Cinco textos inéditos distribuídos na contracapa da edição número zero marcaram o início da colaboração de Eduardo Galeano com o jornal JÁ, em 1985. O uruguaio faleceu nesta segunda-feira (13).
A compilação de crônicas, que abordavam um pouco da vida de mestiços bolivianos, artistas indígenas e anjos mulatos contava, de certa forma, a história da América Latina “retomada pelo ângulo dos vencidos, dos que tiveram a fala proibida, dos que não puderam se expressar senão pelo símbolo e pela metáfora”, conforme explicava o comentário do jornal sobre os textos.
O título da página hoje pode ser lido como uma metáfora: “Homens de mãos mágicas”. Se referia aos artistas como o índio boliviano Holguín, que pintou a rica Potosí, cuja montanha que lhe dá nome foi toda esburacada para extrair metais preciosos pela coroa espanhola na época colonial; ou ao brasileiríssimo Aleijadinho e seu assistente Ataíde, cuja tarefa era preencher com cores e ouro as “maravilhas de madeira ou pedra” do escultor mineiro.
Mas bem poderia ser uma ilustração do próprio autor: mãos mágicas. Foi com elas que desenhou, escrever e assinou um bilhetinho que, logo após o lançamento do jornal desejava: “Longa e alegre vida para o JÁ”.
Foi uma dedicatória feita no Bar do Beto, no Bom Fim, em uma noite que sucedeu sua palestra na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul promovida pelo recém-lançado periódico – entre as aspirações de jornalistas e intelectuais à frente do projeto estava a possibilidade de discutir a América Latina, que saía de um longo período sob regimes ditatoriais em diversos países.
Uruguaio foi inspiração para o JÁ
Galeano foi um dos inspiradores da publicação, que tinha como referência a revista argentina Crisis e o jornal uruguaio Brecha, nos quais ele colaborou.
“Nossa ideia era recriar um jornal nessa linha, ou seja, uma publicação voltada para a seara latino-americana”, explicou um dos fundadores do JÁ, o professor de literatura e ex-secretário municipal de Cultura, Sergius Gonzaga, em uma entrevista em 2007 – por ocasião do lançamento do número zero da Revista JÁ, que segue em circulação.
O primeiro editor do jornal, Ney Gastal, recordou na oportunidade que Galeano era “uma espécie de coordenador latino-americano” do JÁ. “Foi um apoio muito importante. Era uma recomendação automática”, reconheceu.
Site vai republicar textos do escritor
Para relembrar a parceria de Eduardo Galeano com o JÁ, que se estendeu por três anos, de 1985 até 1988, o site do jornal republica, a partir desta terça-feira, textos enviados com exclusividade à publicação na época.
Eduardo Galeano, nosso homem de mãos mágicas
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