Menores buscam sustento nas ruas

Carla Ruas

Crianças, jovens e adultos pedem dinheiro, roupas e comida nas calçadas do Bom Fim todos os dias. Entre os freqüentadores da rua, alguns são sem-teto, outros vêm de regiões distantes para passar o dia. Todos dependem da caridade alheia.

O bairro, cada vez mais uma extensão do Centro, é um local visado em função do constante movimento de pedestres e carros. Ponto emblemático é o trecho da rua Fernandes Vieira, entre Hernique Dias e Vasco da Gama.

Por ali, dezenas de pessoas se acomodam na tarde-noite, buscando a sobrevivência. Abordam donos de automóveis estacionados ou retidos no semáforo e transeuntes, especialmente os que vão fazer compras no supermercado Zaffari.

A maioria é menor de idade. Caso dos garotos E. e L., que moram na Vila Pedreira, no Morro Santana. Ambos com 15 anos tentam a vida como guardadores de carros. “Fico cuidando e ganho 1 real ou 50 centavos de cada motorista”, diz E. O amigo L., sempre sorrindo, apesar de não ter os dentes na frente, conta que está na 5ª série, mas que não sabe ler. Está desiludido com a escola.

A jovem G., de 16 anos, vem diariamente de ônibus da Vila Laranjeira, no Morro Santana. Ela mora com a mãe, está matriculada na 5a série do Ensino Fundamental, mas troca a sala de aula pela rua Fernandes Vieira. “Não gosto muito do colégio”, explica. Na calçada, ganha um pouco de dinheiro e mercadorias que leva para casa, e convive com jovens que passam pela mesma realidade.

Entre os adultos conhecidos na área, está Dona Maria, 32 anos. “É aqui que tiro o dinheiro para comer e alimentar minha família”, diz ela, que se desloca do Morro Santa Tereza, muitas vezes com as crianças a tiracolo. “São quatro filhos e não tenho com quem deixar a de dois e a de sete anos”. A mais nova fica brincando dentro de uma caixa de papelão.

Maria explica que ganha mais alimento do que dinheiro no local, como arroz, feijão e leite. “Se eu não vier para cá não tenho como sobreviver”. Ela recebe o benefício do bolsa-família, mas usa o dinheiro (R$100) numa casa que está comprando em uma área invadida. “Quero garantir a minha casinha, depois paro de pedir e procuro um emprego”, sonha.

Resistência de vizinhos e comerciantes

O núcleo de menores e adultos que buscam doações na Fernandes Vieira, no Bom Fim, incomoda comerciantes e vizinhos. O proprietário da fruteira Mãe Preta, Ademir José Siqueira, diz que a situação é constrangedora para quem é abordado. “As pessoas saem das lojas com sacolas e eles vêm para cima”.

A gerente da Padaria Pão Nosso, na Vasco da Gama, acredita que já perdeu clientes que não gostam desta aproximação. Ela reclama de um jovem que fica em frente ao estabelecimento, pedindo dinheiro aos motoristas que estacionam em frente ao seu negócio. O proprietário da Sabra Delicatessen, Marcos Brobacz, reclama da sujeira que fica na calçada. “De manhã sempre tenho que varrer os restos de comida”, diz ele, atribuindo o lixo aos pedintes que consomem alimentos no local.

Paulo Alves, zelador de um prédio da Fernandes Vieira, alega que o grupo senta em frente ao portão, atrapalhando a entrada dos moradores. “O pessoal reclama”, diz. O taxista Udolfo Coste, supervisor do ponto localizado na esquina da Fernandes Vieira com a Henrique Dias ensina que a solução é não fazer doações. “Eles vem para cá porque os moradores sempre dão mercadorias do súper”. A moradora Evanice Pauletti sugere uma mobilização e conscientização de comerciantes e moradores, apostando num mutirão de doações a ser entregue nas vilas de onde vêm os pedintes.

O órgão da Prefeitura responsável por menores nas ruas de Porto Alegre é o Serviço de Educação Social de Rua (Sesrua), ligado à Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc). Equipes realizam abordagens em locais pré-definidos e nos solicitados por telefone. Na abordagem, o jovem de até 14 anos é aconselhado a ir para o Lar Dom Bosco, que tem oficinas, jogos e educadores.

De 15 a 18 anos, a opção é a Escola de Porto Alegre, que oferece atividades com professores. O órgão mantém fichas com nome, idade, local de moradia e escolaridade dos menores. O banco de dados confirma que boa parte dos menores e adultos que buscam a sobrevivência na rua moram em locais afastados, como Lomba do Pinheiro, Agronomia, e até de Viamão.

“Não podemos tirá-los da rua à força”, diz a gerente do serviço, Isabel Simões da Silva. Ela observa que o trecho do Bom Fim é apenas um espelho do que acontece no resto da cidade. O telefone para solicitação de abordagens do Sesrua é 3221.2024, de segunda a sexta, das 7h às 24h, e sábados, domingos e feriados, das 7h às 19h.

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