Novo Pontal do Estaleiro terá condo-hotel e clínica médica

 
Naira Hofmeister
Catorze anos depois de aprovada a lei que permitiu a venda do terreno do antigo Estaleiro Só para dar lugar a um empreendimento privado comercial, o projeto que atualmente se chama Parque do Pontal está na sua fase final de tramitação, prestes a obter o licenciamento para as obras.
Na noite de terça-feira, 18, o projeto foi apresentado ao Conselho do Plano Diretor (CMDUA), que precisa ratificar a aprovação do Estudo de Viabilidade Urbanística (EVU) já deferido pela Prefeitura. Depois dessa fase, o projeto recebe a Licença Prévia (LP), precisa aprovar o projeto executivo, e então são autorizadas as obras com a Licença de Instalação (LI).

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Reunião do Conselho do Plano Diretor em que a arquiteta Clarice Debiagi apresentou o projeto / NH/JÁ

Os conselheiros conheceram então o novo formato dado pelos empreendedores à proposta: é a 14ª versão do projeto, que foi modificado em razão da intensa polêmica gerada na cidade desde sua apresentação, no início dos anos 2000, que levou à realização de uma consulta popular que proibiu o uso habitacional da área.
No novo formato conhecido ontem, estão mantidos o shopping center – cuja loja âncora é a Leroy Merlin – e a área verde pública, chamada de parque como uma “licença poética”, segundo a arquiteta do projeto, Clarice Debiagi: “Na verdade é uma praça, não tem o tamanho mínimo necessário para ser parque. É uma questão semântica que não muda o que será entregue ao município”, esclareceu.
O empreendedor, entretanto, acrescentou duas atividades além dos já previstos escritórios para a torre de 82 metros que será erguida no local: consultórios e clínicas médicas nos andares baixos e um sistema de condo-hotel em pavimentos mais elevados. Os pisos mais de cima estão destinados a “salas amplas” sem definição fixa de uso.
Foi a solução pensada para capitalizar o negócio, já que um condo-hotel é um empreendimento gerenciado por operadora hoteleira, mas construído com recursos de investidores individuais que compram um quarto e depois recebem rendimentos dos aluguéis. “É um modelo de condomínio com proprietários compartilhados”, sintetiza o diretor de Incorporação da Melnick Even – empreiteira responsável pela obra do Pontal –, Marcelo Guedes.
Serão 142 quartos neste sistema no Parque do Pontal e já estaria definida a bandeira da operação, que, entretanto, não foi revelada pelos construtores. O terraço externo que se formará sobre a base do empreendimento, ocupado pelo shopping, será de uso dos hóspedes.
Área abrigará “hub da saúde” pioneiro
Os 200 espaços comerciais distribuídos nos demais pavimentos do Parque do Pontal vão abrigar escritórios e consultórios médicos, variando o uso conforme a demanda. A aposta pela segmentação do empreendimento para a área da saúde inclui ainda a oferta de laboratórios, clínicas médicas e a presença de um centro clínico do Hospital Moinhos de Vento nos primeiros pavimentos.
“É a grande âncora e vai operar média e baixa complexidade. Para casos mais complexos, haverá transporte disponível para levar o paciente até a sede do hospital”, revela Marcelo Guedes.
Melnick, Hospital Moinhos de Vento e o Grupo Zaffari são os três grandes parceiros do projeto Hub de Saúde, com quatro empreendimentos em Porto Alegre e um em Canoas. O Parque do Pontal será o pioneiro na Capital, que contará ainda com unidades do Hub de Saúde na Avenida Grécia (Zona Norte), Cavalhada e Aparício Borges (Zona Sul). A unidade de Canoas será o Maxplaza e já está em construção em uma área próxima à rodoviária.
Apesar de ser parceiro do Hub de Saúde, ainda não está confirmada a presença do Grupo Zaffari no Parque do Pontal, que terá espaço para um supermercado. O empreendimento da Avenida Grécia é próximo do Bourbon Wallig e o da Cavalhada também estará próximo de um supermercado da rede. Está garantida a presença da bandeira na construção do Hub da Saúde da Aparício Borges.
Além de ser um modelo em alta na cidade – há vários empreendimentos no formato “medical center” sendo erguidos ou em fase de planejamento em porto Alegre – a opção pela segmentação no caso do Parque do Pontal tenta também driblar eventuais dificuldades de comercialização dos escritórios. No BarraShopping Sul, por exemplo, há muita ociosidade nas torres construídas junto ao centro comercial.
“Nosso diferencial é a criação de um pólo de serviços específicos, com muita conveniência, lojas âncoras, praça de alimentação. As cidades tendem a se organizar em torno desses complexos onde se encontra tudo no mesmo lugar, é uma tendência moderna de consumo”, acredita o diretor de Incorporação da Melnick.
Shopping center terá 169 lojas
O shopping center do Parque do Pontal ocupará toda a base do empreendimento e terá 22 metros de altura na maior parte da construção. É o equivalente a um edifício de sete andares, embora, a divisão de pavimentos no empreendimento seja distinta. Nas saídas de emergência a construção será mais alta, com 32 metros de altura, ou cerca de 10 andares.
A Secretaria de Urbanismo de Porto Alegre (Smurb) exigiu que a base da edificação fosse “permeável” para integrar o empreendimento com a praça pública que vai emoldurá-lo. Dessa forma, o shopping terá lojas abertas e voltadas para o espaço público, fachada envidraçada que permita a vista do Guaíba mesmo para quem estiver atrás do prédio, na avenida Padre Cacique, e corredores amplos para a circulação interna no shopping: o central com 14 metros de largura e os secundários com quase 8 metros.
Ao todo, serão 169 lojas e praça de alimentação com área ao ar livre para contemplação.
Terreno abrigava antigo trapiche para descarte de dejetos
A praça que dá nome ao Parque do Pontal – anteriormente conhecido como Pontal do Estaleiro – ocupa quase a metade do total do terreno. A área mais próxima ao Guaíba é pública de origem, mas cerca de 15 mil m² serão doados pelo empreendedor ao município, consequência de uma emenda à lei dos índices construtivos para o empreendimento segundo a qual não é possível construir na faixa dos 60 metros de margem do rio, o dobro do que determina a legislação.
Dentro dessa área pública será aberta uma via de circulação local, com velocidade reduzida.
O terreno é considerado um sítio de memória da cidade – porque abrigou uma importante indústria na história econômica de Porto Alegre, o Estaleiro Só – e também um sítio arqueológico, já que nele foram encontradas as fundações dos trilhos do trem e do trapiche que levava os dejetos fecais da cidade para serem descarregados no Guaíba.
“São dois compromissos que temos com a preservação da história”, revela a arquiteta Clarice Debiagi.
Um deles é a criação do caminho interpretativo memorial do Estaleiro Só, que como o nome sugere, será um trajeto a ser percorrido dentro do parque para contar a história da antiga empresa. O outro é a sinalização, através de paisagismo, do local onde estão as estruturas remanescentes do sistema sanitário da Porto Alegre antiga. “Seguiremos a lógica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de manter as estruturas protegidas porque se formos abrir buracos para deixá-las aparentes, podem se desmanchar”, explica a arquiteta.
O projeto da praça será ainda objeto de estudo detalhado do escritório de Clarice – e do pai, Jorge Debiagi – em conjunto com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
Comunidade vai debater o projeto
O EVU do Parque do Pontal será relatado pelo representante da região oito de planejamento (RP8), André Seixas, que solicitou duas reuniões com a comunidade da Zona Sul para aprofundar o debate sobre o empreendimento.
A primeira ocorre nesta quinta-feira, 20, às 19h, no Clube de Mães do Cristal. A outra será nos primeiros dias de novembro, na Vila Tronco. Ambas contarão com a presença dos empreendedores para esclarecer dúvidas dos moradores do entorno.
A iniciativa foi do relator, que pediu prazo maior que o usual para entregar seu parecer. “Gostaria de poder ouvir primeiro a comunidade para depois fazer minha apresentação”, justificou.
O secretário de Urbanismo de Porto Alegre, José Luiz Cogo, entretanto, insistiu para que Seixas faça a leitura de seu parecer já na próxima semana. “Senão vamos ficar muito tempo com esse projeto”, observou.
A solução acordada foi que outras regiões pedirão vistas ao processo para ampliar o prazo de tramitação até que sejam vencidas as conversas com a comunidade. O relator não ficou muito satisfeito: “Esse processo é muito importante, teve até plebiscito na cidade para avaliar, gerou grande discussão. Para fechar com chave de ouro seria importante termos esse tempo maior para relatar. Mas fica acordado que a RP8 fará a apresentação… se ninguém ficar doente”, provocou.

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