Por Ana Lúcia Behenck Mohr
Uma discussão sobre a exigência de diploma e sobre a (des)regulamentação da profissão de jornalista. Os dois palestrantes desmereceram o debate que, mesmo assim, foi longe. Entenda por quê.
O debate ocorreu nesta quarta-feira na Faculdade de Comunicação da PUC-RS, minutos depois do horário marcado (20h). Foi entre Tiago Jucá (editor da Revista “O Dilúvio”) e Sérgio Murillo de Andrade (presidente da Federação Nacional dos Jornalistas), tendo como mediador o professor Celso Schröder. Este último não só fez jus à sua condição de vice-presidente da Fenaj nas intervenções, como, em certo ponto do debate, assumiu ter “abandonado completamente a função de mediador”, o que gerou risos na plateia.
Jucá disse não achar a discussão tão importante. Sérgio Murillo afirmou tratar-se de um debate “completamente esquizofrênico”. Um debate convergente? Não, as razões das opiniões semelhantes são bem distintas.
Entre os argumentos usados na contra-defesa do diploma estava o fato de haver pessoas talentosas que não têm diploma e a péssima qualidade dos cursos de Comunicação Social – em particular, o da escola de onde Jucá é oriundo, a Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS (Fabico). O jornalista detonou a Fabico. Disse que os professores eram atrasados, equipamentos antigos (“agora deu uma melhorada”) e o currículo ultrapassado.
O editor da revista alternativa “O Dilúvio” levantou também a questão da censura, sobre a qual disse não ter visto manifestação por parte da Fenaj. Citou o caso do professor da UFRGS, Wladymir Ungaretti. Ungaretti foi processado por Ronaldo Bernardi, fotógrafo da Zero Hora e agora está impedido de fazer críticas ao jornal em seu site.
Também citou a censura do governo Lula às rádios comunitárias e as outorgas vencidas de 25 rádios de Porto Alegre. Deu a entender que estes seriam os debates mais importantes a serem puxados. Sérgio Murillo depois deixou subentendido que esses debates estão à pleno vapor.
A esquizofrenia do debate, conforme o presidente da Fenaj, é comparável a uma discussão de advogados sobre se os advogados devem ou não estudar Direito. “No Brasil o estado regulamenta as profissões não só para atender a demanda dos engenheiros, jornalistas, médicos, mas para dar uma garantia ao cidadão”, afirmou. Para ele, a defesa do diploma é a defesa de uma informação de qualidade.
A formação é considerada importante por Jucá. Afirmou que “um jornalista deveria estudar no mínimo história e letras”. Citou inúmeros exemplos de obras jornalísticas de autores sem formação em jornalismo (entre elas, as reportagens do médico Dráuzio Varella e seu livro “Estação Carandiru”, o livro “Os Sertões”, de Euclides da Cunha e a própria “Carta de Pero Vaz de Caminha”).
Em contrapartida, Sérgio Murillo fez a defesa incondicional do curso, chegou a fazer uma analogia com uma criança doente. “Se a criança está doente, não devemos matá-la, mas dar remédios”. No entanto, Murillo não chegou a prescrever nenhum medicamento para nosso bebê enfermo, embora tenha citado que a Fenaj está envolvida comissão que cria novas diretrizes curriculares para os cursos de jornalismo.
Para o presidente da Fenaj, a defesa do diploma e da regulamentação da profissão não exclui a defesa da liberdade de expressão. “Não tem em nenhum lugar do Brasil, sindicato pedindo fim de rádio comunitária”, ironizou. Disse que há uma confusão entre a comunicação e jornalismo, e este último deve ser exercido por um profissional especializado (com diploma). “Entre numa redação dos EUA, você não vai encontrar jornalista que não seja formado”, disse.
Murillo procurou frisar que a desregulamentação é uma demanda patronal, em específico do Sr. Otávio Frias Filho, dono da Folha de São Paulo, e visa a maior precarização da atividade. Referindo-se ao descumprimento das leis trabalhistas, afirmou ainda que os patrões do Brasil estão na Idade Média. Citou a vitória do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, onde os funcionários do jornal O Globo (da família Marinho) não recebiam hora extra porque não havia controle de jornadas, para defender a importância da organização sindical.
Graças à mobilização da categoria, agora a empresa está cumprindo a lei. Respondeu à crítica de um estudante (o único que se atreveu a defender os donos da mídia), segundo o qual a Fenaj seria um braço do petismo, desqualificando-a como ideológica. “Se a Fenaj é braço do petismo, nós poderíamos dizer que a Folha é braço dos tucanos”, comparou.
Quanto à referência feita pelo mesmo estudante de que a regulamentação havia sido originada durante a ditadura e por isso era ruim, disse que “nós não temos a a regulamentação por causa da ditadura, mas apesar da ditadura”. E arrematou: “se tudo que foi criado na ditadura fosse ruim, disse, o Estatuto do Índio teria que ser revogado e a ponte Rio-Niterói derrubada”.
Lei de Imprensa – Perguntado pelo mediador, Tiago Jucá silenciou sobre a Lei de Imprensa, revogada recentemente. Disse não ter ainda uma opinião formada sobre o assunto.
Conforme Sérgio Murillo, a Fenaj defende a Lei de Imprensa. “Não achamos que a lei da época da ditadura está boa, mas é melhor do que não ter lei”, disse. Falou ainda que o direito de resposta era bom, e agora ele fica “de acordo com a boa vontade de juiz de primeira instância”. “Hoje, na área de imprensa, o Brasil vive um blackout jurídico”, criticou.
Por fim, o presidente da Fenaj conclamou uma intifada contra os patrões, em defesa da regulamentação. “Se eles tem canhões, nós temos pedras”. Os patrões, como não estavam presentes fisicamente (apenas espiritualmente, através do estudante supracitado), não puderam se defender.
É preciso diploma para ser jornalista?
Escrito por
em
Adquira nossas publicações
texto asjjsa akskalsa
Comentários
-
bom texto. gostaria de frisar que até tenho opinião sobre a lei de imprensa, mas preciso ler mais e consultar mais fontes confiáveis pra poder ter uma opinião melhor formada antes de falar isso em público. ela é muito dúbia.
-
Cara Sra.Ana
Ficou bem claro que a fenaj acredita estar completamente isenta e quer dar credibilidade tão sómente ao que apregoa, ou seja, como nos velhos tempos de ditames autoritarios no qual foi criada a (ex)lei do diploma. Não acredito em bola-de-cristal, no entanto quero crer que a JUSTIÇA será feita e que uma nova Lei que regulamentará a profissão (como técnica) do jornalismo se incumbirá de abrandar as ilicitudes cometidas pelo grande cooperativismo na educação principalmente no que tange a área específica da comunicação social entre outras, qual seja a decisão do judiciário, um dia o legislador vai acordar para a realidade do jornalista profissional – que precisa estar sempre a frente para nos proporcionar artigos e matérias que seja do interesse público. Só para a reflexão imaginem um ESCRITOR que deverá se formar em curso universitário para certificar-se de que não agirá na ilegalidade para lançar no mercado o seu próximo livro! rs
Oops ..BRINCADEIRA TEM HORA …!!! -
em que país ou realidade vivemos. ou estou no país das maravilhas, ou no caos total. vivo em uma realidade onde disputo o mercado de trabalho com pessoas realmente incapazes e semi analfabetas que dizem ser jornalistas. é dessa realidade e apenas por conta dela que vou sempre defender o nosso direito de jornalista. se existem talentos que querem seguir a profissão de jornalista, que passem por um banco academico. basta de demagogia barata, de folhetim. a quem interessa a não obrigatoriedade do curso de jornalismo? a quem se diz bom suficiente para falar claramente sobre o assunto e para conhecer a verdadeira realidade brasileira. euclides da cunha viveu em outra época que não a nossa. basta de discursos fajutos. temos que nos unir para termos nossa profissão verdadeiramente respeitada.
-
se a ivaneti tem medo de competir no mercado de trabalho “com pessoas realmente incapazes e semi analfabetas que dizem ser jornalistas”, é melhor ela escolher outra profissão, pois com certeza ela não é jornalista. euclides da cunha viveu em outra época, e até hoje nenhum diplomado escreveu algo melhor. me unir com pessoas que nem a ivaneti? nem quando eu ficar louco. é por causa de diplomados como ela que temos o pior jornalismo na história deste país.
-
Como lamento a decisão do stf pondo fim no diploma de jornalista.Se qualquer um pode escrever,então não precisa mais de faculdade,e aí qualquer um pode operar,e os vocacionados com a palavra poderão exercer funções de advogados,juizes,promotores…
Acho que deve haver uma união entre os jornalistas para poder ter a profissão respeitada. -
É retrógrado e atrasado defender a exigência do diploma de jornalismo, na minha opinião. Vale lembrar que a exigência do diploma só existia devido a repressão que remonta a época da ditadura militar.
Bons jornalistas, inclusive alguns aí do JÁ, não são formados, apenas regulamentados. Diploma não é certificado de competência e o aprendizado da profissão do jornalismo se dá, essencialmente, no cotidiano, dentro das redações e na rua, apurando e reportando.
Quem mais faz alarde quanto a decisão do STF são os alunos de cursos superiores de comunicação social, alguns deles que mal sabem escrever para se posicionar com argumentos sólidos, uma vez que a lei não invalida os conhecimentos e o diploma adquiridos no pós curso, e os libera para ingressar com mais agilidade no mercado de trabalho. Estes mesmos alunos deveriam, segundo acredito, não estar gastando energias em uma causa perdida, mas focar seus esforços na exigência de melhores condições de formação na área perante as instituições de ensino falidas.
As únicas pessoas, então, que deveriam se sentir ameaçadas com a queda da exigência do diploma são as conscientemente incompetentes. -
Tiago Jucá disse tudo !
E se é que ainda tem algo a complementar,eu como estudante de jornalismo,acho que jornalismo é sacerdócio.Amor a vida e a humanidade.Tempo integral.Para ser jornalista não precisa de diploma.Precisa de muito mais.
Abraços Tiago,admiro muito o que escreve. -
Caramba, eu nunca vi tanta bobagem em relação à diploma. Parabéns, ao Sr TIAGO JUCÁ, que demonstra realmente ser uma pessoa que vive no mundo real. Um país, onde vários poetas são citados até hoje, pelo seu instinto jornalístico, e que não tinham diploma, onde um presidente eleito pelo povo, sem ser poliglota, sem ser sociólogo (rsrsrss..) e que consegue colocar o país num estágio de reconhecimento internacional, etc… Isso mostra, que não é o diploma que vai mostrar a capacidade de uma pessoa. Eu, sempre quiz ser um repórter, e por falta de estudo, mas, já ajudei vários jornais locais, escrevendo matérias e fotografando, na condição de COLABORADOR. Pronto, estou feliz por isso. Acho que o que vale é o instinto. Nem todos têm a mesma oportunidade e competência, na vida.
Deixe um comentário