Maria Carpi, a patrona da Feira do Livro, lança "Uma casa no pampa"

Ana Carolina Pinheiro
“Eu não quero foto com livro na mão. Por que todo mundo acha que escritor
tem que tirar foto com livro na mão?”.
Foi assim que Maria Carpi, patrona da 64ª Feira do livro de Porto Alegre, nos recebeu na casa em que mora no bairro Petrópolis, zona norte da Capital.
Apaixonada por plantas, a autora faz questão de fazer fotos em seu recanto
cercado de verde.
Aos 79 anos, Maria Carpi relembra a infância em Guaporé, e conta que vem de menina o gosto pela natureza.
“Eu tive o privilégio de viver no interior. Nasci e vivi no interior. Meu pai veio adulto da Itália. Ele e a minha mãe, Elisa, tinham um hotel em Guaporé que estava inserido em um pomar. Eu tive uma infância ensolarada”.
Sobre o gosto pelos livros, a escritora destaca que foi apenas aos 15 anos,
quando deixou Guaporé e veio para a Capital estudar no Bom Conselho, que o
hábito da leitura de desenvolveu.
“Na escola de Guaporé, eu ficava inquieta na biblioteca porque eu queria brincar na natureza. Para mim, a natureza veio antes dos livros. Por isso insisto que criança deve brincar. Primeiro vem o brincar, depois os livros”.
Apesar de seu pai ter um grande amor pelos livros, foi o Colégio Bom Conselho
o grande responsável por desenvolver seu gosto pela leitura. “Foi o Bom
Conselho que me deu, principalmente a minha professora Carmen Santos, que
foi excelente comigo”.
Com orgulho, a autora conta que já foi eleita patrona da
Feira do Livro do Colégio que considera tão importante na sua formação.
“Já fui patrona da Feira do Livro do Bom Conselho. Saí aluna e voltei escritora,
patrona”.
Bacharel em Direito pela UFRGS, Carpi conta que fez do livro uma escolha:
“Eu escolhi o livro. Quando alguma coisa me bate eu vou a procura. Não leio
por erudição. Eu leio por fome”.
Defensora Pública aposentada, a autora conta que durante muito tempo mal tinha tempo para escrever. Mãe de quatro filhos e avó de seis netos, trabalhava no juizado da infância e ainda dava aulas de Linguagem Jurídica na PUCRS.
“O meu filho Fabrício sempre dizia: eu nem sei quando a mãe escreve”.
Foi aos 50 anos, inspirada por amigos, que Maria Carpi lançou seu
primeiro livro de poemas, “Nos gerais da dor”.
Havia outros 15 manuscritos na gaveta. “Escolhi um dos que já tinha. Todos os meus amigos se reuniram para ajudar, principalmente o professor Luiz Antonio de Assis Brasil, que insistiu para que eu publicasse”.
O reconhecimento veio logo. “Nos gerais da dor” venceu o Prêmio da
Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) na categoria Revelação em
Poesia em 1990 e o Prêmio Erico Verissimo da Câmara Municipal de Porto
Alegre em 1991.
De lá para cá já são 14 livros publicados, com um inédito chegando para a
Feira do Livro. “Uma casa no pampa” será lançado dia 15 de novembro, às
18h30min, na praça central de autógrafos, pela editora Ardotempo.
Para a autora, o lançamento foi um milagre: “quando fui indicada para ser patrona,
fiquei triste por não ter um livro novo. Mas o editor, o meu amigo Alfredo Aquino
quis lançar para a Feira. Assim aconteceu. Milagres ainda acontecem”.
“Uma casa no pampa”, para Maria Carpi, é um livro que trata sobre a
cordialidade pampeana.
“Eu sou sulina, muito latino-americana. Eu amo desde
o Martín Fierro, Atahualpa Yupanqui, todos poetas latino-americanos. Tenho
empatia muito grande por eles. Dentro do Brasil, me sinto muito gaúcha. Nesse
livro novo procuro refletir o que é a imensidão do pampa que cabe no
coração”.
Sobre a experiência do patronato, Maria Carpi conta que a notícia a deixou
muito feliz: “Foi uma alegria, me agrada muito. Veio na hora certa, como marco
de uma caminhada bem-sucedida”.
Para aguentar os 18 dias de extensa programação, a patrona contará com
ajuda dos outros escritores que disputaram com ela o patronato – Caio Riter,
Celso Gutfreind, Claudia Tajes e Leticia Wierzchowski.
“Convidei os quatro escritores jovens que me acompanharam no patronato para que eles me ajudem a caminhar. Já tenho 79 anos, vou providenciar uma cadeira amarela
para me sentar. E onde eu não puder chegar, os livros vão. Os livros vão
caminhar muito”.
Para os que estão começando a carreira das letras, Carpi lembra que a poesia
está em todos os lugares, no gesto e na cordialidade – é só saber ver. “E como
faz para a gente aprender a ler poesia? Primeiro, se desenvolve a
sensibilidade; depois, pega o livro”, brinca.
No entanto, lembra que o fazer poético requer trabalho: “Escrever poesia é
uma vocação, é uma aceitação que requer disciplina, tenacidade e paciência.
Eu só fui me disciplinar como escritora já mais madura, com 37 anos. Depois
me preparei para lançar livro com 50, 51 anos. Eu não tenho pressa. Não sou
parâmetro para ninguém. Cada um tem que encontrar seu próprio ritmo”.
O processo de produção de Maria Carpi é meticuloso. Por não ter pressa para
publicar, a autora se debruça muitas vezes em seus versos, até ter a sensação
de que ele já se tornou independente: “Eu prefiro esperar, revisar, revisar,
revisar. Sou assim. Quando releio um livro para publicar, eu percebo que ele
não é mais meu. Esse é o sinal de valor – quando o livro escapa da gente”.
A obra de Maria Carpi há muito já escapou de sua autora. Seus dois livros de
prosa poética, “Abraão e a encarnação do verbo” e “O senhor das
matemáticas”, já ganharam traduções para outros idiomas. Com orgulho, Carpi
destaca que vem servindo como instrumento de pesquisa para sua neta
Mariana, que cursa Letras na UFRGS. “A minha neta Mariana está traduzindo‘O senhor das matemáticas’ para o espanhol junto com a professora dela.
Estão traduzindo dentro da teoria da enunciação”.
 

Adquira nossas publicações

texto asjjsa akskalsa

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *