Ecologistas defendem a cidade

Naira Hofmeister

Janete Viccari Barbosa filou-se à União Pela Vida (UPV) para lutar contra a caça ilegal e a derrubada de árvores. Ela nasceu e foi criada em Porto Alegre e o seu contato com o ambiente natural resume-se aos finais de tarde na beira do Guaíba e a eventuais passeios pelo campo.
Ela conheceu e aderiu à luta da tradicional entidade ambientalista através do Petrópolis Vive, movimento comunitário criado para buscar soluções à invasão de prédios altos em zonas em que predominavam casas.
Talvez até pouco tempo atrás inimaginável, a luta pelo meio ambiente nos grandes centros urbanos foi assimilada pelas entidades ecologistas mais tradicionais. A revisão do Plano Diretor de Porto Alegre – há seis anos discutida e adiada – foi o ponto de encontro entre os discursos.
“Ainda tem gente que prefere um monte de espigões na cidade desde que sejam mantidas as áreas verdes fora da zona urbana. Mas isso é contraditório”, defende Janete.
Ela lembra que o impacto do consumo nas cidades gera malefícios ao meio ambiente, ainda que alguns quilômetros separem o que resta de Mata Atlântica no Estado da pequena rua Corte Real, local das manifestações mais recentes do Petrópolis Vive.
“É muito mais profundo do que simplesmente defender as árvores. Trata-se de saber que o basalto utilizado na construção foi extraído de um morro, de que a energia elétrica que os elevadores desse edifício gastam trará grandes impactos com a construção de novas usinas. Isso sem falar na circulação de pessoas e automóveis e no recolhimento de seus dejetos que, no nosso caso, podem acabar despejados no Guaíba”.
Cada vez mais líderes comunitários integram a base de militantes das entidades ecológicas gaúchas. Monika Naumann é líder comunitária no Higienópolis e integrante da União pela Vida. Elisabeth Karam Guimarães conheceu a luta de Janete Barbosa no Petrópolis Vive e hoje também é filiada ao Núcleo Amigos da Terra.
“O tipo de atuação mudou porque as pessoas já concordam que o discurso ambientalista é apropriado para todos, já que nossos bens comuns como ar e água estão tanto na cidade como no campo”, pontua Janete.
Ambientalistas urbanos
Mesmo os líderes comunitários que ainda não se abrigaram em alguma entidade ambiental admitem que os movimentos são complementares. “Nunca fui um ambientalista. Mas me preocupo e gosto de viver em uma cidade arborizada”, revela Cesar Cardia, criador do blogue da rua Gonçalo de Carvalho, no bairro Independência. A luta pela preservação do túnel verde que caracteriza o local foi pioneira e conquistou o tombamento da via em 2006.
“A diferença de temperatura entre uma rua com essa arborização para outra qualquer é brutal”, acrescenta Cesar, que recentemente mudou-se da esquina da Gonçalo e Santo Antônio para Duque de Caxias, no centro de Porto Alegre.
O exemplo dos moradores do bairro Independência rendeu outros frutos em abril, quando sete ruas do Moinhos de Vento foram declaradas patrimônio da cidade. A Marquês do Pombal havia sido eleita já em 2007.
Da mesma forma, a decisão da Prefeitura teve como fio condutor a mobilização dos moradores através de um abaixo-assinado organizado pelo Moinhos Vive. “É uma luta difícil essa nossa. Vou continuar fazendo pressão para que outras áreas entrem na lista de preservação”, adianta o presidente do Moinho Vive, Raul Agostini, que freqüentemente vai à Prefeitura solicitar agilidade no processo que a entidade move, para que outras cinco ruas sejam consideradas patrimônio da cidade.
Conquistada na primeira quinzena de junho, a criação de uma praça na junção entre as ruas Mata Bacelar e Coronel Bordini foi fruto da aliança entre a Associação dos Moradores da Auxiliadora (AMA) e a União pela Vida, entidade que também apóia ao movimento Moinhos Vive desde 2003 na preservação das casas históricas da rua Luciana de Abreu.
A mais recente ação conjunta foi a vista ao presidente do Tribunal de Justiça do Estado, Arminio Abreu Lima da Rosa, que recebeu dos militantes em seu gabinete, que pediram a criação de instâncias especializadas em crimes ambientais.
“Constitucionalmente, o conceito de meio ambiente é a caracterização do ambiente cultural e artificial”, resume o advogado Cristiano Ribeiro, que representa a OAB no Conselho Municipal que trata do assunto.

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