Negro gaúcho ganha história

O movimento negro gaúcho intensificou no início do século 21 o esforço para ter direito à história. Nos últimos anos, lideranças trabalham pelo reconhecimento de uma das páginas mais sangrentas da Revolução Farroupilha, o episódio da batalha em Cerro dos Porongos.

Um dos lançamentos da Feira do Livro que aprofunda a discussão é Lanceiros Negros (JÁ Editores, 144 páginas), dos jornalistas Geraldo Hasse e Guilherme Kolling. Trata-se de mais um livro-reportagem da editora, com pesquisa do também jornalista Euclides Torres e do historiador Gilberto Jordan.

A obra, patrocinada pela Copesul, recupera toda a recente mobilização do movimento negro, abordando a mobilização em Porongos e a tese da refundação da história do negro, defendida por uma corrente de antropólogos e historiadores.

O trabalho não é repositório de acusações e mitificações, mas uma criteriosa pesquisa, que inclui a reportagem dos negros reivindicando direito à história, e o levantamento de documentos e bibliografia que tratam do caso, e da formação dos lanceiros negros.

O ponto de partida não poderia ser outro. A batalha em Cerro dos Porongos. Ali está a visão de historiadores, o que aconteceu de concreto – um massacre – e os documentos que apontam para as diferentes versões. O livro também remonta o final da guerra, abordando as divergências entre os comandantes.

A obra Lanceiros Negros mostra ainda uma cronologia dos eventos guerreiros no Cone Sul, e conta a tradição do uso de lanças no pampa, desde o século 18, chegando até a Revolução Farroupilha, quando se descreve como foi feita a organização e o recrutamento dos lanceiros, e sua importância estratégica para os farrapos. Tudo ilustrado com documentos em que chefes dos dois lados dão seu depoimento sobre esses guerreiros. O livro traz ainda um panorama da escravidão na época dos Farrapos.

Reconhecimento

O Movimento Negro defende que o evento da Revolução Farroupilha em que tombaram os soldados negros passe a ser chamado de “traição de Porongos” e está organizando a construção de dois monumentos para homenagear os lanceiros, um em Pinheiro Machado, no local do massacre, e outro em Porto Alegre, no Parque da Redenção.

O fato não é isolado. Paralelamente, os governos municipal (Pinheiro Machado), estadual (Secretaria da Cultura) e federal (Fundação Palmares) dão sua contribuição à causa, seja na organização de programações alusivas ao fato, como na Semana da Consciência Negra, em 2003 e 2004, seja contribuindo em dinheiro para tirar do papel a homenagem aos lanceiros – a prefeitura de Pinheiro Machado comprou uma área de três hectares em Porongos, e a Fundação Palmares destinou uma verba para o concurso público de arquitetura que vai escolher a obra.

Também nas instituições governamentais da área da Cultura, há uma preocupação em resgatar a história dos afro-brasileiros. Além de um possível tombamento da área do massacre, o IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, está fazendo uma pesquisa para rastrear a herança do episódio de Porongos, e identificar os bens culturais que restaram.

Eventos recentes, como o que marcou os 170 anos da Revolução Farroupilha, em setembro na Assembléia Legistiva, também abordaram o assunto. Na oportunidade, o brazilianista Spencer Leitman reafirmou sua convicção de que houve traição aos negros. Outro historiador que defende a tese, o professor da PUCRS Moacyr Flores, publicou em 2004 mais um livro sobre o assunto: O Negro na Revolução Farroupilha (EST Edições).

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