Interesses políticos e comerciais cercam Petrobras

 GERALDO HASSE
Passados mais de 100 dias desde a dramática vitória eleitoral de novembro, a presidenta Dilma Rousseff esboça um movimento de reação.
Tenta, como diria um cronista moderno, “recuperar o  protagonismo” perdido desde que, admitindo a necessidade de colocar ordem nas contas públicas, nomeou ministro da Fazenda o economista Joaquim Levy, que passou a roubar a cena num ministério formado ao gosto de partidos fisiológicos.
Não bastasse o revertério econômico, Dilma viu o adversário político Eduardo Cunha (PMDB) assumir o comando da Câmara dos Deputados e o pouco confiável aliado Renan Calheiros (PMDB) fincar pé na presidência do Senado.
Enquanto isso, ao olhar para o lado, ela vê o vice-presidente Michel Temer (PMDB) impassível diante dos boatos de que a oposição (PSDB et allii) vai pedir o impeachment presidencial por conta do escândalo da corrupção na Petrobras, tema que continua comandando a pauta político-econômica.
Tomados isoladamente, o crescimento zero, a inflação, o déficit fiscal, a alta dos juros, o desemprego emergente e outros problemas pontuais não fariam estrago se não estivessem ocorrendo ao mesmo tempo em que se desmantela a credibilidade da Petrobras, o maior ativo do Estado brasileiro.
Sem dúvida, a BR é muito maior do que o escândalo. O problema é a onda que se faz, como se a corrupção tivesse começado agora.
No chamado “terceiro turno”, a Petrobras virou a bola da vez, alvo da cobiça do cartel internacional do petróleo, que paira como um dos superpoderes do mundo moderno, ao lado das indústrias de armas e veículos. (A quem estiver disposto a se aprofundar no assunto, há um livro de 1972 que não perdeu a atualidade: Os Trustes Petrolíferos e os Países Subdesenvolvidos, de Michael Tanzer, fartamente ofertado em sebos virtuais).
Desde que o presidente Bush veio repentinamente ao Brasil em março de 2007 (no início do segundo mandato do presidente Lula), sabemos que, por trás de toda aquela festa em torno do sucesso do etanol de cana entre nós e do etanol de milho nos States, o que ele queria, como bom texano, era demonstrar seu apetite pelo petróleo descoberto na camada pré-sal da plataforma continental brasileira.
Desde os anos 1970, a petroleira que mais se destacou no setor foi a Petrobras, líder na pesquisa e produção em águas profundas.
Nesse jogo de xadrez em torno de grandes jazidas e ricos mercados, não cabe reclamar da disposição do Ministério Público e da Polícia Federal em lancetar a corrupção vigente nos meganegócios da Petrobras com seus fornecedores de serviços e equipamentos – eles estão fazendo a sua parte, antes de passar o abacaxi para o Supremo Tribunal Federal.
No entanto, o empenho dos grandes meios de comunicação em destruir a Petrobras alimenta a suspeita de que esteja em andamento, por uma combinação de várias circunstâncias e medidas, um cerco  global para colocar a fabulosa companhia estatal brasileira à mercê de um processo de privatização a preço vil.
Não foi à toa que um grupo de 50 personalidades identificadas com o nacionalismo lançou no dia 20 de fevereiro um manifesto em defesa da Petrobras. Em ordem alfabética, assinam o documento desde Alberto Passos Guimarães Filho até Waldir Pires.
A recente redução do preço internacional do petróleo pode tornar não lucrativa a exploração dos campos do pré-sal, de onde a Petrobras já vem tirando 20% do petróleo produzido no Brasil. Por quanto tempo a BR aguentaria um prejuízo operacional na exploração do seu mais novo filé?
O Tesouro Nacional não está em condições de financiá-la, enquanto os países produtores de petróleo, Arábia Saudita à frente (com os EUA por trás), nadam de braçada nos custos rasos do deserto. É aí que mora o perigo.
A queda do preço global do petróleo pode ser fruto de uma supermanobra oportunista de âmbito global, como é próprio dos cartéis.
A campanha para desvalorizar a Petrobras se alia à torcida de segmentos políticos, empresariais e religiosos que desenvolveram um ódio radical ao PT não tanto pelo envolvimento de petistas com a corrupção, mas pelo que fizeram os últimos governos pela distribuição da renda, a valorização do trabalho e a educação das pessoas situadas na base da pirâmide social.

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