Mercado mantém vitalidade no centro da Capital

Cleber Dioni
O Mercado Público Central de Porto Alegre é o marco de uma época de crescimento da capital gaúcha e permanece até hoje como um símbolo extra-oficial da cidade. É um dos poucos espaços tradicionais que preserva sua vitalidade no centro da capital, uma área com enormes problemas, principalmente de segurança, não muito diferente de outras metrópoles.
Os números dão idéia da dimensão do mais antigo centro de abastecimento dos porto-alegrenses: as 106 lojas empregam mil trabalhadores e ainda geram 800 empregos indiretos, sem contar as salas utilizadas pela Prefeitura e seus funcionários. Circulam diariamente pelo Mercado entre 100 mil e 150 mil pessoas. Atrativos não faltam: são açougues, peixarias, lojas de artigos gaúchos, religiosos e de importados, mercearias, padarias, agências lotéricas, bares e restaurantes, barbearia, livraria e revistarias.
Existem muitos saudosistas, de um mercado antes das grandes reformas, dizem que o movimento era melhor, menos tributos, havia uma proximidade maior com os clientes, se conheciam pelo nome, mas não é à toa que esse grupo pertence à faixa dos que têm entre 40 e 80 anos, de mercado. Os negócios cruzaram gerações e ninguém se atreveu a vender.
Há problemas, sem dúvida. E questões maiores, como a falta de estacionamento, mas o miúdo é o que incomoda mais. Dona Madalena diz que chove na cozinha e faz muito frio naquele quadrante, mas não deixa de servir o melhor sorvete da cidade na banca 40. O seu Cláudio, há 40 anos ‘tomateiro’ no local, falou ao jornalzinho que circula no Mercado e arredores que, “agora, nem se compara, tem muitas despesas, porque é obrigado a ter firma registrada, contador e outros tributos”. Seu colega, Mauro Wendt, também ‘tomateiro’, disse ao Jornal do Mercado que no tempo da ‘banquinha’ era melhor, mas não tem muita certeza: “Antes era tudo muito sujo, sem higiene, tudo meio atirado, até chovia dentro”, lembra.
A administração é muito complexa, diz Fortunato Machado, que preside a Associação dos Comerciantes. Dono de uma das duas bancas de revistas, ele acredita que as reformas chegaram em boa hora, apenas demoraram muito concluir. “Nesse intervalo muita coisa mudou, o mercado deixou de seu o único grande centro de compras, ganhou concorrentes de peso, mas aos poucos fomos reconquistando a população”, diz Machado.
Ele entende que a maioria das mudanças propostas pela Prefeitura é pensada a médio e longo prazos, o que é bom no seu entendimento, embora torne mais difícil convencer os permissionários da sua necessidade. Mas ele tem uma crítica: “A intervenção pública diretamente na venda dos produtos é demasiada, o poder público não pode decidir que tipo de produtos tu podes ou não expor, claro que vai depender do teu tipo de comércio”, destaca Machado.
Dois pisos e cobertura
O Mercado começou a ser erguido em 1864, numa área aterrada, a partir do projeto do engenheiro Frederico Heydtmann, tendo como coordenador o empreiteiro Polidoro da Costa. A inauguração ocorreu em 3 outubro de 1869, mas só foi aberto no ano seguinte. O primeiro centro de abastecimento que se tem notícia é de 1840 e ficava no então Largo do Paraíso, atual Praça 15 de Novembro, ao lado do atual.
Nesses 139 anos, o Mercado passou por duas grandes modificações. O prédio quadrilátero, com um pátio central, tinha apenas um piso. Seu estilo neoclássico compunha com outros imóveis do Centro, como a Assembléia Legislativa e a Beneficência Portuguesa, um novo visual da cidade.
Em 1913 recebeu o segundo piso, com ladrilhos trazidos de Pelotas e, a partir de 1991 até 1997, a área interna foi totalmente reestruturada, com a reconfiguração das bancas, instalação de gás central, de elevadores e escadas rolantes, e a principal intervenção: uma cobertura de metal, com mais de 15 metros de altura. A fachada foi restaurada, preservando a cor original, o amarelo ouro. A parte externa do prédio não pode ser modificada desde 1979, quando foi tombado como patrimônio histórico e cultural do município. Por isso, qualquer intervenção tem que passar pela análise da Secretaria da Cultura.
Em 1999, aos 130 anos, o Mercado teve parte de seu condomínio repassado para gerenciamento da Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Produção, Indústria e Comércio (SMIC). A Associação dos Comerciantes vinha recebendo constantes críticas de permissionários insatisfeitos com a extensão do horário de funcionamento e a abertura aos domingos, o que aumentava muito os gastos com segurança, limpeza e energia elétrica, porque também tinha que manter ligada a escada rolante e os dois elevadores.
A situação era agravada pelo valor da permissão de uso, o aluguel, que representava duas vezes mais que as despesas do condomínio. Por outro lado, era a única alternativa dos donos de bares e restaurantes aumentarem seus rendimentos.
Hoje, a administração é totalmente gerenciada pela SMIC. O perfil dos lojistas no segundo pavimento mudou, de salas de escritórios para bares e restaurantes. A Prefeitura reservou cinco ou seis salas para o Banrisul, mas não abriu ainda e alguns esperam que nem abra. Recentemente, a associação fez uma parceria com o Sebrae para qualificar os trabalhadores. “Temos tradição e preço, agora vamos qualificar, segmentar e trabalhar em escala”, completa Machado, vislumbrando o futuro do Mercado.
Um vídeo de 37 minutos com depoimentos de diversos comerciantes está sendo apresentado todos os dias nos altos do prédio. “Vale a pena, para quem quer conhecer esta família de trabalhadores”, sugere a socióloga Simone Derosso, diretora do Memorial do Mercado.

Adquira nossas publicações

texto asjjsa akskalsa

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *