“Ainda não encontrei explicação para votação tão baixa”, diz o jornalista Lasier Martins, recém-eleito senador pelo partido fundado por Leonel Brizola.
Com 305 mil filiados, o PDT é o maior partido do Rio Grande do Sul em número de sócios, mas seu candidato a governador, Vieira da Cunha, recebeu cerca de 250 mil votos, 10 vezes menos do que o candidato mais votado, Ivo Sartori, do PMDB.
A infidelidade dos pedetistas é um dos temas do debate que o novo senador quer promover dentro do PDT.
Com 72 anos de idade e mais de 50 anos de rádio e TV, Lasier nunca havia disputado cargos eletivos, embora diversas vezes tenha sido convidado a concorrer a deputado – a primeira vez foi em 1982 por Pedro Simon.
Ao estrear na última campanha, recebeu mais de 2 milhões de votos, batendo os ex-governadores Olívio Dutra e Pedro Simon. Ele atribui a vitória à sua postura crítica como radialista e comentarista de TV.
Nascido em Vale Verde, ex-distrito de General Câmara, no vale do Jacuí, é o mais velho dos sete filhos de um operário fã de Getúlio Vargas.
Quando foi registrá-lo, em plena guerra, o velho Antonio Martins queria dar-lhe o nome de Hailé Selassié, imperador da Etiópia, aliado dos EUA na guerra contra o nazifascismo.

O escrivão negou-se a aceitar o nome estrangeiro mas, por um acordo, chegou-se a Lasier, filho legítimo de um trabalhista de origem açoriana, Pereira Martins por parte de pai, Alves da Costa por parte de mãe.
Por causa do pai, Lasier filiou-se quatro vezes ao PDT enquanto era jornalista, mas se desfiliou outras tantas vezes para poder trabalhar livremente como mediador em debates políticos por rádio ou TV.
Sempre foi chegado aos microfones
Com 15 anos era o locutor do altofalante do colégio marista de Montenegro. Com 16, fazia um programa sobre esportes na Radio Montenegro.
Na capital, seu primeiro emprego lhe foi dado em 1960 pelo locutor esportivo Armindo Antonio Ranzolin na Difusora.
Em 1962, depois do serviço militar, foi repórter esportivo e comentarista na Radio Guaíba, onde trabalhou por 24 anos, sendo chefiado inicialmente por Mendes Ribeiro.
Formado em Direito pela UFRGS, trabalhou por dez anos como advogado trabalhista da Souza Cruz, cargo que abandonou em 1990 para trabalhar como funcionário full time da RBS – onde acabou ficando por 27 anos como apresentador da Rádio Gaúcha, da TV Gaúcha e da TV Com.
Work aholic, cobriu cinco copas e conheceu 36 países. Nos últimos anos, envolveu-se profundamente com os debates sobre o futuro da economia gaúcha, assunto que o fascina.
JÁ – Como Você se posiciona politicamente: direita, centro ou esquerda?
LASIER – A polarização direita x esquerda não faz mais sentido. Nunca me esqueço de uma palestra do pensador Alvin Tofler em Porto Alegre no século XX: ele disse que as pessoas deviam ser classificadas em lentas e rápidas. A meu ver, o que importa é o resultado. Fui contra a privatização da Petrobras, da Eletrobras, da Vale do Rio Doce, mas fui a favor da privatização da CEEE e da CRT. Banrisul? Sou contra privatizar.
JÁ – Mas dentro do PDT há correntes de direita e de esquerda…
LASIER – Bom, dentro do PDT, eu tenho um fiscal histórico na figura do Chris Goulart, que carrega na sua pessoa o DNA do trabalhismo. Eu sigo a linha do Alberto Pasqualini, que pregava o equilíbrio entre o capital e o trabalho. Minhas referências, além do Pasqualini, que foi ministro da Justiça, são Salgado Filho, que criou o Ministério da Viação; Getulio Vargas, que criou a Petrobras e o BNDES; o Jango, que caiu pelas reformas de base; e o Brizola, que criou 6251 brizoletas no Rio Grande do Sul e os CIEPs – as escolas integrais — no Rio de Janeiro.
JÁ – Você pretende uma reforma do PDT?
LASIER – Não é reforma, mas uma revisão. Quando aceitei a candidatura a senador, fixei duas condições. Primeiro, que o partido apresentasse candidato a cargos executivos em todas as eleições. Segundo, que fizéssemos uma revisão dos estatutos no sentido de harmonizar os grupos que vivem em conflito dentro do partido. É um absurdo que um partido com 305 mil filiados não dê 305 mil votos para seu candidato a governador.
JÁ – O que dizer da baixa votação do candidato do PDT a governador?
LASIER – Ainda não encontrei explicação, a não ser que havia três candidaturas mais fortes. Mas chega de andar a reboque do PT. Ou de qualquer outro partido.
JÁ – Quais seus planos para o Senado? Você tem aspirações a cargos executivos, por exemplo, o Palácio Piratini dentro de quatro anos?
LASIER – Eu quero servir ao Rio Grande no Congresso. Lá meu norte é o senador Christovam Buarque. Eu penso em provocar debates e apresentar projetos. Por exemplo, vou batalhar pela regulamentação da Lei Kandir. Meu consultor Darci Santos acha que o Rio Grande do Sul tem cacife, como exportador, para receber um bilhão de reais por ano por créditos da Lei Kandir. Eu também quero rediscutir o pacto federativo. A União exerce um poder imperial sobre o Brasil porque fica com 65% dos recursos nacionais. Pode-se entrar com uma ação contra a União por rompimento do pacto federativo, não?
JÁ – E a renegociação da dívida dos Estados?
LASIER – Estão falando em alongamento da dívida, o que não é suficiente para aliviar a situação dos Estados. Na época da negociação, em 1998, achei bom para os Estados, mas com o tempo o indexador se tornou muito pesado. Então aí está, é preciso mudar o indexador da dívida, mas vai ser difícil mudar isso se o Congresso continuar submisso ao Executivo.
JÁ – Aí o assunto passa a ser a reforma política.
LASIER – Sim, 80% do Congresso é submisso ao Executivo. Isso nos leva a pensar seriamente na corrupção que permeia as atividades dos ministérios, das estatais, das obras públicas. Num discurso de 15 de outubro no Senado, Pedro Simon bateu forte nisso. Eu liguei para ele e disse que pretendo seguir sua linha de conduta. Quero ser fiscalizador da sangria dos recursos públicos. Acho, por exemplo, que o Senado precisa sabatinar os presidentes das estatais e os responsáveis pelas grandes obras, exigir que mostrem as contas e se justifiquem.
JÁ – O que V. acha da transição tecnológica dos meios de comunicação?
LASIER – Hoje há uma avalanche de informações na internet, que está democratizando o acesso mas vem criando uma situação difícil até para os grupos que lideram o mercado convencional. A RBS, que é líder por sua qualidade, está passando por dificuldades. A demissão de 130 profissionais foi causada pela perda dos anúncios classificados, que migraram para a internet.
JÁ – Agora como senador eleito, Você está sofrendo mais assédio do andar de cima ou do andar de baixo?
LASIER – Tenho recebido quatro a cinco pedidos de emprego por dia. E olha que pouca gente tem meu celular.
JÁ – Quanto lhe custou a campanha eleitoral?
LASIER – O contador está fechando as contas, mas ficou em torno de 600 mil reais. Uma campanha barata. Só entraram mais recursos nos últimos dias. Quem botou mais dinheiro foi o Gerdau: 100 mil. Outras empresas como a Celulose, a Randon também ajudaram. Mas não recebi nenhum centavo de empreiteira nem de banco…
JÁ – O que Você pensa da reforma agrária, um tema caro ao trabalhismo histórico?
LASIER – Não há recursos para desapropriações de terras. Os recursos que houver precisam ser destinados à melhoria de vida nos assentamentos. A maioria é favela. Eles precisam de eletrificação, escolas, assistência técnica. O Rio Grande do Sul ainda é uma sociedade agrária.
JÁ – E quanto às outras reformas de base?
LASIER – A mais importante, a fundamental é a reforma política. Na campanha eleitoral eu vi o quanto é intenso o uso da máquina governamental. A presidenta Dilma fazer campanha sem deixar o cargo é corrupção eleitoral. Por outro lado, é preciso vetar a participação das empresas.
JÁ – Você é favorável ao financiamento público das campanhas?
LASIER – Não. Acho que as campanhas têm de ser custeadas por duas fontes: fundo partidário e doação de pessoas físicas.
JÁ – E o carvão como fonte energética?
LASIER – Sou a favor da exploração intensiva, com tecnologia moderna, sem danos ao meio ambiente, para que o Estado reduza a dependência da energia fornecida pelos estados vizinhos.
O suplente

O senador Lasier Martins tem como suplente o advogado Christopher Goulart, neto do ex-presidente Jango Goulart, que nasceu no exílio, em Londres, em 1976, em plena ditadura militar.
Suplente de vereador em Porto Alegre, até julho passado Chris estava trabalhando para disputar um mandato de deputado federal, mas sabia que tinha pouca esperança de eleger-se.
Acabou sendo indicado pela direção do PDT para compor a chapa ao Senado depois que dois nomes do DEM não passaram pelos filtros partidários.
Agora, para começo de trabalho, está incumbido de ajudar na revisão do estatuto e do programa do partido.
Entrevista a Geraldo Hasse e Elmar Bones
Lasier Martins: "Sigo Pasqualini e Leonel Brizola"
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