O drama de Abigail


Abigail: craque do Rolo Compressor esteve no Pronto Socorro (Fotos: Naira Hofmeister/JÁ)

Guilherme Kolling

Na manhã desta terça-feira, 5 de setembro, o setor administrativo do Sport Club Internacional recebeu uma chamada do Hospital de Pronto Socorro. Era do Serviço Social, informando que um senhor, que não soube informar telefone e endereço dos familiares, aguardava algum parente para buscá-lo no local.

Apesar de confundir dados do presente, o homem contou diversas histórias de sua trajetória como jogador colorado. Por isso o Inter foi acionado. Funcionários do HPS não sabiam exatamente de quem se tratava, apenas que era um ex-atleta.

Falavam de ninguém menos que Abigail Conceição de Souza, uma lenda viva do futebol gaúcho. Abigail é único integrante do Rolo Compressor que ainda está vivo e mora em Porto Alegre – os outros dois são Nena, que vive em Goiânia, e Ávila, estabelecido no Rio de Janeiro. Pois o grande craque do Internacional esteve internado como indigente no HPS.

Na segunda-feira pela manhã, ele ficou na sala de Sutura, para fazer um curativo num corte que teve na testa. Ainda com a cabeça enfaixada e um hematoma abaixo do olho direito, ele recebeu alta, pois dizia que estava bem e informava com segurança seu suposto endereço, rua Eurico Lara, 191. Na verdade, o local foi, mas não é mais o lar de Abigail.

Ele saiu sozinho do prédio do Pronto Socorro sem conseguir encontrar o caminho de casa. Resultado, no final da mesma segunda-feira, uma senhora o encontrou perdido, nas imediações do HPS. E encaminhou-o de volta ao Hospital. Foi onde ele passou essa noite.

Hoje pela manhã, um dos médicos o removeu da Sala de Sutura e o deixou no corredor, em frente ao Serviço Social, que não dispõe de espaço para internação. Deitado numa maca, envolto em cobertores para se proteger do vento frio, que passava pelo corredor, Abigail aguardava.

Apesar da insistência, ele não soube informar seu endereço atual nem lembrava como foi parar no HPS. Mas sabia de cor a escalação do Rolo Compressor: Ivo; Alfeu e Nena; Assis Ávila e Abigail; Tesourinha, Russinho, Vilalba, Rui e Carlitos.


Time do Rolo Compressor pentacampeão gaúcho em 1944 – Abigail é o quatro em pé, da direita para a esquerda (Foto: Arquivo JÁ Editores)

Parentes buscaram Abigail no início da tarde

Além do Sport Club Internacional, rádios da Capital foram acionadas pelo HPS. Depois de algumas horas, parentes de Abigail ficaram sabendo da notícia. No início da tarde, por volta das 14h30, o neto e o companheiro da filha do ex-jogador do Internacional foram buscá-lo. O Serviço Social do Hospital conduziu os três até sua casa, na Vila Farrapos.

Conforme relato do motorista, é um lar humilde, onde vivem Abigail, o neto, a filha e o companheiro dela. No HPS, o neto contou que o avô estava sumido desde domingo passado. A mobilização para encontrar parentes do lateral do Rolo Compressor despertou a solidariedade de diversas pessoas. Uma casa geriátrica se ofereceu para receber a lenda viva do futebol gaúcho.

Craque se destacou no Inter e na seleção gaúcha


No aniversário dos 90 anos do Inter em 1999: Carlitos, Abigail e Nena (Foto: Arquivo JÁ Editores)

Além de ter sido titular do Rolo Compressor em quatro das seis conquistas do hexacampeonato gaúcho – de 1942 a 1945 -, Abigail teve diversas participações na seleção gaúcha. A equipe venceu pela primeira vez a seleção paulista em 1944, época em o Rolo era a base do time.

Abigail também jogou na maior goleada colorada na história dos Gre-Nais, um 7×0 em 1948. E tem muitas outras glórias em seu currículo. Não bastasse sua importância, ele é hoje o único integrante vivo do Rolo Compressor que mora no Rio Grande do Sul – Nena está em Goiás e Ávila no Rio de Janeiro.

O craque iniciou sua carreira no Força e Luz. O estádio da Timbaúva era próximo de sua casa, no Caminho do Meio. Nascido em 10 de abril de 1921, o atleta começou a jogar futebol aos 12 anos. E até hoje é lembrado pelos sócios do Forcinha como um dos grandes jogadores da história do clube.


Abigail, hexacampeão gaúcho em 1945 (Foto: Arquivo JÁ Editores)

Aos 20 anos, foi contratado pelo Internacional, onde integrou a linha média da equipe comandada pelo técnico Ricardo Diaz, em 1942. O time já era bicampeão gaúcho (1940 e 1941), mas se aprimorou com os reforços daquele ano: Abigail, o goleiro Ivo Winck e o zagueiro Nena.

Era uma máquina que, nos seus seis anos gloriosos, venceu 19 e empatou cinco dos 28 Gre-Nais que disputou. Igualmente expressiva foi a contabilidade dos gols. Foram 87 vermelhos contra 49 tricolores, mais um dado eloqüente do poderio da equipe. Era um Rolo Compressor, como Vicente Rao gostava de chamar.

No apogeu desse ciclo, o Inter reuniu a equipe de jogadores mais famosos do Rio Grande do Sul em todos os tempos: Ivo; Alfeu e Nena; Assis, Ávila e Abigail; Tesourinha, Ivo, Adãozinho, Ruy e Carlitos. “Cada um deles reuniu, isoladamente, tantos feitos e qualidades que mereceria, hoje, uma biografia”, afirma Kenny Braga, no livro INTER – Orgulho do Brasil (JÁ Editores, 2006).

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