampa.
O jogo é realmente complexo. O agronegócio, que engloba toda a cadeia rural e os diversos interesses situados antes do plantio e depois das colheitas, não quer se submeter a regras que gerem obstáculos a seu laissez faire.
No entanto, a ampla rede de empresas fabricantes de insumos (adubos, máquinas, sementes e produtos químicos) não pode ignorar o interesse dos agricultores nos serviços de polinização praticados pela abelhas melíferas e as nativas, sem ferrão.
Umas mais, outras menos, todas as culturas agrícolas se beneficiam das visitas das abelhas, que também polinizam a vegetação nativa, garantindo sua perpetuação. Baseado nisso o cientista Albert Einstein declarou: “Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade não terá mais do que quatro anos de vida”.

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