FELIPE UHR
De longe já se vê as diversas faixas. Lula, Dilma e o PT são os principais alvos. “Fora Dilma” e “Lula na Cadeia” são as mais comuns. Mas cartazes contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha e do Senado, Renan Calheiros, ambos do PMDB, também são encontrados.
Na esquina junto ao Parque Moinhos de Vento, o Parcão, é possível ver melhor. A faixa “Acampamento Sergio Moro” dá nome ao local que é, em Porto Alegre, o ponto de vigília daqueles que querem o Impeachment da presidente Dilma.
Dentro do Parque, entre as árvores, cerca de 25 barracas de diversas cores e tamanhos ocupam um canto do espaço.
Uma divisão com fitas plásticas delimita o território. Entre as primeiras árvores, mais duas faixas, os rostos de dois conhecidos liberais, Ronald Reagan e Milton Friedman e suas célebres frases respectivamente: “Nós o Povo, dizemos ao governo o que fazer, não o contrário” e “Não existe almoço grátis”.
Entre as tendas e “gazebos”,o pomar de “pixulecos”(o boneco de Lula preso) é abundante naquele espaço do parque. “Plantamos moedas e nasceram esses pixulecos” brinca um dos integrantes do movimento.
Do lado das barracas, cadeiras, uma mesa e uma churrasqueira de latão. Ao lado tijolos apoiam uma grelha: é o fogão à lenha improvisado.
Chego ao local pouco mais de uma da tarde. Sou recebido por um homem de camisa branca com os seguintes dizeres estampados: Partido Militar do Brasil. Um pouco desconfiado, ele pergunta da onde sou e porque estou tirando fotos.
Me apresento como jornalista, pergunto o seu nome e explico a minha aproximação. Poucos instantes depois mais dois indivíduos se aproximam. Um deles é Jorge Colares, o prefeito do acampamento. “Sou o prefeito porque sou o mais velho” brinca ele.
O outro, mais jovem, é o estudante de direito Alberto Flores. Nas primeiras horas é com ele e com o carioca Rafael Albani, que chega logo em seguida, que converso mais.
Os dois são integrantes da Banda Loka Liberal, um dos movimentos idealizadores do acampamento. Sentamos embaixo da lona e por algum tempo trocamos palavras sobre o atual cenário político e sobre a banda o qual fazem parte.
Sob o nosso olhar, o senhor de camisa branca senta conosco e durante algum tempo filma nossa conversa.
BANDA LOKA LIBERAL: UM FENÔMENO POLÍTICO DA DIREITA
Eles existem oficialmente há um ano, logo após os protestos do dia 15 de março de 2015. Seus integrantes tem entre média 28 anos. O nome veio ao natural, explica Alberto, inspirado nas “barras” (torcidas organizadas de futebol da Argentina) e na ideologia do Liberalismo, defendido pelos fundadores e maioria do grupo.
A banda Loka Liberal que atualmente tem mais 40 mil seguidores de todo o Brasil no facebook, embala os manifestos pró Impeachment, com cantos que pedem a saída de Dilma e a prisão de Lula. Já são mais de 30 músicas.
“A esquerda dá milhões de motivos para escrever tantas músicas” argumenta Rafael quando se refere a quantidade notável de composições. A mais conhecida e mais cantada “Chora Petista” que nasceu já no primeiro manifesto, pegou fácil e colaborou para a ascensão do grupo que já esteve em Brasília protestando contra o governo.
Quando pergunto sobre porque Dilma e Lula são os principais alvos nas músicas a resposta é imediata: “Eles são o topo da pirâmide”.
A conversa é interrompida. Colares anuncia o almoço: um arroz, com molho e galinha. Água e refrigerante são as opções de bebida. A falta de talheres atrasa um pouco o inicio da refeição que começou em torno das quatro da tarde.
ACAMPAMENTO ORGANIZADO e POLITIZADO
Durante as horas que fiquei no acampamento, mas principalmente durante o almoço, a pergunta que mais ouvi foi: “Mas qual a tua posição política?”
No acampamento Moro, todos aparentam ter argumentos suficientes para a saída de Dilma. A insatisfação com o governo e as atuais denúncias de corrupção colaboram. O liberalismo e o conservadorismo são uma convicção.
Todos são de direita, mas há diversos tipos: desde os que são a favor de uma possível intervenção militar aos que apenas querem o fim do atual governo. Quando pergunto se Temer é a solução, ouço a resposta: “Talvez não seja a melhor opção , mas precisamos derrubar todos corruptos” argumenta um .
Enquanto desfruto do delicioso arroz com galinha, simpatizantes se aproximam do acampamento. Uns queriam assinar o papel com as dez medidas de combate à corrupção formulada pelo Ministério Publico Federal recentemente.
Outros queriam a camisa da Banda Loka Liberal vendida por vinte e cinco reais.
É o caso da dentista Daniela Meira que trabalha perto do local. Apreciadora do movimento ela diz que é a favor do Impeachment mesmo admitindo ter “um medo por não saber o que pode acontecer”.
Sob o regimento de Colares, tudo funciona muito bem no acampamento. Na cozinha improvisada, isopores e coolers separam carnes, águas, refrigerantes e demais mantimentos devidamente etiquetados. Térmicas e cuias também não faltam para o chimarrão matutino ou final de tarde.
Durante o dia os integrantes vão se revezando. Alguns vêm no inicio da manhã, almoçam e vão trabalhar à tarde. Sempre há alguém que passa para saber se falta alguma coisa. Outros chegam depois da aula e do trabalho já no começo da noite e passam a noite lá. O acampamento se sustenta através de doações. Vinte reais aqui, outros cinquenta ali ajudam na manutenção.
DEZ DIAS ACAMPADOS, MAS AINDA SEM AUTORIZAÇÃO
Instalado há dez dias no Parque Moinhos de Ventos, o Acampamento Sergio Moro não tem autorização da prefeitura.
Segundo Colares, o pedido foi feito ao prefeito já no primeiro dia de ocupação e ainda não se obteve resposta.
Outro problema são os banheiros: não há sanitários químicos e o do parque fica disponível até as 18h apenas. “Sorte temos os empresários e donos dos restaurantes e bares ao redor que nos deixam usar” salienta o “prefeito”.
Iluminação, apenas dos postes do parque e do fogo das churrasqueiras.
O almoço termina e continuamos com a roda de política. Chegam mais dois integrantes da Banda Loka: um deles, Tiago Silveira.
Para ele o liberalismo ainda não tem a mesma força da esquerda. “Faltam partidos que nos representem” argumenta. Quando cito PSDB ou PP os presentes na roda rechaçam: “Um é governo e o outro leva a sigla de uma Social Democracia, se dizem de direita mas são de esquerda” rebatem.
Para eles partidos de direita ainda não existem no Brasil. O mais perto é o Democratas “casado há anos com o PSDB”.
Tiago também lembra que durante as décadas de 60 e 70, quando não tinham dinheiro nem poder político, a esquerda utilizou do poder intelectual e cultural para se disseminar. “a direita não usou disso e os reflexos a gente está vendo”.
Para alguns integrantes da banda Loka grande parte da esquerda possui muito poder econômico e é fortemente sustentada pelo governo.
O tempo vai passando, e as ideias de liberalismo e de Estado mínimo, são recorrentes. Citações de filósofos, economistas e políticos liberais sustentam a discussão. Mas eles não se iludem com as mudanças a curto prazo: “Vai demorar, mas a população está dando a respostas na ruas”.
De políticos como opção para um possível governo ouve-se Bolsonaro, Onyx e até mesmo Aécio, desde que não esteja envolvido na lava-jato. “Vamos ter que ir no menos pior” afirma um.
Ao repórter são sugeridos, durante a conversa documentários e livros como o “Caminho da Servidão” do economista e filósofo austríaco Friederich Hayek, todos de teor liberal.
A noite chega e com ela mais pessoas se juntam ao acampamento. Muitos vindos do trabalho.
Um grupo de mulheres traz um presente ao acampamento: uma nova faixa com o nome do Acampamento, esta com a foto do Juiz que leva o nome de batismo do lugar.
Mais integrantes vão se juntando. Jovens da Banda Loka também vão chegando. O chimarrão dá lugar ao fardinho de Brahma, estrategicamente colocado em um dos isopores. O fogão de tijolos dá lugar à churrasqueira de latão. É a hora do “choripan”(pão com linguiça).
De um lado a banda Loka já com vários integrantes, presentes. Do outro, alguns e o “prefeito” Jorge Colares que prepara o salsichão. Na mesa, pronta para receber o calor do fogo uma porção de coxinhas. Assim como no almoço, o repórter é convidado novamente para a refeição. Dessa vez recuso o convite e após oito horas no acampamento Moro me retiro.
Os integrantes do acampamento prometem a vigília até o Impeachment acontecer. Durante as várias horas de conversa sempre perguntava o que representava de fato o acampamento. A mais interessante resposta que recebi foi uma citação a Saul Alinski “que disse que todo movimento deve ter território e simbolismo e isso que estamos fazendo aqui”
.
Oito horas no acampamento Moro: impeachment e liberalismo em tempo integral
Escrito por
em
Adquira nossas publicações
texto asjjsa akskalsa
Comentários
Uma resposta para “Oito horas no acampamento Moro: impeachment e liberalismo em tempo integral”
-
O “Acampamento Patriota Sérgio Moro” no Parcão http://t.co/lepK18LRBe iniciou em 18/3/2016 com brasileiros patriotas, honestos e trabalhadores do qual é exemplo José Luis Lemos Simões, médico anestesista. Desde então, quando não está trabalhando, sempre está no Acampamento.
Veja a diferença do acampamento patriota, gente trabalhadora, cada um custeando suas despesas, comparando aos… Militontos com dissonância cognitiva e no limite da esquizofrenia: fingem estar tudo bem, prestam-se a apoiar o governo terrorista do crime organizado comparecendo para ganharem pão com mortadela e R$ 30,00.
Notastes? Começou com Trinta… Não foram também 30 as moedas de Judas?
A dissonância cognitiva é induzida pela manipulação psicoPaTa criando uma esquizofrenia: eles simplesmente não tem noção da realidade, sua percepção do mundo é fantasiosa e idolatram os piores bandidos do mundo Por isso, essa categoria insana foi denominada de psicoPaTetas na TgpT pelo Professor Padilla. Saiba mais no Portal de Conscientização ou no Blog: http://bit.ly/desumanos
Construa 1 MMM – um Mundo Muito Melhor – simplesmente aprendendo a reconhecer as armadilhas ambulantes preveninco e evitando a manipulação dissimulada http://bit.ly/perigosos
Colabore para ampliar a Rede de Conscientização. Provavelmente, esse tempo será um dos melhores investimentos da sua vida! Colherá um futuro melhor!
Em 15/3/2016, iniciou com as históricas capas de mais de 30 principais jornais: o povo acordou e quer o fim do governo psicoPaTa terrorista do crime organizado! O registro das manchetes históricas e o áudio do planejamento da nomeação como ministro para obstruir a Justiça. Tudo em http://padilla-luiz.blogspot.com/2016/03/povo-acorda-do-torpor.html
Deixe um comentário