HPS: Um grito de socorro

Naira Hofmeister*

Baratas circulam entre os vidros de medicamentos, ataduras estão expostas aos respingos do ar condicionado estragado, ratos cruzam portas e atravessam corredores e pedaços de gente morta apodrecem sem nenhuma providência. Parece cenário de filme de terror, mas é uma realidade que pode ser constatada dentro do maior Pronto Socorro do Estado, na esquina da avenida Osvaldo Aranha com Venâncio Aires.

O HPS completou 63 anos em abril. O presente de aniversário seria uma reforma no andar térreo programada para começar antes do final do ano. O Governo Federal prometeu a verba para ampliar e qualificar a emergência do hospital. “O dinheiro já está separado, falta apenas a assinatura dos papéis”, alega o Dr. Paulo Roberto Azambuja, diretor do hospital.

Enquanto a burocracia não é resolvida, a Prefeitura não vai investir em reformas imediatas, exatamente porque espera o auxílio do Governo Federal. “Qualquer outra obra agora seria um desperdício de dinheiro público”, acredita Azambuja. O problema é que a previsão mais otimista do diretor do HPS é que as verbas sejam liberadas em novembro. “Depois do pontapé inicial, serão cerca de 10 meses até a entrega das novas instalações”, projeta.

“Os políticos dão discurso e a gente acha soluções reais” protesta uma enfermeira. Falta ventilação no espaço, as janelas não abrem. “Aqui tem gente com tuberculose e meningite”, comenta. Para minimizar o problema, médicos e enfermeiras da emergência improvisam.

No lugar onde deveria haver um ar condicionado, há um  compensado de madeira colado com fita adesiva. “Hoje está frio, abre só um pouquinho”, avisa a funcionária que “regula” a temperatura. Em dias de calor, o tapume é retirado e surge outro problema. “Uma família mora aí embaixo desse buraco”. Uma paciente firma a voz e diz: “Eles têm cachorro e tudo… fico imaginando a sujeira que entra”.

Os problemas de higiene assustam. “Barata desfila por aqui”, comenta a enfermeira. Os ratos que transitam pelos corredores já deixaram de ser novidade. Enquanto narra essas situações, abre uma porta na extremidade esquerda da sala, e chama a reportagem. “O que te diz isso aqui?”. Dois ou três sacos de lixo, muitas garrafas de álcool, urinóis e caixas empilhadas dão a impressão de se tratar de um depósito.

Por falta de espaço, a sala onde são despejados cocô e xixi dos pacientes é utilizada pelos enfermeiros para aplicar medicação intravenosa. “É um absurdo, mas macas ocupam o espaço privativo onde deveriam ser feitas a injeções”, protesta.

A direção do hospital admite os problemas, mas não cogita qualquer obra emergencial, pois aguarda a verba do SUS. “Um investimento agora seria desperdício de dinheiro público”, acredita o diretor Paulo Roberto Azambuja. O médico afirma que a infestação de ratos e baratas foi pontual. “Temos uma empresa contratada para fazer a desratização e dedetização, que no momento está aplicando doses mais poderosas”, elucida.

Burocracia estadual

Outra promessa é a reforma da ala de queimados, a única UTI do Estado para tratamentos do gênero. Campanha da Fundação Pró-HPS, lançada em 2006, arrecadou R$ 3 milhões e 200 mil.

O projeto está enquadrado na Lei de Solidariedade, mas a Secretaria de Justiça e Desenvolvimento Social não está segura que se trata de um investimento social. “Estamos de mãos amarradas”, lamenta Rogério Beidacki, diretor da Fundação.

Enquanto isso, falta espaço até para os funcionários trocarem de roupa. Eles usam o corredor. “Já conhecemos todas as cuecas – para não dizer mais”, ironiza uma técnica.

Rebelião na morgue

Se a refrigeração faz falta na emergência, é possível imaginar o que acontece se a morgue não possui ar condicionado. A saleta que abriga os falecidos no HPS foi alvo de uma rebelião dos funcionários no mês passado.

A geladeira onde são depositadas as “peças” extraídas em cirurgias – sinal ou membro amputado – estragou e os funcionários da limpeza se negaram a entrar na sala, tamanho o fedor e a contaminação.

“Tinha braço, perna, pedaço de dedo que ficaram mais de vinte dias sem remoção”, denuncia uma das porteiras. A providência foi tomada na marra, conta. Os serventes do hospital obrigaram o secretário de saúde do município, Pedro Gus, a entrar no espaço para ver – e sentir – de perto a realidade. “Agora até lavaram as paredes”, diz aliviada.

O diretor administrativo do HPS rebate as críticas. Diz que a geladeira ficou desativada por pouco tempo. “No máximo, dez dias”, avalia Luiz Funari. A rotina dos patologistas, responsáveis pela retirada das peças, também foi modificada para não haver problemas de contaminação.

“Normalmente eles passam uma ou duas vezes por semana, e, quando houve essa situação, faziam a retirada do material diariamente”, garante. Além da reforma da geladeira antiga, que já foi feita, um novo equipamento está sendo providenciado, anuncia Funari. “Essa que temos é ultrapassada e dá problema toda a semana”.

*Matéria publicada na edição de junho do jornal JÁ Bom Fim/ Moinhos, que está circulando

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