Ababadiba e Abiaxé abriram o lançamento do livro na Palavraria (Fotos: Carla Ruas/Jornal Já)
Carla Ruas
A Organização de Mulheres Negras Maria Mulher promoveu quarta-feira, no Bom Fim, o lançamento do livro O Caminho das Matriarcas, de autoria de Maria do Rosário Carvalho dos Santos. A obra é composta por relatos de quatro mulheres negras, as maiores autoridades dos terreiros de São Luiz, no Maranhão. Através do diálogo com estas Mães de Santo, a autora aborda temas como racismo, escravismo, valores espirituais e sistemas de pensamentos africanos.
O evento, que ocorreu na Livraria Palavraria, contou com a presença de representantes de ONGs, e interessados no Candomblé. A noite começou com uma saudação a Exu, com um canto realizado por Ababadiba e Abiaxé. Logo, a historiadora e diretora do Instituto Kuanza, Cidinha da Silva, falou sobre a importância desta publicação para promover o conhecimento de uma religião de matriz negra.
A historiadora Cidinha da Silva falou sobre a importância de manter viva a cultura negra
“As entrevistadas do livro são as mulheres que iniciaram os cultos na casas de tambor de mina e de nagô, específicas do Maranhão”, conta Cidinha. Os 50 anos de prática no Candomblé as levam a ter um conhecimento profundo, raramente divulgado para quem não é iniciado. “O livro aborda aspectos pouco conhecidos, como a prática religiosa, a vida social e a sabedoria popular”, afirma.
Para ela, outro mérito desta obra está na autora, uma pesquisadora negra, que realizou as pesquisas entre 1973 e 1998. “Maria do Rosário merece ter um reconhecimento pelo seu trabalho de pesquisa. Ela foi a primeira pesquisadora recebida pelas Mães de Santo desde a década de 70”, relata.
A autora, hoje com 70 anos, está doente, e por isso não pôde comparecer ao lançamento. “Mas nós vamos para São Luiz em janeiro, para divulgar o livro com uma grande festa”, garante Cidinha.
A publicação só foi possível graças ao projeto Imprensa Social, uma parceria de várias ONGs com a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Entre as organizações que participam, estão: o Instituto Kuanza, a Ação Educativa, a 5 elementos e o CENPEC. O objetivo do projeto é divulgar temas e autores que tenham trabalhos importantes sobre os Movimentos Sociais do país.
A organização Maria Mulher foi a responsável por trazer este lançamento para Porto Alegre. “Nós temos como missão divulgar a cultura africana e a história das mulheres negras, construtoras da história do Brasil”, afirma Maria Conceição Lopes Fontoura, uma das diretoras do grupo. Ela conta que o Maria Mulher realiza parceria com várias ONGs que tratam desta temática. Nesta ocasião, o encontro é ainda mais especial, já que a organização será destaque da oitava edição do Prêmio Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, no dia 10.
Maria Conceição lembra, ainda, que o livro se enquadra na Lei 10.639/03, que obriga o ensino da história da África e cultura afro-brasileira nos currículos escolares. “Ele pode ser bem utilizado neste sentido, para disseminar a cultura dos negros, que são maioria no país”.
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