O Guaíba nas imagens poéticas de Achutti

Em “O Guaíba por Achutti” – obra financiada via Ministério da Cultura, produção executiva de Pedro Longhi, e Flávio Wild como designer –, o fotógrafo revela a beleza e as mazelas de um espaço aquático de águas sempre renovadas, cheio de histórias e lendas como as das cidades que foram construídas a sua volta.
Para tanto, servem de apoio os textos de apresentação do historiador Voltaire Schilling e o ensaio do jornalista André Simas Pereira.

A geração de Achutti, que cresceu na década de 60 do século passado, foi à última a curtir o Guaíba naquilo que ele tinha de melhor: suas praias, a orla balneária que do lado porto-alegrense vai, principalmente, do bairro Assunção ao Lami.
Ele recorda de quando era criança e morava no bairro Menino Deus: […] “lembro, vagamente, de que a Av. Bastian margeava o Guaíba. Eu lembrava que até havia dunas, mas meu pai me corrigiu outro dia que dunas talvez não, a vegetação é que era alta e eu baixo” (ACHUTTI, 2014).
Achutti cresceu, foi fazer doutorado em Antropologia em Paris, França, virou professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mas não esqueceu o seu rio. Batalhou durante dez anos o projeto de retratá-lo. Uma vez conseguidos os recursos, ficou mais de um ano fotografando as aguas, ilhas, construções, embarcações, e pessoas.
Não escolheu uma luz específica, pois a ideia era fugir do lugar comum, cartão postal, dando preferência à iluminação típica de cada estação, sem temer tempos feios. Assim, a luminosidade escaldante do verão, convive com a neblina do inverno, que, nesse caso, oferece uma imagem que faz lembrar alguns quadros de William Turner (1789-1862), famoso pelos seus fogs londrino.
Por isso, considera seu mais recente trabalho, acima de tudo, como uma homenagem poética: “ao rio que vi do alto, a minha primeira praia, rio de projetos, sonhos de criança, adolescente e jovem adulto”. (ACHUTTI, 2014).
Mas se as fotos realçam a beleza e o lirismo, os textos que acompanham o trabalho – principalmente o ensaio de 25 páginas de Andre Simas Pereira – relatam com profundidade diversos aspectos sobre o Guaíba e Porto Alegre. Percebe-se, logo, que suas histórias e lendas urbanas nos últimos dois séculos e meio se completam, e se confundem.
Auguste de Saint-Hilaire
Assim, na narrativa histórica de Pereira não faltam citações e observações de famosos estudiosos europeus, como Auguste de Saint-Hilaire, que visitou Porto Alegre em 1820. Ou a descrição do primeiro aterro sofrido pelo Guaíba, em 1842, para a construção da doca do primeiro mercado público da cidade, inaugurado em 1844; a Ferrovia (para transportar fezes) do Riacho.
E daí para um interessante mergulho no século XX, com a construção do moderno porto fluvial; a descrição do prato principal servido na ilha do Presídio, quando abrigou um ilustre preso político, o ex-prefeito Raul Pont; e as homenagens fúnebres das cinzas jogadas no rio de Luiz Pilla Vares, ex-secretário de Cultura de Porto Agre, e de László Böhm, ex- diretor do DMAE e grande velejador, que deixou 250 litros de chope, previamente pagos antes de sua morte, para que os amigos bebessem em sua homenagem.
Enfim, “Guaíba por Achutti”, mais do que um belo livro de fotos e histórias de uma das mais belas paisagens lacustre-fluvial do território brasileiro, traz a oportunidade para refletir e elaborar ações políticas e técnicas de reconquista de um espaço que por descaso do poder público tem sido tratado, principalmente, como uma cloaca e depósito de lixo das mais variadas procedências.

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