Elmar Bones
O último e mais esperado debate entre os candidados à prefeitura de Porto Alegre, na RBS TV, foi decepcionante, como todos os outros. Os pontos polêmicos levantados ao longo da campanha continuaram sem esclarecimento, os problemas concretos da cidade foram escamoteados por versões contraditórias.
Era para ser uma grande discussão sobre propostas e idéias, como anunciou o apresentador Lasier Martins. Foi mais um cansativo torneio de frases feitas e de bordões de campanha, repetidos à exaustão.
Os poucos momentos de tensão foram patrocinados pela candidata do Psol, Luciana Genro, e por Onyx Lorenzoni, do Dem, ambos deputados federais, buscando o primeiro cargo executivo.
Eles parecem acreditar numa tendência revelada nas últimas eleições estaduais, quando candidatos que pelas pesquisas não tinham chance de chegar sequer ao segundo turno acabaram vencendo o pleito.
Caso de Olívio Dutra, em 1998, caso de Germano Rigotto em 2002 e caso de Yeda Crusius em 2006. Nenhum deles parecia ter chances quando começou a campanha.
De olho no eleitorado à direita, Onyx Lorenzoni, do Dem, aprofundou suas críticas à administração Fogaça. O prefeito, que busca a reeleição, aparece como favorito nas pesquisas com mais de 30% das intenções de voto.
Oscilando entre os 5 e 8% nas últimas pesquisas, Ônix concorre pela segunda vez com uma plataforma populista, cujas prioridades seriam um programa de “Bolsa Creche” e a passagem única no transporte coletivo.
O crescimento nas pesquisas da última semana reforçou nele a crença de que pode ser “a zebra da vez”. Como sua possibilidade de agregar votos da esquerda é mínima, ele se voltou para o eleitorado de Fogaça, que vai do centro para a direita.
O principal ponto em que Onyx bate é o TRI, o cartão eletrônico para o transporte coletivo. Ele diz que o TRI é uma versão distorcida do projeto da passagem única, que foi uma das promessas de campanha de Fogaça na eleição anterior. “Levou três anos e meio para fazer e acabou implantando, um mês antes da eleição, um sistema que em vez de beneficiar o trabalhador, beneficia as empresas de ônibus”, ele diz.
Ele calcula que os 100 mil usuários que já adotam o TRI estão proporcionando uma antecipação de receita de R$ 8 milhões e.400 mil às empresas transportadoras, sem terem uma devida contrapartida.
Diferente da passagem única, em que o usuário paga uma vez para diversos trajetos complementares, o TRI dá um desconto de 50% no segundo embarque, desde que ele ocorra no máximo meia hora depois.
Ônyx diz também, para justificar o seu Bolsa creche, que Porto Alegre tem 40 mil crianças, filhos de mães que trabalham, sem acesso a creches.
Luciana Genro, do Psol, tem como bandeira o combate à corrupção e a moralidade no serviço público. Acusa Fogaça de ter sido conivente com fraudes em várias licitações (DMLU, Camelódromo, Araújo Viana) que exigiram intervenção do Ministério Público.
Ela bate também em Maria do Rosário e, menos, em Manoela. A ambas acusa de serem coniventes com irregularidades no Complexo Hospitalar Conceição, o maior do SUS no Estado, administrado pela deputada Jussara Cony, do PCdoB, com cargos loteados entre PT e PMDB. “Vocês são muito parecidas”, disse Luciana a Rosário e Manuela.
Ela reserva, porém, suas críticas mais agressivas à candidata petista, em cujo reduto tem mais chances, até pela sua condição de ex-petista, de colher votos.
A acusação mais grave que faz à Maria do Rosário é de ter se aliado ao ex-ministro José Dircey para vencer a prévia em Porto Alegre, contra toda a cúpula do PT que queria Miguel Rossetto como candidato do partido. “Todos sabem que quem está por trás da tua candidatura é o Zé Dirceu, o operador do mensalão”, disse nos debates.
Maria do Rosário e Fogaça pediram direito de resposta para rebater as acusações, mas foi negado. O debate da RBS teve apenas seis candidatos. O candidato do PSH, Carlos Gomes fez um acordo com a emissora e ganhou várias inserções no intervalo do programa. E Vera Guasso, do PSTU, como não tem representação parlamentar, não foi convidada.