Naira Hofmeister
O cientista político francês, Michel Maffesoli, e o artista plástico catalão, Antoni Muntadas, possuem visões diferentes da sociedade contemporânea. O primeiro acredita que estamos vivendo um retorno aos modos arcaicos de organização social, com a formação de tribos que dividem gostos e interesses. Já o espanhol continua acreditando que é individualidade e as preferências pessoais que seguem regendo o mundo.
Maffesoli e Muntadas foram protagonistas do primeiro diálogo entre conferencistas do Fronteiras do Pensamento. No encontro com jornalistas e respondendo as perguntas do público, Muntadas complementou e debateu com o francês Michel Maffesoli, sobre os lugares da memória na sociedade contemporânea.
Na tarde de terça-feira, na coletiva de imprensa, os dois conferencistas foram instigados a contrapor o excesso de informações disponibilizadas pelas Novas Tecnologias com a necessidade de vivência que o conhecimento aprofundado requer.
Defensor de que a percepção só é possível através do envolvimento – que por sua vez, requer tempo e dedicação – Muntadas comentou a afirmação de Maffesoli, de que “presenciamos um espetáculo no mundo, de que tudo pode ser experimentado e sentido”.
“Temos disponibilidade para receber as informações e principalmente para escolher entre elas. De fato há um vasto panorama, mas há uma energia que vai se aprofundar na escolha”, defendeu o artista plástico catalão.
Na visão de Muntadas, a maneira ideal de organizar essas informações é através da criação de um universo pessoal de referências para a memória, “Cada um deve construir seu museu imaginário individual”.
Aí foi o francês que rebateu Muntadas. Maffesoli defendeu sua tese do retorno contemporâneo ao arcaico, de uma sociedade que volta a ser tribal e não mais individual como estamos habituados a ouvir. “Na minha opinião, seriam museus grupais, com valores compartilhados entre os integrantes de determinada tribo”.
Muntadas não se convenceu. “A idéia do museu imaginário é uma metáfora: claro que há um grupo, mas nem todos dividem as mesmas preferências. Não acredito que sejam escolhas elitistas, mas sim, pessoais”.
Mais tarde, respondendo às perguntas dos alunos do Fronteiras do Pensamento, os dois voltaram a debater suas idéias, que acabaram por complementar-se. Sobre a efemeridade que tudo parece ter adquirido na sociedade contemporânea, Maffesoli instigou o público. “Não tenho certeza quanto a essa característica, me parece que há uma longa duração em alguns fenômenos”.
Muntadas contra-argumentou. “Temos que pensar nas coisas com uma data de validade. Não só a arte, mas a arquitetura e até mesmo as cidades, são como leite: caducam depois de um certo tempo”. A afirmação foi ilustrada com o exemplo do Japão, onde um edifício tem sua função alterada depois que passam 20 anos de sua construção. “Talvez seja só uma especulação, mas há coisas obsoletas a cada instante”.
Maffesoli complementou, defendendo a idéia de que a característica que define a sociedade pós-moderna é o instante eterno. “Interessante pensar no Templo de Ouro, no Japão. Ele foi construído há muito tempo, é uma construção de longa duração. Mas foi feito de uma para ser visto de formas diferentes, dando um sentido de impermanência e continuidade ao mesmo tempo”.
Muntadas então concluiu destacando o tempo como fundamento da percepção. “Geralmente falamos muito no lugar e pouco do tempo. Mas é importante valorizar e consumir o tempo para que a compreensão aconteça”.
Deixe um comentário