POR Cleber Dioni Tentardini
O Largo dos Enforcados é o ponto de encontro para início da “Marcha Contra Genocídio do Povo Negro”, a partir das quatro da tarde na sexta-feira, 22, no centro histórico de Porto Alegre.
Nesta segunda edição, a marcha ganhará dimensão internacional pois ocorrerá simultaneamente em 12 capitais brasileiras e de outros países.
Os protestos querem chamar atenção para os dados alarmantes de todos os tipos de violência contra os negros.
De acordo com a Mapa da Violência no Brasil, documento produzido pelo Instituto Sangari, ligado ao Ministério da Justiça, 30 mil jovens negros, entre 14 e 29 anos de idade, são vítimas de homicídio no país por ano.
O advogado Onir Araújo, um dos coordenadores da marcha na capital gaúcha, explica que ela se originou de um coletivo na Bahia chamado Quilombo X, que organizou as manifestações no ano passado, com maior peso em Salvador e alguns protestos no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Este ano, o Quilombo X e o MNU decidiram reforçar os protestos contra a violência policial contra os jovens, através de uma campanha chamada ‘Reaja ou será morta. Reaja ou será morto’.
O Brasil é o maior país africano fora da África e já possui a quarta maior população carcerária do mundo, onde os negros representam 80%.
E a situação no Rio Grande do Sul não é diferente, segundo o advogado, que integra a Frente Nacional em Defesa dos Territórios Quilombolas e o MNU – Movimento Negro Unificado.



“A violência contra os jovens negros é praticamente homogênea no Brasil, levando-se em conta estados mais populosos. Aqui no Estado, os negros representam 18% da população, segundo o IBGE, e mesmo em minoria formam 45% da população carcerária ou internada.
Em Porto Alegre, os negros são 20% da população. “Se visitarmos o IML numa sexta à noite veremos que a maioria dos mortos é formada por jovens, e a metade destes, são negros”, aponta o advogado.
Araújo observa, no entanto, que este ano a marcha ganha um caráter mais amplo, para que as manifestações reflitam as realidades locais. “Não podemos ficar quietos diante da inexistência de políticas sociais.A única política pública que o povo negro e pobre conhece é o policiamento ostensivo, e isso não resolve os problemas de regularização fundiária, saúde, educação, saneamento”, critica.
E continua: “Exemplo é que recentemente a UFRGS concluiu uma pesquisa em 22 comunidades quilombolas no Estado sob o prisma da segurança alimentar, e a conclusão é que os quilombolas no RS são três vezes mais inseguros na questão alimentar do que o restante da população. Isso é um sintoma de que não existe política pública se levarmos em conta a demanda.”
Em Porto Alegre, há cinco quilombos e apenas um titulado, da Família Silva, que é o primeiro quilombo urbano titulado do país.
Os outros estão com processos em andamento: Alpes, na Gloria; Fidelix; antiga Ilhota; Areal, no Praia de Belas; e o da família Machado, núcleo que recentemente iniciou o processo de titulação no Incra.
O advogado condena também “o acentuado processo de limpeza étnica” em Porto Alegre. “Próximo ao Centro, naquela região do Morro Santa Teresa, onde ainda há uma concentração maior de pobres, Cristal, Cruzeiro, Icaraí, e ali no antigo Resvalo, depois avenida Campos Velho, as famílias estão sendo retiradas. Já foram removidas 1.200 pessoas da Vila Tronco com o argumento da duplicação da avenida, inclusive oito terreiros de religião de matriz africana foram fechados.
Boa parte daqueles que estavam na ocupação Iluminados por Deus, no terreno da antiga Avipal, são dali da Icaraí, portanto foram desalojados pelas obras do PISA – Plano Integrado Sócio Ambiental –sem planejamento algum. Ou seja, pinta de branco as áreas centrais e de preto e amarelo as periferias e toca a polícia em cima. E as cidades cada vez mais segregadas”, completa.
Manifestação segue roteiro histórico
A Marcha acontece no Centro Histórico de Porto Alegre, passando por locais do Museu de Percurso do Negro, desenvolvido pelo Programa Monumenta – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) / Ministério da Cultura.
Início no Largo dos Enforcados, onde os negros eram executados. Ali foi instalado uma escultura no formato de um tambor, por isso chamada também de Praça do Tambor.
Passa pelo Pelourinho, na frente da Igreja das Dores, onde os negros eram castigados.
Cruza pelo Zaire, a Esquina Democrática, ponto de manifestações, e segue pela Borges de Medeiros até o Tribunal de Justiça. Termina no Largo Zumbi dos Palmares.
Marcha denuncia violência contra negros
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