Matheus Chaparini
Panelão de cola de farinha, oficina na rua, um ensopado no fogo ou uma carne na brasa e cachaça noite adentro. Era assim que se fazia alegoria para o carnaval na calçada da rua Borborema, bairro São José, ou em frente a qualquer quadra de tribo, bloco ou escola de samba de Porto Alegre. Pelo menos é como Marlene Silva Machado se lembra dos preparativos de carnaval.
Dona Marlene sai no carnaval de Porto Alegre desde a adolescência. Desfila pelos Comanches desde o primeiro ano da tribo. Já saiu também pela extinta tribo Tapuias, apesar do ciúme dos colegas de Comanches, e por escolas de samba como Imperadores do Samba e Bambas da Orgia. Além de desfilar, já teve ala nos Bambas e até alguns anos atrás costurava.

Este ano, está impedida de desfilar porque está se recuperando de uma cirurgia. O fato de saber que não vai estar na avenida no final de março, interfere pouco ou nada na rotina carnavalesca de Dona Marlene. Mora a poucos quarteirões da sede dos Comanches e não perde um ensaio. “Não se perde o vínculo com os carnavalescos. A gente faz almoço, jantar, roda de samba… aqui é o ano todo.”
Marlene é saudosa de um tempo em que o carnaval era construído de forma mais colaborativa. “Nossa alegoria a gente fazia no meio da rua. Fazia uma panelão deste tamanho de cola de farinha de trigo. A gente passava a noite inteira ali, tomando cachaça e fazendo carro alegórico. Saía sopão, churrasco. Agora, terminou tudo aquilo, não tem mais.”
Marlene é critica ferrenha da remoção do carnaval da região central da cidade, com a construção do Porto Seco. Segundo ela, muita gente deixou de participar dos desfiles depois da mudança. “Os governantes querem acabar com o carnaval. Colocar o carnaval lá no Porto Seco? Aquilo é um horror. Os barracões são muito bons, mas é muito longe, a condução é ruim. Se tem carro, não pode levar porque roubam.”
Ela reclama da dificuldade de acesso ao local, com poucos ônibus, muitas filas, paradas de distantes e estacionamentos inseguros. Além disso, há restrições à entrada de alimentos e bebidas de fora. “Lá é tudo uma careza. Quer dizer, uma mãe que vai levar três ou quatro filhos tem que levar um lanche de casa.”
Aos 74 anos, com boa parte deles dedicados ao carnaval de Porto Alegre, Marlene é pessimista em relação ao futuro das agremiações carnavalescas. “Tá muito devastado. O carnaval maior está concentrado na Cidade Baixa. Eu acho que no futuro vai ter só bloco de rua. Escola, essas coisas não vai ter mais.”
“Nossa alegoria a gente fazia no meio da rua”
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