Édipo revisitado

Naira Hofmeister

Os primeiros acordes da guitarra de Keith Richards em Time is on my side surpreendem o público no Theatro São Pedro, especialmente levando em conta o cenário montado no palco, com estátuas gregas e elementos que remontam a 2.500 anos atrás.

A trilha sonora – composta por canções das décadas de 1960 e 70 dos Rolling Stones – é possivelmente a única surpresa da interpretação que o gaúcho Luciano Alabarse faz da tragédia de Édipo, escrita por Sófocles.

A história não precisa ser detalhada: Édipo é aquele cara que matou o pai e casou com a própria mãe sem saber. Torna-se um rei poderoso, mas sucumbe quando descobre sua verdadeira origem. Como castigo, arranca os próprios olhos e bane a si mesmo do reino de Tebas, que governava.

A escolha dos ingleses para embalar a tragédia soa um pouco estranha em determinados momentos e não acrescenta significados para o espetáculo. É discutível o mérito de Alabarse em tentar aproximar culturas cuja distância pode ser lida nas siglas a.C/d.C. Ainda assim, para fãs da banda é um convite a mais para assistir ao espetáculo, que chega ao seu último final de semana no Theatro São Pedro.

Fora o rock n’ roll, está tudo de acordo com a assinatura do diretor, que sempre preza por cenários e figurinos impecáveis e atuações sinceras. No caso, especialmente do protagonista, cujas fases adulta e velha são interpretadas por Marcelo Adams e Carlos Cunha Filho em diferentes momentos.

A montagem de Luciano Alabarse é recomendável, mas o público tem que estar consciente de alguns detalhes. São duas horas e meia de espetáculo, com texto que apesar de adaptado, segue a estrutura e racionalidade do teatro grego de 400 a.C.

A pouca semelhança com a novela das oito parece importunar a platéia, que depois de assistir à tragédia propriamente dita – entenda-se como o protagonista castigando a si mesmo – começa a ligar celulares para saber que horas são. E ainda há uns 40 minutos do epílogo.

O teatro clássico pode não ser tão comovente quanto alguns espetáculos contemporâneos , mas é fundamental que seja encenado.

Édipo provoca não apenas consternação e pena por seu destino. Permite uma reflexão sobre a trajetória humana, os dramas que nos comovem, os laços que nos unem e que 2500 anos não foram suficientes para desfazer. É tão atual que a psicanálise deu seu nome a um sintoma que só perdeu o posto de mais popular da ciência quando os terapeutas diagnosticaram o transtorno bipolar.

Édipo

Texto de Sófocles/Direção de Luciano Alabarse

Local: Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº)

Datas: 12, 13, 14 e 15 de junho

Hora: de quinta a sábado às 21h e domingo às 18h (nesse dia, após o espetáculo, haverá debate com Marisa Eizirik, Tânia Fonseca, Ivo Bender e Luciano Alabarse)

Preços: R$ 30,00 (platéia) R$ 20,00 (camarotes centrais) R$ 15,00 (camarotes laterais) e R$ 10,00  (galerias)

Descontos: 50% de desconto para titular e acompanhante do Clube do Assinante ZH, 50% de desconto para estudantes, 50% de desconto para acima de 60 anos e 50% de desconto para sócios da AATSP

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