Num período cheio de comemorações de façanhas – A Semana Farroupilha – um livro vem acrescentar uma polêmica no tema ‘a origem do gaúcho’. Ao contrário do que proclama o senso comum, sua origem não é na Argentina e sim em terras uruguaias e do Rio Grande do Sul. A tese é do embaixador Fernando Cacciatore e o lançamento do livro será na próxima terça-feira, 19/09, às 19h30, na Pinacoteca Rubem Berta. A obra, editada pela Buenas Ideias, é acompanhada de ilustrações de Bruno Junges e prefácio de Eduardo Bueno, o “Peninha”.
Embasado em documentos e citações, o autor da obra coloca o gaúcho no que ele considera o seu verdadeiro contexto histórico e conclui que este nasceu não na Argentina, mas sim nas terras entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai. Ele sustenta também que a palavra “gaúcho” partiu do Brasil e se difundiu para o Prata.
Pensamento argentino
O autor revisou grande parte da literatura disponível sobre o gaúcho no Uruguai, na Argentina e no Rio Grande do Sul e, neste processo, se deu conta da pesada influência do pensamento argentino na visão que os rio-grandenses têm deles mesmos, porque sua história foi escrita segundo parâmetros argentinos. “O escritor uruguaio Fernando Assunção aprofundou muito a minha visão rio-grandense, mas eu fui além quando coloquei o berço do gaúcho na faixa que vai do Rio Cebolati, que desemboca na Lagoa Mirim à Serra do Caverá, sobre os campos do Jarau e do Quaraí”, comenta Cacciatore.
Segundo ele, nessa região se concentravam muitos gaúchos e foi ali que se condensou esta cultura, pois eles usavam os mesmos trajes, tinham os mesmos costumes, hábitos, jeito de falar e modos.
Já o registro mais antigo que se tem da palavra “gaúcho” é o texto em espanhol de Pablo Carbonell, comandante de Maldonado, direcionado a Juan José Vertiz, governador de Buenos Aires, em 1771. Escreveu que “tinha notícia de alguns gahuchos vistos na Serra”. O autor chama atenção para a pronúncia espanhola de haver então um hiato, “aú”, tal como em português. Ele mostra que a palavra “gaúcho” passou a ser usada na Argentina apenas entre 1806 – 1810 e que designava uma classe social pobre, de camponeses perseguidos pelas autoridades coloniais portenhas e montados a cavalo.
Um fora da lei
Para Cacciatore, o gaúcho de Buenos Aires não é o gaúcho que temos aqui. “O nosso gaúcho vem do livre e sem rei, gaúcho da campanha e que historicamente em 1875 deixa de ser livre por causa dos arames farpados”, pontua. No início, o gaúcho não era valorizado, era considerado um fora da lei e esse reconhecimento começou com Dona Leopoldina, que fez seu marido D. Pedro vestir um poncho na coroação, em 1822. Um imperador de todos os povos, culturas, raças e etnias, valorizando a identidade do brasileiro.
“A imperatriz era divulgadora das ideias do iluminismo, de liberdade e este movimento também esteve presente na criação da Escola de Belas Artes de 1816, hoje Escola Nacional de Belas Artes”, esclarece o autor. Para ele, a escola acabou com resquícios medievais na arte brasileira e também da posição do artista na sociedade, deu identidade aos brasileiros, igualou a arte do Brasil à arte da Europa.
A valorização do gaúcho, descrita no livro, continuou com José de Alencar, encaminhou-se com o trabalho do Partenon Literário de Porto Alegre, sobretudo Caldre e Fião e Apolinário Porto-Alegre, seguido de Simões Lopes Neto. “O gaúcho atual foi sendo construído pelos literatos da cidade”, conclui Cacciatore.
Faca nos dentes
Nessa formação ele também cita o papel importante de Oswaldo Aranha, que manifestava as qualidades do “gaúcho”; Erico Verissimo, com a publicação de O Continente, de valor internacional, e Paixão Cortes que, com seus colegas do Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, fundou o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) em 1947.
“Isso resultou na identidade do gaúcho hoje, no orgulho que nos dá em dizer o que somos, em tomar nosso mate nas tardes no Parcão e de montar verdadeiras ‘operetas guascas’ nos CTGs, para engrandecer Anita e Garibaldi”, finaliza Cacciatore que para tanto, segundo Eduardo Bueno: “…despiu-se das vestes da diplomacia, arregaçou as mangas e mandou às favas a polidez. Com o propósito de decifrar a esfinge – e cutucar o centauro –, entrou de cabeça na luta, com uma faca entre os dentes. Faca verbal, bem dito…”.
Sobre o autor: Fernando Cacciatore é um diplomata brasileiro, nascido em Porto Alegre em 1944. Foi diplomata nas Embaixadas do Brasil em Londres, Bagkok, Bonn, Nova Délhi, Caracas e Berlim. Desde 2006 vive em sua cidade natal e se dedica a escrever. É autor de Fronteira Iluminada – História do Povoamento, Conquista e Limites do Rio Grande do Sul, a partir do Tratado de Tordesilhas – 1420-1920, Como escrever a história do Brasil: miséria e grandeza e O Ritual dos Pastores e A arquitetura neoclássica em Porto Alegre.
SERVIÇO
Lançamento e sessão de autógrafos do livro A Origem do Gaúcho e Outros Ensaios, de Fernando Cacciatore
(editora Buenas Ideias, 128 páginas, R$ 50,00).
Terça-feira, 19 de setembro, às 19h30. Onde: Pinacoteca Rubem Berta ( Rua Duque de Caxias – 973. Centro Histórico)
Origem do gaúcho é em terras do Uruguai e do Rio Grande do sul, aponta livro de Fernando Cacciatore
Escrito por
em
Adquira nossas publicações
texto asjjsa akskalsa
Comentários
Uma resposta para “Origem do gaúcho é em terras do Uruguai e do Rio Grande do sul, aponta livro de Fernando Cacciatore”
-
orgulho de ser brasileiro!
Deixe um comentário