Naira Hofmeister
As palavras de ordem são inconfundíveis: reforma agrária, neoliberalismo, fora FMI. Mas na tarde da sexta-feira, 30 de novembro, o objetivo maior da Marcha dos Sem, que reuniu nove mil pessoas no centro de Porto Alegre, era conseguir o diálogo.
“Estamos nos século XXI e vivemos num estado democrático. Não aceitamos que a governadora sequer nos receba em seu gabinete”, enfatizou o presidente da CUT-RS, Celso Woycieschowski.
Os organizadores da Marcha dos Sem querem reunir na mesma mesa representantes dos movimentos sociais, entidades empresariais e os poderes executivo e legislativo para traçar obetivos comuns. “Chega de sermos marginalizados. Queremos um debate organizado para solucionar os problemas da sociedade”, pleiteia o sindicalista.
Os movimentos possuem ampla representação na sociedade. Apenas a CUT possui mais de 1 milhão de 800 filiados. “O MST tem uma demanda de 2500 familias à espera do assentamento e os desempregados são hoje 14% da população em condições de trabalho do Rio Grande do Sul”, complementa.
Após inúmeras tentativas fracassadas, na tarde desta sexta os representantes sociais foram recebidos pelo secretário Paulo Fona e entregaram ao representante do governo uma carta onde propõem “mudanças na lógica de operar do Estado”.
A carta reune as principais proposições resultantes de debates ao longo desse ano, na “Jornada pelo Desenvolvimento com Distribuição de Renda e Valorização do Trabalho”. Durante esse fórum do qual participaram diversas entidades sociais, foi elaborado um plano para a recuperação econômica para Rio Grande do Sul. A diferença diante da proposta de Yeda Crusius rejeitada pela Assembléia Legislativa é que “são alternatiovas que promovem o desenvolvimento, e não o barram através de aumentos de impostos”.
A agenda do movimento sindical inclui, como ações imediatas, o combate à sonegação, renegociação da dívida com a União, cobrança da dívida ativa – “que já chega a R$ 17 milhões” – e o fim das desonerações fiscais aos grandes grupos empresariais. Paralelamente, a Marcha dos Sem quer mais investimentos na agricultura familiar, crescimento integrado e sustentável de sistemas locais de produção através de micro, pequenas e médias empresas e, a longo prazo, o fortalecimento das cadeias produtivas.
“Produzimos matéria prima no Estado mas não agregamos valor para a exportação”, observou Woycieschowski. Um exemplo citado pelo sindicalista é a produção de soja, exportada in natura. “A prórpia celulose, da qual a governadora é uma entusiasta, poderia ter uma cadeia de produção mais interessante economicamente, com a fabricação final de produtos e não apenas a obtenção da matéria prima”.

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