Editor denuncia sequestro de arquivos do jornal JÁ

O editor Elmar Bones está há dois dias tentando reaver os arquivos digitais do jornal JÁ que foram arrestados indevidamente pela Justiça na manhã do dia 24 de janeiro.
Na manhã desta sexta-feira, ele foi à 10ª Delegacia de Porto Alegre e fez um Boletim de Ocorrência pela subtração dos equipamentos e arquivos dos trabalhos em andamento. Logo depois, os advogados do jornal, que já tinham entrado com uma petição na véspera, obtiveram uma liminar ordenando a devolução do material com urgência.
Os arquivos estavam em três computadores que foram retirados, junto com três impressoras, da Redação do jornal na manhã de quarta-feira pela oficial de Justiça Andreia Daminelli Muniz em cumprimento a um mandado de penhora por conta de uma dívida com o Banrisul.
“A dívida existe e a penhora de bens é pertinente”, diz o editor. “O problema é que além de recolher os nossos instrumentos de trabalho, sem esperar a presença do responsável pela empresa, levaram todos arquivos, com originais de reportagens e livros em andamento, inclusive as matérias da cobertura do julgamento do ex-presidente Lula, para uma edição especial que estávamos preparando, e a edição mensal do jornal, que estava sendo concluída.”
Bones estava dentro do Tribunal Federal da 4ª Região acompanhando o julgamento do ex-presidente Lula quando foi avisado. Falou por telefone com a funcionária, mas ela não quis esperar sua chegada ao jornal.
Havia um único repórter de plantão na Redação e não teve tempo sequer de salvar uma cópia dos arquivos. Os computadores foram retirados das tomadas sem mesmo terem sido desligados antes. A parte mais antiga do material tem backup, mas há textos e imagens de trabalhos em preparo, além dos projetos editoriais em andamento.
Por volta das 11 horas, a oficial de justiça Andreia Daminelli Muniz chegou à redação do JÁ no segundo andar do prédio da Associação Riograndense de Imprensa, acompanhada de três pessoas – Lefebvre Luz de Saboya (supervisor da agência Bom Fim e preposto do Banrisul), João Pedro Torves (advogado de um escritório de cobrança terceirizado) e mais um funcionário cujo nome não ficou registrado. Portava um mandado para penhorar de bens “quantos bastem para garantir a dívida e demais cominações legais”.
A dívida é de 155 mil reais em valores atualizados. A servidora da Justiça não procurou outros bens para arrolar, escolheu sem hesitação os computadores, que junto com três impressoras também levadas, foram avaliados em 3.750 reais no próprio auto de penhora.
No documento, a oficial registra: “Depositei os bens com o preposto da parte exequente sr. Lafebvre Luz de Saboya (…) sendo removidos ao depósito do leiloeiro Norton”.
O leiloeiro Norton Jochims Fernandes, no entanto, relata que apenas as impressoras lhe foram entregues. Um dos computadores foi localizado com o advogado Torves, que, consultado por telefone, recusou-se a permitir acesso aos arquivos, cujo conteúdo é propriedade intelectual dos seus autores, e não da editora que publica o jornal. Ainda não se sabe para onde foram encaminhados os outros dois computadores.

BO registrado pelo editor

Auto de penhora

Origem da dívida
“O irônico, diz o editor, é que essa dívida tem origem numa reportagem premiada pelo próprio Banrisul, que patrocina o principal prêmio de jornalismo do Rio Grande do Sul, o Premio ARI”.
O prêmio não impediu que o jornal fosse condenado a pagar uma indenização por dano moral à família do então governador Germano Rigotto, cujo irmão era o personagem central da reportagem que abordava a maior fraude já cometida contra os cofres públicos no Estado. Aí começaram as agruras que estrangularam a empresa.
Em 2008, com um novo governo, a editora voltou a estabelecer relações na área estatal. A garantia da editora para contratar o empréstimo, em 2008, consistia na sua carteira de anunciantes, entre eles o próprio Banrisul, o banco do Estado.
Mas durou pouco. A postura crítica do jornal em relação aos projetos do governo foi punida com o corte da publicidade estatal.
“Fomos ao fundo do poço”, diz Bones. Em 2010, o caso JÁ chegou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, patrocinado pelo Artigo 19. Em 2013, a ação foi admitida e entre os prejuízos arrolados como consequência dessa discriminação está a dívida com o Banrisul.
Desde então, segundo Bones, a editora vem “em penosa recuperação”, num mercado adverso, “em que o impresso é banido das bancas e o digital é uma terra de ninguém”.
A equipe do jornal está reduzida a seis pessoas, mais colaboradores, alguns voluntários.
No julgamento do Lula, toda a equipe se empenhou numa cobertura especial que resultaria inclusive numa edição impressa com grandes entrevistas e um bastidor do julgamento.
O editor conta: “Fui para o tribunal com um entusiasmo quase juvenil. Antes que o primeiro desembargador desse seu voto, recebi um telefonema da redação onde estava de plantão o repórter Tiago Baltz. A oficiala veio ao telefone, expliquei que os computadores eram instrumento de trabalho, estávamos no meio de uma edição, que esperasse… Quando cheguei ao jornal quinze minutos depois, eles já haviam saído, as poucas mesas que restam na nossa redação estavam nuas”.
 

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Comentários

Uma resposta para “Editor denuncia sequestro de arquivos do jornal JÁ”

  1. Avatar de Eduino de Mattos
    Eduino de Mattos

    Confiscar BENS COM VALÔR DE R$ 3.700 ? com dívida de R$ 155.000 ?,…Muito Estranho ? (ou muita falta de capacidade dos servidores).

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