Com uma tiragem de 200 exemplares, circula fora do comércio o livro Os Banhados em Nós e Nós nos Banhados: Patrimônio Cultural, Material e Natural da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul (edição particular, 2016), síntese da tese de mestrado defendida na Universidade Feevale pela técnica em gestão ambiental Débora Cristina da Silva, que atua profissionalmente como secretária administrativa do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos.

Nascida em 1980 em Novo Hamburgo, Débora antes mesmo de ter uma carreira profissional já se dedicava ao rio dos Sinos como colaboradora do Movimento Roessler para Defesa Ambiental, do qual foi tesoureira. Embora obedeça ao jargão acadêmico, seu livro de 140 páginas é uma declaração genérica de amor aos banhados como reserva de água e reduto de biodiversidade. No caso do Sinos, cujas cidades e lavouras foram construídas em cima de banhados, a autora faz um pleito explícito para que se preserve o ecossistema “banhado” como patrimônio ambiental.
Nesse ponto – a preservação dos banhados –, o livro de Débora retoma o trabalho pioneiro de Henrique Roessler (1897-1963)* como defensor da integridade das várzeas e banhados do Sinos. Nos anos 1950, contrariando uma ideia muito em voga e defendida até pelo engenheiro e líder trabalhista Leonel Brizola, Roessler se colocou contra a retificação do curso do rio de sua aldeia – São Leopoldo, berço da colonização alemã no Rio Grande do Sul. Sua campanha feita especialmente pelas páginas do Correio do Povo surtiu efeito, mas ficou restrita à bacia do Sinos. A retificação foi feita no vizinho Gravataí, um rio de planície, raso, de baixa declividade e pouca correnteza.
Pretendendo drenar o Banhado Grande para viabilizar a agricultura (arroz e pecuária), fez-se uma canalização do curso inferior do Gravataí, que se tornou assim um rio frágil e quase sem defesas contra cheias e secas. Embora existam no Banhado Grande uma ONG e um observatório da Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, os militantes ambientais ainda não conseguiram montar um plano de manejo da bacia hidrográfica do Gravataí, onde se cultivam anualmente 12 mil hectares de arrozais que vêm sendo alvo da vigilância do Ministério Público Estadual.
Já na bacia do Sinos, com seis mil hectares anuais de lavouras de arroz e uma população de 1,3 milhão de habitantes (na bacia do Gravataí, há outro tanto), já existe um plano de manejo que, sob a responsabilidade do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitesinos) — o mais antigo do país, criado em 1988 — privilegia a segurança hídrica, com prioridade para o abastecimento humano. Integrado por 35 entidades que se reúnem mensalmente para debater e agir em defesa do curso d’água que inspirou o livro Um Rio Imita o Reno, de Vianna Moog, o Comitesinos lidera o movimento pelo tombamento dos banhados como patrimônio cultural, material e natural.
*A biografia do pioneiro está no livro ROESSLER – o Primeiro Ecopolítico, de Ayrton Centeno (JÁ Editores, 2006)
Gestora ambiental do Sinos defende banhados como patrimônio natural
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